O aumento dos divórcios entre casais mais velhos levanta questões que vão além das relações pessoais
Por Patrícia Esteves
Nos últimos anos, um fenômeno vem ganhando atenção é o aumento dos chamados “divórcios grisalhos”. Esse termo, que descreve a separação de casais com mais de 50 anos, tem se tornado cada vez mais comum, o que levou especialistas a investigar as causas dessa tendência crescente.
Casais que, após décadas juntos, decidem seguir caminhos diferentes, desafiando a ideia de que as separações só acontecem em fases mais jovens da vida. Esses divórcios estão diretamente ligados ao envelhecimento da população e à mudança nas dinâmicas sociais, oferecendo um olhar sobre as transformações no comportamento humano, no casamento e nas expectativas de vida.
O conceito de “divórcio grisalho” não é novo, mas ganhou relevância nas últimas décadas. Introduzido pela Associação Americana de Aposentados em 2004, o termo foi popularizado por estudiosos, como os pesquisadores da Bowling Green State University, que alertaram para uma “revolução cinzenta do divórcio” em 2012.
Dados recentes indicam que esse fenômeno já representa uma parcela significativa das separações no ocidente. Nos Estados Unidos, a taxa de divórcios entre pessoas acima de 50 anos mais que dobrou em apenas 20 anos. Em 2010, cerca de 25% dos divórcios eram considerados “divórcios grisalhos”, e esse número segue crescendo, apesar de algumas flutuações após a pandemia.
Expectativa de vida contribui
O impacto do envelhecimento da população é um fator central nesse processo. Com a expectativa de vida aumentando, muitas pessoas se veem diante de uma realidade: anos adicionais para viver e novas oportunidades para explorar, incluindo novas fases nos relacionamentos.
Para muitos, o casamento, que foi uma experiência válida e significativa por várias décadas, já não atende mais às suas necessidades. A vitalidade física e mental melhorada em pessoas acima de 60 anos tem contribuído para que considerem o divórcio como uma oportunidade para uma nova vida, com mais qualidade de vida e felicidade.
Um dado relevante é o aumento de divórcios entre casais com mais de 65 anos. Estudo realizado pela Universidade de Haifa, de Israel, apontou que, em sociedades ocidentais, até mesmo em culturas mais familiares, o número de separações entre idosos tem crescido. A mudança nas expectativas de vida e as novas condições de saúde têm levado essas pessoas a buscarem novas possibilidades para o futuro.

Decisão não é repentina
Esses divórcios não acontecem de maneira repentina. Pesquisas indicam que, muitas vezes, eles são o resultado de um longo período de convivência com uma distância emocional crescente. Fatores como infidelidade, dificuldades financeiras e a falta de comunicação eficaz contribuem para que o relacionamento chegue ao fim. Para muitos, a separação chega após uma fase de desgastes emocionais, sendo um processo que envolve reflexão e busca por uma nova etapa de vida.
Outro aspecto é o fenômeno dos “segundos divórcios grisalhos”, quando os indivíduos, após se separarem, decidem se casar novamente. Segundo estudos da Bowling Green State University, uma parte significativa desses indivíduos que se divorcia se casa novamente com pessoas que também passaram por uma experiência similar. No entanto, essa busca por uma segunda chance no amor traz à tona questões sobre os desafios emocionais e sociais dessa fase da vida.
Entender o fenômeno dos “divórcios grisalhos” vai além de discutir separações pessoais. Trata-se de um reflexo das mudanças profundas nas estruturas sociais e familiares contemporâneas. Como alertam os estudiosos, embora muitas pessoas acima de 50 anos optem por essa separação, as consequências sociais e emocionais desse fenômeno ainda são pouco compreendidas, o que destaca a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre o impacto desse fenômeno nas famílias e nas comunidades.