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terça-feira, 15 DE outubro DE 2024

Quais os limites da fama para a igreja?

Cultura da celebridade, limites da fama e influenciadores cristãos são abordados em novo livro de Autora Katelyn Beaty:
Cultura da celebridade, limites da fama e influenciadores cristãos são abordados em novo livro de Autora Katelyn Beaty: "Fama, Dinheiro e Influência" (Foto: Reprodução)

A autora Ketelyn Beaty adverte sobre a igreja a ter uma visão responsavél sobre as celebridades evangélicas, no livro “Fama, Dinheiro e Influência”

Por Carolina Leão

Admirar e dar honra a uma personalidade não é, necessariamente, ruim na perspectiva evangélica. Mas um dos desafios da igreja contemporânea está em não ultrapassar os limites de uma visão saudável e responsável ao acompanhar cristãos famosos na internet. Pensando nessa ideia, a autora Katelyn Beaty reflete sobre a cultura da celebridade em seu o livro “Fama, Dinheiro e Influência”, um lançamento da editora Mundo Cristão aguardado para fevereiro, com o objetivo de orientar os cristãos enquanto a visibilidade digital ganha cada vez mais força.

Cristãos famosos já existiam antes da geração atual. “Foram um elemento constante em minha adolescência”, escreve a autora, se referindo ao final da década de 1990. “Depois que comecei a andar com Cristo, conheci músicos, palestrantes, pastores e autores que dariam forma a minha fé durante seu desenvolvimento”, revela Beaty, nas primeiras páginas do livro, ao reconhecer a importância dessas personalidades.

A fama no meio evangélico não é, portanto, uma novidade inerente só à nova geração. “Em todas as eras, houve indivíduos cujo cargo, realizações ou poder político talvez tenha levado seu nome muito além de uma só época e um só lugar”, defende a obra.

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E utilizar os artefatos que o contexto cultural de cada época permite também é algo positivo e que sempre aconteceu. “Qualquer que seja a abordagem usada para a desajeitada história do evangelicalismo, encontraremos um movimento espiritual de cristãos que compartilham o evangelho recorrendo as ferramentas que encontram a seu dispor em um contexto cultural especifico”, enfatiza a autora no livro.

Por exemplo, conforme destaca a narrativa, o apóstolo Paulo usou as ferramentas da razão e da filosofia para compartilhar o evangelho no âmbito público do Areópago.

Mas é bem verdade que os recursos digitais a nossa mão têm gerado novas preocupações, de maneira que se torna algo central na problematização do livro. “Ao longo da última década, as redes sociais democratizaram o acesso à celebridade ao darem a seus usuários as ferramentas necessárias para projetar sua imagem a incontáveis seguidores, muitas vezes com resultados lucrativos”. (Fama, Dinheiro, e Influência, página 17).

Os limites saudáveis da fama

Livro "Fama, Dinheiro e Influência" será lançado em fevereiro pela Mundo Cristão (Foto: Divulgação)
Livro “Fama, Dinheiro e Influência” será lançado em fevereiro pela Mundo Cristão (Foto: Divulgação)

O livro “Fama, Dinheiro e Influência” reconhece que, de fato, muitos cristãos usam sua fama e seus conhecimentos de tecnologia para bons propósitos do reino, compartilhando o evangelho por meio da mídia e isso é bom. “Vários cristãos famosos, tanto quanto podemos perceber (uma vez que não conhecemos a vida interior deles), usam com integridade essas extensas plataformas”, destaca a autora no decorrer da obra.

A fama, em si, não é necessariamente pecaminosa. “A fama é ligada a nosso desejo humano inato de criar algo que vá além de nós mesmos e que abençoe ou inspire gerações futuras”, defende a narrativa. “Não devemos supor que os famosos, entre eles famosos cristãos, são inerentemente superficiais e sedentos por poder”, orienta.

Katelyn Beaty chama atenção para o fato de que, para essas pessoas, a celebridade é apenas uma ferramenta para construir a casa de Deus, e não a casa em si. Uma característica importante que ela ressalta é que os famosos que têm essa visão mostram-se dispostos a abrir mão de sua fama ou de seu prestígio caso deixe de cumprir os propósitos centrais do reino.

“Pessoas virtuosas não se apegam a nenhuma aclamação que porventura recebam. Compartilham poder em vez de acumulá-lo. Para pessoas virtuosas, fama — e qualquer prestígio ou riqueza que a acompanhe — não é o principal”. (Fama, Dinheiro, e Influência, página 17).

Todavia, nem sempre é assim. “Outros cristãos, porém, se apropriaram da ferramenta da celebridade e descobriram que, na verdade, não é uma ferramenta. Tem muito mais poder sobre quem a usa do que o contrário. É, na realidade, um animal selvagem matreiro, esquivo e insidioso. E agora esse animal selvagem está despedaçando a casa de Deus de dentro para fora”, adverte o livro.

Assim, Katelyn Beaty denuncia a cultura da celebridade: “A celebridade é a prima mais vistosa e ligeiramente irritante da fama. […] A celebridade é um fenômeno distintivamente moderno alimentado pela mídia. Antes disso, sempre tivemos a fama”.

O problema apontado aqui é que a celebridade transforma ícones em ídolos. “É bom e correto enxergar pessoas virtuosas como ícones”. Para Katelyn, eles funcionam como um canal.

Mas um ídolo, em contrapartida, projeta a imagem de algo que não é Deus. “Em vez de ser um canal que volta nosso olhar para o Senhor do universo, o ídolo toma o lugar de Deus como objeto de devoção ou representa valores e mitos que competem com Deus como fonte original de alegria e significado para os seres humanos”, ela diferencia.

Culto às celebridades

Conforme a obra destaca, alguns teóricos associam o culto às celebridades ao declínio da religião institucional no último século. “Hoje, o problema da celebridade na igreja ultrapassou em muito qualquer benefício temporário que ela possa ter oferecido ao longo do caminho”, exorta Beaty.

E muitos cristãos também participam, por vezes, desse culto às celebridades.  “Colocamos celebridades em pedestais e, lá do alto, elas nos influenciam, inspiram, entretêm e exortam”, ela evidencia.

Os problemas gerados por essa prática são cada vez mais alarmantes. “Nossa obsessão com celebridades tem uma séria consequência: ela distorce nossa percepção de outros portadores da imagem divina. Como é típico dos ídolos, essa obsessão cobra um preço humano: solidão e isolamento; tensão na vida familiar e nos relacionamentos mais próximos; pressão para manter as aparências quando a vida pessoal está desmoronando, o que cria uma divisão dentro do próprio eu; perda de privacidade e de solitude”, pontua a autora.

Neste sentido, ela chama atenção para a reflexão sobre o que o cristão está dando lugar em seu coração. “É verdade que a maioria de nós não tem santuários literais para nossos atores, líderes ou influenciadores prediletos. Mas, no recôndito de nosso coração, de nossa atenção e de nossa carteira, a fascinação por celebridades muitas vezes cativa nossa imaginação em medida maior do que a atenção que dedicamos a Deus e a outros portadores de sua imagem”, adverte.

É evidente que, para as gerações mais jovens, é ainda mais atraente a ideia de se tornar “famoso na internet”. Mas, conforme a perspectiva deste livro, o segredo de uma vida bem-sucedida não está em se tornar uma celebridade. “O segredo é este: a maioria de nós realizará sua corrida de forma comum, sem glamour, longe dos holofotes e das telas. […] Gente comum é o principal meio usado por Deus para atuar no mundo e através dele ao longo dos séculos”, rememora a autora.

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