O ato de perdoar, segundo a Bíblia, gera libertação, porque elimina toda a mágoa e a amargura do coração
Por Patricia Scott
No Novo Testamento, há dois vocábulos gregos que são traduzidos como perdoar: “aphiemi”, que quer dizer deixar de lado, e “apoluo”, que denota libertar, colocar em liberdade. Nesse sentido, fica claro que o perdão gera libertação para aqueles que o praticam. Isso não significa esquecer nem ignorar o problema ou a pessoa.
”Perdoar é conceder remissão de qualquer ofensa ou dívida e desistir de qualquer reivindicação, mesmo aquela que você teria o direito de exercer, mas não exerce porque simplesmente redime pelo perdão”, pontua a pastora Tatiana Capanema, da Igreja Comunhão Com Cristo, em Brasília (DF), acrescentando que, por mais difícil que seja, o perdão não é opcional, mas, sim, um mandamento de Deus (Mateus 6.14,15).
Ela observa que, quando a pessoa não perdoa, acaba doente de corpo, da alma e do espírito. Além disso, descumprir um mandamento sempre traz consequências. ”Jesus disse que não seremos perdoados por Deus, se não liberarmos o perdão”, enfatiza e emenda: “Não perdoar é como se eu quisesse matar a pessoa, mas, em vez de dar o veneno a ela, eu o tomo. Assim, tornamo-nos escravos dessa prisão de amargura”.
Tatiana afirma, ainda, que perdoar não é humano, é divino. Por isso, “só precisamos abrir a torneira, deixar as primeiras gotas de perdão saírem e, logo em seguida, o Espírito Santo completa a obra e faz jorrar águas vivas, limpando e restaurando sua vida, saúde e comunhão com Deus”, conclui a autora do livro Saúde do Reino, da Editora Vida.
Livre da dor
O pastor Rafael Nery explica que optar por não perdoar contradiz a fé cristã. Isso porque “negar o perdão a outra pessoa pode ser considerado, de certa forma, como rejeitar a essência do que Cristo realizou na cruz por nós”. Com essa conduta, “a tendência é que o outro seja visto como inimigo ou adversário”. Em contrapartida, ao perdoar “reconhecemos que o nosso próximo é digno de compaixão, por mais falho que seja”.
Nery ressalta que é importante compreender que o pecado precisa ser enfrentado e superado. “Entendemos que o outro errou não por ser alguém desprezível, mas por fraqueza, por ser humano”. Assim, o perdão se concretiza, geralmente, no estágio final da restauração. “É algo que, por vezes, demanda tempo, visto que envolve a passagem do luto e transformações interiores complexas. A meta é chegar ao ponto em que a cicatriz da ferida permaneça, mas já não cause dor”.
O pastor lembra, ainda, que o perdão cura feridas na alma, corações são reconciliados e barreiras que antes dividiam são derrubadas. “Durante o processo, é natural lidar com mágoas e pensamentos ruins. Perdoar, no entanto, é um ato de obediência a Deus, de empatia, além de ser um presente inestimável para aquele que perdoa”, expõe Nery, que é autor do livro “Famílias Indestrutíveis, da Editora Vida.
Atitude de fé
“Primeiro, o perdão não é um sentimento, é uma decisão e também uma atitude de fé”, observa o pastor Luciano Subirá, no artigo Compreendendo o Perdão. Ele diz, ainda, que o perdão não é por merecimento, logo, “não tenho motivação alguma em minhas emoções a perdoar. Não me alegro por ter sido lesado, mas libero aquele que me lesou, por uma decisão racional”.
De acordo com Subirá, o perdão não flui espontaneamente, ele deve ser gerado no coração. Desse modo, é necessário “crer que Deus é justo e que Ele não nos pede mais do que aquilo que podemos dar. Se Deus nos pediu que perdoássemos, vai nos socorrer dispensando Sua graça no momento em que tivermos uma atitude de perdão”.
Subirá afirma que sem perdão não há cura. E a doença interior só se complica, e a saúde espiritual, emocional e física da pessoa ressentida é seriamente afetada. Assim, Satanás se aproveita da situação, conforme Paulo ensina em 2 Coríntios 2.10,11. “Em outras palavras, ele estava dizendo que, justamente por saber como o diabo age na falta de perdão, é que não podia deixar de perdoar”.
É importante que o crente tenha em mente as palavras de Jesus a Pedro quanto ao perdão: “Então Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18.21,22). Não existe, portanto, limite para o ato de perdoar.