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segunda-feira, 7 DE outubro DE 2024

Por que eu me casei?

O amor romântico como fonte da felicidade pessoal pode se transformar em um cativeiro para os cônjuges que se casaram com esta única finalidade

Por Lilia Barros

A imagem construída em torno do amor romântico como única razão para o casamento pode variar muito de acordo com a cultura. Nas sociedades ocidentais, o amor costuma ser apresentado por meio do clichê de duas metades que se encontram para se sentirem completas. É comum o amor romântico ser visto como a mais importante fonte de amor, e esse discurso é repetido com frequência no cinema e nas redes sociais. Mas até que ponto vale a pena gastar tempo e energia demais procurando um parceiro romântico e acabar negligenciando outros tipos de relacionamento baseado no amor? Por que as pessoas se casam interessadas em ser amadas para serem finalmente felizes?

O pastor presbiteriano e apologista cristão Tim Keller, cofundador e presidente da instituição “Redentor de cidade em cidade” treina pastores para o serviço em todo o mundo e afirmou que “A igreja cristã precisa recuperar a noção pactual do casamento e libertá-lo do cativeiro romântico. Eu não casei para ser feliz, mas para ser adulto e para cuidar e amar uma mulher e filhos. Minha fome por felicidade será suprida na eternidade”.

A especialista em relacionamentos e pesquisadora da Universidade de Oxford Anna Machin vai mais longe. “Não precisamos do amor romântico em nossas vidas”. Ela passou mais de 20 anos de sua carreira tentando desvendar as diferentes formas de amar. “O amor romântico pode trazer momentos maravilhosos, é verdade. Mas há períodos difíceis também e há pessoas que simplesmente não encontrarão alguém para viver essa experiência ou que sequer querem passar por isso. Essa importância excessiva que damos ao amor romântico pode criar ideia falsa de que todos precisam de parceiro românico ou de relacionamento de contos de fadas, trazendo decepções”.

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Em seu livro, Machin define o amor romântico como uma construção social. “Faríamos um grande favor às crianças e jovens se passássemos a ser mais realistas sobre o que é o amor romântico de verdade, porque precisamos recalibrar o espaço ocupado por ele em nossas vidas”. Segundo ela, até meados do século 18, os seres humanos cultivavam apenas o que os cientistas chamam de amor reprodutivo. “Só passamos a chamá-lo de amor romântico quando, por volta do século 18, poetas decidiram romantizá-lo e as ideias de amor romântico que conhecemos hoje começaram a ser formadas na literatura”, diz a especialista.

O amor é também sustentado por um conjunto de neuroquímicos como a ocitocina, a dopamina, a serotonina e a beta endorfina que nos fazem desejar estar com a pessoa que amamos. Há ainda componentes sociais e pessoais que definem as razões por que amamos. Nem todos experimentamos o amor da mesma maneira ou desejamos alcançá-lo pelos menos motivos, e o local onde nascemos, a forma como fomos criados e até nossa genética podem influenciar nossas escolhas.

“Popularmente dizemos que o amor é uma emoção, mas na realidade é algo muito mais complexo do que isso”, diz a pesquisadora de Oxford, que usou análises genéticas, de imagens cerebrais e neuroquímicos, além de extensas entrevistas, para elaborar sua tese. Segundo ela, a supervalorização do amor romântico – aquele entre dois parceiros ou manifestado por meio da atração emocional por outra pessoa – pode nos fazer esquecer o quão importante são os demais tipos de amor.

Machin lançou em fevereiro deste ano o livro ‘Porque amamos: a nova ciência por trás dos relacionamentos mais próximos’, no qual discute as muitas razões que levam o ser-humano a amar. A afeição entre parceiros é apenas uma delas, mas há também o amor entre amigos, pais e filhos e até o amor ao sagrado.

Há 50 anos na China o conceito de encontrar uma alma gêmea era completamente desconhecido. Hoje em dia, os mais jovens falam e conhecem mais o amor romântico, porque foram expostos à filmes e outros materiais produzidos no mundo ocidental.

 

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