A transição da infância para a adolescência tira o sono da maioria dos pais. É nesse período que os filhos podem se encantar pelos atrativos do mundo, esquecendo-se ou relativizando o que aprenderam em casa. Como protegê-los?
Por Lilia Barros
Filhos de pais cristãos crescem na igreja protegidos de tudo que possa ameaçar a sua fé, mas quando chegam à adolescência, muitos querem dar uma espiadinha do lado de fora e tomar suas próprias decisões. Enquanto não chegam nesta fase, os pais fazem de tudo para “blindar” os adolescentes do perigoso estilo secular de vida.
No entanto, qualquer um que já tentou arremessar uma flecha sabe que, mesmo tendo um alvo bem definido, não é nada fácil acertá-lo de primeira. A Bíblia usa a analogia da flecha para comparar os filhos com setas que são colocadas em arcos e lançadas adiante. “Como flechas na mão de um guerreiro, assim são os filhos da mocidade” (Sl 127.4).
Os guerreiros ou arqueiros são os pais, cuja alegria é ver os filhos vencendo na vida, bem longe de tudo que possa ameaçar o seu futuro. E nos preparativos que antecedem o voo da flecha, os pais lutam para mantê-la intacta, física, emocional e espiritualmente, porque não há tristeza maior do que vê-los derrotados por forças externas ao ambiente doméstico. Mas, como evitar isso?
Os pais que ainda têm os filhos pequenos têm tempo de mudar o foco e acertar a mira, mas a tarefa se torna um pouco mais difícil com filhos entre 12 e 18 anos. Com o passar dos anos, essas crianças, já adolescentes, serão enviadas à sociedade, à faculdade, ao campo de trabalho, para transformarem o mundo para melhor e, especialmente, viverem tudo o que aprenderam sobre os ensinamentos cristãos.
O perigo é que, nessa transição, muitos “perdem” a direção e, ao serem lançados ao mundo, acabam entrando numa secularização perigosa, que obscurece o caráter religioso. Podem então passar a relativizar a vivência com Deus, afastar-se da fé e até abandonar de vez os preceitos bíblicos que aprenderam.
Especialistas em educação de filhos sinalizam que não existem fórmulas para proteger da secularização, mas são unânimes em acreditar que os filhos não devem ser abandonados à própria sorte. O pastor Natanael Cardoso Negrão, um dos líderes na Aliança Pró Evangelização da Criança – APEC, garante que esse processo começa na infância.
“O Senhor ordenou aos pais ensinar aos seus filhos a Sua Palavra a fim de confiarem nEle e Lhe obedecerem (Dt 6.4-9) 31.12,12 e Pv 22.6). É um ensino persistente e diário para que, quando chegarem à turbulenta idade da adolescência, permaneçam amando e servindo ao Senhor com alegria”, ele afirma. E acrescenta que não basta levar à Igreja. “O pai e a mãe têm que levar seus filhos a reconhecerem que são pecadores e que a solução para o problema da natureza pecaminosa é o sacrifício que Cristo fez na cruz. E essa responsabilidade e privilégio não é da igreja, é dos pais”.
O Movimento Desperta Déboras existe para incentivar mães e pais a serem intercessores comprometidos em orar para que Deus opere um despertamento espiritual sem precedentes na juventude. A coordenadora estadual, Marli Martins Gomes Filho, reforça a noção de que o primeiro passo para “blindar” os adolescentes da secularização é tomar consciência de que, segundo a Bíblia, a responsabilidade de educar os filhos e zelar por eles é dos pais, e não da igreja. “Quando crianças, escolhemos suas roupas, sapatos, corte de cabelo e tomamos decisões por eles. Mas quando entram na adolescência é comum tomarem decisões diferentes das que gostaríamos que tomassem.”
É proibido!
De volta à analogia do arqueiro, ele precisa ter um braço forte e firme para que a flecha atinja seu alvo. Assim também os pais precisam ser figuras fortes, marcantes, que impõem regras, exercem autoridade e estabelecem limites para que os filhos atinjam o alvo da vida. Isso não significa, porém, impedir que eles cresçam. É preciso respeitar as etapas do amadurecimento, com seus conflitos e necessidades.
Valdir Stephanini, pastor emérito da Primeira Igreja Batista da Serra, é contrário à ideia de colocar os filhos numa redoma com o propósito de protegê-los. “Isso pode ser mais danoso do que benéfico. Não vejo a proibição como o melhor caminho, mas a conscientização, na base do diálogo e no estabelecimento de limites da infância à adolescência. Educar para a autonomia conduz a escolhas que serão feitas por convicção e por amor, não por medo ou pressão. Nada do que fazemos por medo ou por pressão produz frutos saudáveis e duradouros”, argumenta.
Já Marli Martins enxerga a proibição como algo natural em certas fases da vida. “Os pais nunca devem deixar seus filhos pensarem que podem fazer o que quiserem. Eles precisam ter hora para sair e chegar. Precisamos saber com quem eles vão estar, quanto tempo vão demorar e o que vão fazer. Mas claro que a proibição também tem limite; proibir tudo que eles desejam fazer atrapalha seu desenvolvimento. Eles começarão a fugir e fazer escondido”, alerta.
Uma verdade incontestável do Salmo 127 é que as flechas estão nas mãos do guerreiro. Ou seja, o sucesso dos filhos depende muito mais dos pais do que deles. Essa ideia é reforçada pelo pastor Natanael. “Permitir que eles experimentem as atrações do mundo só vai apressar seu afastamento de Deus. Por natureza o ser humano está decaído”, ressalta.
“Blindagem”
Filhos precisam de retidão de caráter, ética, moral. Isso cria um “escudo” invisível de proteção ao seu redor. E o principal referencial deles são os pais. A máxima de um autor desconhecido diz: “O que você faz fala mais alto do que aquilo que você diz”. A Palavra de Deus não muda e se os filhos crescem nos ensinamentos bíblicos jamais ficarão confundidos quanto ao que é certo ou errado, ou quanto ao que devem ou não fazer, porque a ética e a moral reveladas por Deus na Bíblia incorporam-se à alma do cristão.
O pastor Valdir afirma que se a educação visar apenas à autonomia do sujeito, certamente corre-se o risco de ver os filhos inclinarem-se para outros interesses que não aqueles demonstrados pelos pais. “Entretanto, se o Evangelho de Jesus Cristo for vivido e testemunhado no dia a dia pelos pais e mães, em um relacionamento pessoal com Deus, sua semente ficará plantada no coração e no tempo certo dará seus frutos.”
Muitos pais ficam magoados quando os filhos começam a dar seus primeiros “voos” sozinhos. Muitos se sentem culpados, achando que erraram o alvo, que não miraram a flecha corretamente. Marli Martins Gomes Silva indica o remédio para essa situação. “Uma das principais formas de os pais protegerem seus filhos é abençoando-os e dando-lhes uma cobertura constante de oração”.
O secularismo que quase matou Sara
Rebeldia, curiosidade, drogas, sexo, agressão e medo são palavras que definem o tempo em que Sara Keren Ballardinni ficou longe dos caminhos de Deus, por escolha própria. Criada na igreja pelos pais desde a infância, sua trajetória para uma vida secular se transformou em um pesadelo do qual só acordou 12 anos depois, já com 22 anos de idade, quatro filhos, vícios, solidão e um enorme arrependimento. 12 anos longe do Pai
“Aos 13 anos, por rebeldia, eu me desviei de vez, porque queria curtir a vida que eu não conhecia. Fugi da casa dos meus pais para a casa de uma garota, com quem vivi o lesbianismo.
Uma semana depois, retornei para a casa dos meus pais e para a igreja, mas por mera obrigação. Pouco tempo depois, passei a ‘matar’ aulas no colégio porque conheci um rapaz, de quem acabei por engravidar. Morei com ele até nos separarmos, em 2019, e dessa união tive duas filhas. Logo depois me envolvi com uma pessoa que usava drogas e entrei nesse mundo – usei cocaína, maconha, cigarro e bebida alcóolica. Ele era abusivo e quando me ameaçou com um facão, decidi voltar mais uma vez para a casa dos meus pais.
Mas estava grávida novamente e, por medo de ser expulsa, escondi a gravidez até que eles descobriram e minha bebê nasceu. Depois, morei por quatro meses com um homem bem mais velho que eu e tive meu filho mais novo, mas novamente não deu certo e voltei para ficar com minha mãe. Mesmo assim, o dinheiro que eu ganhava no trabalho usava todo em drogas. Entrei em desespero porque perdi a guarda das minhas filhas. Cheguei a negociar meu bebê com uma mulher que tinha dinheiro para eu morar com ela durante a gravidez e ela adotaria o Antony, mas acabou não acontecendo e fui despejada da casa”.
Choque de realidade
“Foi nesse tempo que comecei a ter um choque de realidade porque fiquei sozinha, meus amigos saíram de perto de mim. Certo dia passei em frente a uma igreja e ouvi uma música que dizia” “Quando minha história parecia ter chegado ao fim, a tua graça me alcançou…”. Chorei muito, mas deixei pra lá, achando que era só uma emoçãozinha de momento.
Depois ouvi outra música que dizia “Eu vaguei no mundo lá fora, mas não encontrei o que tenho agora”. Fiquei ouvindo esse refrão no meu celular. Em um certo sábado fui ao culto jovem na igreja do meu avô, que é pastor, e enfrentei uma grande batalha espiritual. Não me lembro a palavra que o pastor pregou, mas na hora do apelo tremi bastante, fiquei sem forças, tonta, me apoiei no banco para levantar e comecei um caminho de volta”.
O retorno
“Meu avô me chamou para morar com ele. Comecei então um discipulado bem de perto, fiz tratamento e me livrei das drogas, dos vícios, das bebidas. Me desliguei totalmente do mundo lá fora, das amizades antigas que me levavam para o caminho errado. Comecei uma nova vida, e há dois meses ganhei a guarda das minhas filhas de volta.
Estou cuidando delas com dedicação, me batizei no dia 14 de novembro, grávida de oito meses, e recebi um milagre enorme, porque o bebê perdeu mais de 1 kg dentro da minha barriga e a médica disse que ele iria ficar na UTI. Mas em tempo recorde ele ganhou 2 kg e nasceu saudável. Moro com meu avô, participo dos cultos na casa dele, entrei para o Ministério Infantil da igreja. Sou grata a Deus pelas misericórdias dele comigo, mesmo sem que eu mereça”.