Da mesma maneira que empresas, igrejas também precisam de diretrizes para alcançar seus objetivos e cumprir seu papel
Por Ivy Coutinho
Embora sejam instituições sem fins lucrativos, as igrejas possuem estruturas organizacionais bem parecidas com as de uma empresa. E da mesma forma que as corporações convencionais, elas precisam planejar suas atividades, definindo metas, escolhendo métodos para obtenção de recursos e as optando pelas melhores maneiras de utilizá-los.
A partir do momento em que é adotado um exercício estratégico, gera-se a chance do constante desenvolvimento. Assim, também é possível rever a realidade organizacional, de modo que a administração consiga fazer a adequada leitura do papel exercido pela igreja na sociedade.
Com um novo ano começando, nada melhor do que estabelecer os objetivos para este ciclo que se inicia. Para o Pr. Almir Scheidegger, da Igreja Batista, uma correta articulação traz ordenamento, direcionamento e prazos, além de dar ciência aos integrantes sobre o seu papel e sua importância no grupo.
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“O efeito é visível nas instituições que o aplicam. O planejamento não pode ser entendido como algo estático, mas como um processo contínuo e dinâmico. Não pode ser um simples documento com um plano e cronogramas. Desde o princípio, Deus demonstra a relevância do planejamento.
Em Gênesis, capítulo 1, observamos que Ele criou os céus e a terra, a luz, separando o dia e a noite. Também inventou as plantas, as árvores, o Sol, a Lua, as estrelas, as aves, os animais aquáticos, os rebanhos domésticos, os animais selvagens, e depois criou o homem.
Observem que existe uma lógica, uma organização, uma coerêcia, algo que falta muito no desenvolvimento das atividades que praticamos. Quando planejamos, usamos os recursos disponíveis de forma eficiente, aumentando a produtividade da instituição. A Bíblia nos orienta que devemos viver como bons mordomos, administrando bem aquilo que é do Senhor”, explica.
No entendimento do Pr. Sócrates Oliveira, as congregações necessitam sempre fazer esse estudo prévio sobre suas ações. “A igreja é uma entidade religiosa com características de uma empresa e que tem caráter jurídico, por isso deve ser gerida com excelência. Ela deve fazer e desenvolver um planejamento cuidadoso, tendo um profissional da área de gestão para cuidar do setor”, avalia.
De acordo com o e presidente da Servindo aos Pastores e Líderes (Sepal), o Pr. Josué Campanhã, a não observância desses cuidados atrai a mesmice e o conformismo, o que gera a estagnação.
“Uma igreja pode viver 30 anos do mesmo jeito sem estar incomodada. A ordem de Deus quando colocou o homem no mundo não era para estagnação, mas para o crescimento. Também não era para o conformismo, mas para a administração. Para crescer, multiplicar e cuidar do mundo que Deus nos confiou, é preciso planejar. Para alcançar as pessoas e administrar a Igreja que Jesus nos confiou, é necessário planejamento”.
O planejamento, aliás, é a espinha dorsal de um empreendedor, seja ele um religioso ou não, reforça o Pr. Ivonildo Teixeira. “Um líder que prima por um planejamento revela ser alguém inteligente e diferenciado. O plano ajuda a envolver e a motivar as pessoas e até revela onde estão os erros”, ensina. Tais procedimentos, completa ele, levam em conta questões como custos, segurança, prazo, qualidade e desempenho, idealizando o futuro da igreja e a forma como serão utilizados os recursos disponíveis para que as metas sejam atingidas. Pensar antes de fazer: esse é o segredo!
Vantagens
Ainda que não almejem lucro, as igrejas precisam desenvolver sua estrutura administrativa com visão empresarial. A implantação do planejamento estratégico como uma ferramenta orientadora na condução das atividades trará diversas vantagens, como a busca do cumprimento da missão da organização e da realização dos valores e dos princípios que a regem em termos de gestão e finanças, a criação de informações para a tomada de decisões com respaldo técnico, a melhor utilização dos recursos disponíveis e o desenvolvimento de condições aprimoradas para mensurar seus resultados.
O Pr. Almir ressalta que as congregações devem idealizar indicadores para poder gerenciá-las. “Números financeiros, da membresia, de conversão, de reconciliação, de batismo… Se não os acompanhamos, não podemos dizer que controlamos. O que não pode ser medido não pode ser melhorado! O que não é controlado não pode ser gerenciado e, se não controlamos ou gerenciamos, não estamos sendo bons mordomos.
Peter Drucker ensina que é preciso ‘preparar-se para o inevitável, prevenindo o indesejável e controlando o que for controlável’. As instituições enfrentam mudanças externas, que afetam o seu futuro. À medida que encaramos essas incertezas, nos deparamos com dilemas, que são resolvidos quando aplicamos o Planejamento de Cenários. Nesse modelo de planejamento, ordenamos nossa percepção sobre ambiente futuro e consideramos alternativas variáveis para a tomada de decisão, levando em conta planos A, B e C. Posso dizer que o nosso Deus foi o Criador dessa ferramenta.
Quando Ele criou o homem e o colocou no jardim do Éden, já havia considerado a possibilidade de não sermos obedientes à Sua orientação de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem ou do mal. Quando algo que foi planejado não saiu conforme desejado, nosso Deus não coçou a cabeça e pensou: ‘E agora, o que faço?’. Na criação, já estavam o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A Trindade já estava preparada e já havia feito planos para enfrentar qualquer variável. Para a desobediência, o Criador enviou Jesus para nos resgatar do pecado. E para nos consolar enviou o Espírito Santo”.
O Pr. Josué frisa que a missão e a visão são o carro-chefe de um planejamento. “Sem isso, objetivos e planos de ação serão como blocos de gelo soltos, flutuando no oceano de um lado para o outro e derretendo. Uma igreja deve perguntar para Deus o que Ele deseja fazer por meio dela nos próximos anos. A visão da igreja não pode estar dissociada de pessoas, afinal foi para isso que Jesus a criou. Depois disso, vêm os planos, que são a forma como a missão e a visão serão concretizadas”.
Igrejas em ação
Diretor do Instituto Rhema de Ensino, o Pr. Marcelo Barboza conta que sua igreja se planeja anualmente. “Todo ano, os cargos são colocados à disposição para que sejam feitas avaliações e mudanças necessárias. Realizo uma reunião com as lideranças dos departamentos para traçarmos as novas metas. Com minha experiência, percebo que, quanto mais tempo se gasta no planejamento, menos tempo se consome corrigindo erros. Planeje, execute e comemore. ‘O trabalho da sua alma, Ele verá e ficará satisfeito’ (Isaías 53:11)”.
A Igreja Metodista Wesleyana também adota processos. O Pr. Gedson Alves Corrêa, superintendente distrital da IMW Central de Vila Velha, informa que sua denominação possui o Conselho Local, responsável por aprovar planos de trabalho e coordenar as atividades. “Esse Conselho discute, avalia e sugere novas estratégias. As coisas de Deus não podem ser feitas de qualquer maneira”.
O Pr. Josué Campanhã conclui dizendo que “Deus deu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres para capacitarem os santos, para que eles trabalhem e a igreja cresça. “Se a igreja não cresce é porque talvez os santos não estejam trabalhando. Se os santos não estão trabalhando é porque talvez não estejam sendo capacitados. Se não estão sendo capacitados é porque os pastores e líderes não estão exercendo seu papel. Então, sonhem, planejem, treinem e deleguem. Sua igreja será bem melhor assim”.
O passo a passo da implantação do planejamento
- Crie uma estrutura organizacional
A administração da igreja deve fazer um organograma que divida a organização nos níveis tático, operacional e estratégico. Você vai ver como só esse passo já garante uma nova dinâmica aos processos. - Estabeleça missão, visão e valores
De acordo com a inspiração de criação, o carisma e a própria visão dos membros, a igreja deve definir a razão existencial da instituição, sua missão como igreja, sua visão sobre o mundo e, principalmente, os valores que serão pregados para seus membros. - Analise o ambiente externo
Nessa hora é preciso fazer uma análise crítica a respeito do funcionamento das outras igrejas para observar como elas estão estruturando sua administração, de modo que você possa aprender lições sobre o que fazer e o que não fazer. - Avalie o ambiente interno
Faça um estudo mais aprofundando sobre sua própria igreja e seus membros, avaliando como eles colaboram e participam, qual é o público-alvo que a instituição pretende atingir, qual a real capacidade financeira da igreja e se há muitas possibilidades de captar recursos. - Determine objetivos
À medida que a igreja se organiza e se estrutura, precisa definir metas, tanto no aspecto organizacional e financeiro, como no aspecto espiritual, a fim de conseguir suprir as carências detectadas nas análises prévias. - Crie planos de ação
Deve-se criar, para cada objetivo estabelecido, planos de ação para viabilizar a realização do que foi planejado. Nesse momento, é preciso designar uma pessoa responsável para montar a equipe e que será incumbida por sua execução. - Cuide do acompanhamento
Para que o planejamento estratégico e os planos de ação criados tenham o efeito desejado, é importante que sejam realizadas reuniões de avaliação. Assim, caso seja preciso, defina novas ações ou corrija algum erro detectado o mais rapidamente possível, de modo a não prejudicar o andamento das propostas. Lembre-se de que trabalhar com previsibilidade é o primeiro grande passo para o sucesso!
A matéria acima é uma republicação da Revista Comunhão, da edição 220, Dezembro de 2015. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.