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sexta-feira, 29 março 2024

Prisão de ex-ministro da Educação respinga na Igreja e no povo evangélico

Ex-ministro da Educação Milton Ribeiro

Enquanto o processo contra Milton Ribeiro não é concluído, qual deve ser a postura dos evangélicos?

Por Lilia Barros

A prisão preventiva do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, na manhã de ontem (22), no âmbito da investigação sobre o “gabinete paralelo” instalado na pasta, com favorecimento de pastores na distribuição de verbas, refletiu diretamente na imagem da Igreja e da bancada evangélica, em Brasília.

Uma enxurrada de críticas marcou as últimas 24 horas do noticiário brasileiro, respingando sobre o povo evangélico. De um lado, os que reprovam veementemente a conduta do ex-ministro; de outro, os que pedem cautela, alegando haver indícios de diversas violações de ordem jurídica. Há também os que se esforçam para conscientizar o brasileiro de que a Igreja de Cristo permanece pura e imaculada, independentemente do juízo a ser aplicado a quem quer que seja.

O pastor da Primeira Igreja Presbiteriana Água Viva, em Vitória, capital capixaba, José Ernesto Conti, é um dos muitos que não esperavam por essa prisão.
“Me surpreendeu, pois conheço a idoneidade de Rev. Milton Ribeiro, que nunca nos desapontou em mais de 30 anos de ministério sério e dedicado. Homem que sempre se empenhou em proceder de forma estritamente legal, baseando sua vida nos princípios bíblicos. Mas não há como minimizar o ataque da mídia. Estamos em lados diferentes, temos objetivos diferentes, usamos recursos diferentes e queremos alcançar resultados diferentes. Jesus disse para seus discípulos no Evangelho de João, capítulo 17, que o mundo nos odeia. Logo, pedir ao mundo que alivie ‘a barra’ é o mesmo que pedir para que um vascaíno não mexa com o flamenguista depois de uma derrota do Flamengo por 7 x 0 para o Vasco”, explica.
O pastor Conti acrescenta: “Jesus diz em Mt 18:7: ‘Porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem’. Logo, nem a igreja nem qualquer outra instituição está livre de escândalos. É importante também ressaltar que, seja o Rev. Milton inocente ou culpado, isso será esclarecido em breve. Porém para a mídia, não importa provar se alguém é culpado ou não. O veredito já é dado imediatamente, pela forma como o assunto é tratado. Mas esperar outra coisa da mídia é esperar o impossível”, assevera Ernesto Conti.

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O presidente do Fórum Nacional Evangélico Social e Político no Espírito Santo, pastor Romerito de Oliveira, entende que há indícios de diversas violações de direito de ordem jurídica praticada pelo juízo do caso, inclusive impedindo a defesa do ex-ministro de ter acesso amplo aos elementos de prova já documentados o que, segundo ele, viola o princípio constitucional do devido processo legal, ampla defesa e do contraditório, bem como agride a Súmula 14 do Supremo Tribunal Federal, podendo configurar perseguição política.
Para ele, no que se refere à Igreja de Cristo, nenhuma conduta humana individual é capaz de alterar a essência virtuosa dessa instituição. “Entendo que a mesma é pura, genuína, límpida e sem manchas (pecado), o que significa afirmar que ela é a noiva imaculada de Cristo e, portanto, integra e inconspurcada. Logo, não há conduta humana individual capaz de alterar a essência virtuosa dessa igreja. Por outro lado, essa dignidade imaterial desfrutada pela igreja suscita na sociedade um juízo mais severo contra aqueles que são membros, conforme alertou o apóstolo Paulo a Tiago (Tg 3:1). Essa lógica. por si só. já demonstra biblicamente eventual existência de desigualdade na emissão de juízo exercido pela sociedade e que na prática, sem generalizar, pode ser interpretado como um gesto de pouca tolerância contra esse grupo social (pastores e igrejas). A primeira compreensão que a sociedade precisa ter é distinguir que qualquer conduta individual de alguém que participa de uma igreja não pode ser levada a efeito ao ponto de confundir com a integridade da igreja. A igreja de Cristo permanece magistralmente imaculada”, afirma Romerito.

O envolvimento de nomes de outros pastores da bancada evangélica estaria configurando perseguição política? Para responder, o pastor Ernesto Conti cita uma frase sobre a “mulher de César” que diz que não basta que ela seja honesta: ela precisa parecer honesta. “Sabemos que como ministros evangélicos a cobrança é muito maior, por isso, temos que ter um cuidado muito grande. Há quase quatro anos a mídia tem perseguido o Bolsonaro, sem nunca apresentar uma única prova de desvio de sua conduta. Insisto, sofrer perseguição do mundo é o normal para qualquer evangélico que tem consciência da sua função na sociedade.”

Dois pesos, duas medidas

O mandado de prisão preventiva foi expedido por ordem do juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, e cita supostos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência. A Polícia Federal informou que, com base em documentos, depoimentos e relatório de investigação preliminar da Controladoria-Geral da União, ‘foram identificados possíveis indícios de prática criminosa para a liberação das verbas públicas’.

O magistrado determinou que, assim que a ordem fosse cumprida, o ex-ministro fosse levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Ribeiro foi localizado em Santos (SP). A audiência de custódia está prevista para esta quinta-feira, 23.
Entre os alvos das buscas estão o próprio Milton Ribeiro e os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos – dupla que está no centro do esquema sob suspeita. O juízo da 15ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal também deferiu medida cautelar de proibição de contatos entre os investigados e envolvidos.

Romerito alerta que “é preciso cautela, serenidade e equilíbrio para entender o que está nas entrelinhas desse procedimento espetaculoso e, diga-se de passagem, com vários indícios violadores de garantias constitucionais e do devido processo legal como, por exemplo, a alegação da defesa de que o Juízo negou vista aos autos, comprometendo a defesa técnica e infringindo as prerrogativas do advogado. A Ordem dos Advogados do Brasil precisa ser acionada nessa questão. A audiência de custódia é meramente formalidade para se verificar a legalidade da prisão e da necessidade de sua conversão em prisão preventiva; logo, desnecessária a transferência do ex-ministro para Brasília pois, além do alto custo do procedimento para o Erário público, a audiência virtual já é praxe no Judiciário brasileiro. E por que não está sendo oportunizada? É preciso muita cautela e sensatez na interpretação do caso concreto”.
Romerito acrescenta que a mídia não tem sido imparcial. “Quando Lula foi julgado e condenado. a mídia não repercutiu da mesma forma. Há dois pesos e duas medidas, sempre que o assunto envolve uma liderança evangélica”, disse Romerito.

Enquanto o processo contra Milton Ribeiro não é concluído, qual deve ser a postura da Igreja? “A igreja deve ser prudente. Devemos dar apoio ao Rev. Milton, como devemos dar apoio a qualquer um, mesmo que erre em suas atitudes, porém aguardar o resultado final. Se ele for culpado, deverá pagar por seu crime. Se for absolvido, devemos nos alegrar. O conselho de Paulo à Igreja de Filipos continua atual até hoje: ‘Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo’”, conclui Ernesto Conti.

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