Histórias de fé mostram que o perdão vai além do merecimento e pode ser um caminho para a libertação espiritual
Por Cristiano Stefenoni
A polêmica envolvendo a cantora Baby do Brasil, que pediu para que pessoas vítimas de violência sexual perdoassem seus abusadores, trouxe à tona o debate sobre o verdadeiro perdão. Nas redes sociais, há quem defenda que, dependendo do tipo de erro, perdoar é impossível, pois isso poderia incentivar outros crimes. Mas também existem aqueles que veem o perdão como o único caminho para se libertar do trauma e seguir em frente.
O fato é que a história está repleta de casos de pessoas que perdoaram seus algozes. No dia 8 de novembro de 2024, Tom King, de 72 anos, foi morto ao ser atropelado por Brandon Wellert, de 25 anos. Apesar da dor, a família do aposentado perdoou o motorista e até depôs a seu favor no julgamento, o que foi crucial para que ele não fosse preso.
O pastor da Igreja Missão Praia da Costa, Rogério Breder, conta que sua esposa teve o pai, a mãe, a irmã e o sobrinho assassinados. A tragédia a acompanhou por anos, até que, durante um acampamento, Deus tocou seu coração para que perdoasse aquele que destruiu sua família inteira.
“Como perdoar uma pessoa assim? É natural, normal? Não, é espiritual! Perdoar destravou a vida da minha esposa, o nosso casamento, deu a ela um ministério, uma nova vida e um livro”, conta Breder. Aliás, certa vez, em uma de suas palestras sobre perdão, houve um testemunho poderoso.
O pastor relata que uma jovem havia sido abusada pelo tio por muito tempo. Revoltada com a situação, saiu de casa, tornou-se moradora de rua, usuária de drogas e chegou a ser presa. Ao assistir à palestra sobre perdão, tomou uma atitude inesperada e extremamente difícil.
“Ela viajou até a casa do tio, que não a via há muitos anos. Chegando lá, apontou para ele e disse tudo o que passou por conta dos abusos, mas que, mesmo assim, iria perdoá-lo”, lembra Breder. Segundo ele, esse ato fez com que um enorme peso saísse de suas costas, libertando-a para recomeçar sua vida.
“Não perdoar é como viver com uma âncora nos pés, impedindo de sair do lugar, de prosperar. Por outro lado, o perdão destrava a vida, os ministérios, a família. Perdão não é para quem merece, porque, se merecesse, não seria perdão, mas justiça”, afirma.
No entanto, o pastor reconhece que perdoar, especialmente em casos complexos, não é uma tarefa fácil. Ele cita, por exemplo, a passagem do Pai Nosso, ensinada por Jesus em Mateus 6:12, quando diz: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”, destacando que o perdão ao próximo é um requisito para ser perdoado por Deus.
Breder ressalta ainda que o perdão é um tema tão sério para Deus que, mesmo após a advertência feita na oração-modelo, Cristo continua abordando o assunto nos versículos seguintes:
“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas” (Mateus 6:14-15).
“O perdão não é natural, mas espiritual. Não é para qualquer um, é para o crente. Não é para qualquer momento, é para momentos com Deus. O perdão liberta. Por meio dele, outras pessoas podem ver Jesus em nossa vida”, ressalta o pastor.

