O perdão bíblico não exige a restauração de vínculos prejudiciais. Entenda como equilibrar graça, responsabilidade e proteção emocional
Por Patrícia Esteves
Perdão é um dos conceitos mais profundos e transformadores dentro da fé cristã. No entanto, muitas pessoas enfrentam um dilema: como perdoar sem necessariamente retomar um relacionamento que causou dor? Como equilibrar graça e responsabilidade sem comprometer a própria saúde emocional?
Muitas vezes, o perdão é confundido com a obrigação de restaurar laços rompidos. No entanto, biblicamente, perdoar não significa ignorar o que aconteceu, mas escolher não carregar ressentimento. Em Efésios 4:32, Paulo orienta: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo”. Isso significa que o perdão é um ato de obediência a Deus, mas não exige que a pessoa se exponha novamente a uma relação prejudicial.
“Jesus é o único e o verdadeiro exemplo de perdão bíblico. O perdão de Deus aos homens se materializou em Jesus. A pessoa de Jesus é o exemplo supremo, tanto de auto perdão quanto de perdão ao outro. Portanto, biblicamente perdoar é cancelar uma dívida. No caso de Deus em relação aos homens, Ele perdoou uma dívida impagável ao ter dado Jesus para morrer em favor da salvação do mundo”, o pastor e psicanalista Gilvandro Salles.
Perdão não é confiança automática
“É possível perdoar sem retomar o relacionamento, quando o outro não oferece confiança, isto é, uma amizade sem necessidade de conferir os atos do outro. No caso de quem minimiza seus próprios erros em um momento não terá a confiança do outro”, esclarece o pastor. Isso mostra que perdão e confiança são coisas distintas.
O perdão é uma decisão pessoal e espiritual, mas a confiança, por sua vez, é construída ao longo do tempo com base em atitudes concretas. Quando alguém minimiza os próprios erros ou não demonstra arrependimento genuíno, o outro não tem a obrigação de restabelecer o vínculo.
Como proteger a saúde emocional ao perdoar?
O equilíbrio entre perdão e proteção emocional acontece quando a pessoa compreende que perdoar é um alinhamento com a vontade de Deus, sem que isso signifique tolerar abusos ou manter-se em situações prejudiciais.
“Todo equilíbrio somente ocorrerá na mente da pessoa que entendeu que perdoar é concordar com Deus, ou seja, é dizer que Ele está certo”, afirma o pastor. Esse entendimento permite liberar o coração do peso da mágoa sem comprometer a segurança emocional.
Perdão e limites podem andar juntos?
Jesus ensinou sobre o perdão, mas também demonstrou a importância dos limites. Em Mateus 10:14, Ele orienta os discípulos a se afastarem de lugares onde não são bem recebidos. Isso mostra que perdoar não significa se expor repetidamente a relacionamentos tóxicos ou prejudiciais. Estabelecer limites saudáveis não é falta de perdão, mas um ato de sabedoria.

“Não haverá proteção emocional se o ser humano não entender conscientemente que Deus é o autor do perdão em Jesus”, finaliza pastor Gilvandro.
O perdão verdadeiro libera o coração do peso da amargura, mas não anula a responsabilidade de proteger a própria saúde emocional. A confiança pode ser reconstruída, mas apenas quando há arrependimento e mudança genuína. Enquanto isso, o perdão continua sendo um caminho de liberdade, guiado pelo amor de Deus e pela sabedoria em estabelecer limites.

