Entrar no mercado de trabalho ficou mais caro, e muitos jovens estão desistindo antes mesmo de começar
Por Patrícia Esteves
Começar um novo emprego deveria ser um momento de celebração, mas para muitos jovens, tem se tornado um grande desafio. Não se trata apenas de conquistar uma vaga, mas de conseguir arcar com os custos iniciais, como transporte, vestuário adequado e até mesmo alimentação nos primeiros dias. Uma pesquisa recente no Reino Unido revelou que um em cada dez jovens da Geração Z tem recusado ofertas de trabalho porque simplesmente não pode pagar pelo começo da jornada profissional.
O peso financeiro da entrada no mercado
A transição para o mundo do trabalho sempre trouxe desafios, mas a alta no custo de vida intensificou ainda mais esse processo. Segundo o NatWest Youth Index 2024, do Prince’s Trust, mais da metade dos jovens entrevistados teme nunca alcançar estabilidade financeira. Além disso, o estresse relacionado ao dinheiro tem afetado diretamente a saúde mental da nova geração.
Entre os entrevistados, 40% relataram problemas emocionais e um terço acredita que isso pode impedir o progresso profissional. Para alguns, a ansiedade e o medo do futuro são tão intensos que 18% dos jovens se sentem sobrecarregados demais para sequer enviar um currículo, enquanto 12% não conseguem lidar com entrevistas de emprego.
A busca por equilíbrio e propósito
Mesmo aqueles que já ingressaram no mercado adotam uma postura mais cautelosa. Um levantamento realizado em 2023 nos Estados Unidos mostrou que 62% dos jovens profissionais preferem permanecer em seus empregos atuais, enquanto 57% levam em consideração o equilíbrio entre vida pessoal e profissional ao decidir sobre uma promoção. Esse comportamento, chamado de “ambição silenciosa”, reflete um desejo de preservar a saúde mental e evitar a pressão dos cargos mais altos.
Essa mudança de mentalidade faz sentido quando observamos o impacto do estresse prolongado na vida e no bem-estar geral. Muitos jovens pensam que sacrificar a paz emocional em nome do crescimento profissional pode não valer a pena. Isso levanta questões importantes sobre como a sociedade e as empresas podem tornar o ambiente de trabalho mais acessível e sustentável.

“O excesso de preocupação com estabilidade financeira pode levar ao adoecimento emocional. Quando um jovem se sente pressionado por padrões inatingíveis de sucesso, ele pode entrar em um ciclo de ansiedade e frustração, que prejudica tanto a sua produtividade quanto sua qualidade de vida. É preciso resgatar o propósito do trabalho não como um peso, mas como parte de uma vida equilibrada e significativa”, explica a pastora e psicóloga Anísia Luite Teixeira, da Igreja do Nazareno em Mesquisa, Rio de Janeiro/RJ, que estuda a relação entre saúde mental e trabalho.
A comunidade cristã pode desempenhar um papel fundamental ao acolher e orientar essa nova geração que enfrenta desafios financeiros e emocionais tão significativos. Criar espaços de diálogo sobre finanças nas comunidades e famílias, oferecer suporte emocional e incentivar a sabedoria na construção de uma carreira equilibrada são algumas maneiras de ajudar os jovens a encontrarem segurança no caminho profissional.

