A estátua de cimento tem mais de cinco metros de altura, pesa cerca de uma tonelada e custou R$ 35 mil
Por Patricia Scott
O maior santuário do Brasil dedicado a Lúcifer foi construído na cidade de Gravataí (RS). O local é para rituais de ‘demonolatria’ e práticas de alta magia negra, conforme os princípios da Nova Ordem de Lúcifer na Terra, segundo Mestre Lukas de Bará da Rua, representante da instituição.
A estátua de cimento tem mais de cinco metros de altura, pesa cerca de uma tonelada e custou R$ 35 mil. É importante frisar que, para a construção do santuário, não houve utilização de verba pública.
“Não há o que fazer, porque defendemos a liberdade religiosa. Embora não concordemos, cada um é livre para adorar a quem ou que quiser”, diz o pastor Joarês Mendes de Freitas, emérito da 1ª Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória (ES).
No entanto, ele avalia que “os que adoram o diabo não dependem de um santuário”. Assim, em cada canto do “país há pessoas que estão cultuando o inimigo através de atitudes como mentira, corrupção, violência e outras obras da carne, conforme Gálatas 5.19-21”.
Nesse sentido, o pastor Joarês destaca que há uma crescente degeneração da sociedade inspirada pelo diabo e seus demônios. Ele prega que a Bíblia diz que “o mundo todo está sob o poder do maligno” (1 João 5.19), mas também afirma que “o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo” (1 João 3.8).
Por isso, Joarês pondera que a igreja, assim como cada seguidor de Jesus Cristo, precisa se manter firme no testemunho, além de viver e pregar o Evangelho a tempo e fora de tempo (2 Timóteo 4.2,3). “É missão da igreja condenar o pecado em todas as suas manifestações, mas ao mesmo tempo amar e buscar a restauração do pecador”.
Já o pastor Renato Vargem, da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RS), em rede social, postou: “Quando a gente pensa que nada pior poderá acontecer, eis que acontece”. Ele disse que, “infelizmente, no Brasil, satanás está sendo adorado. Que Deus tenha misericórdia do nosso país”.
Forças malignas
O pastor assembleiano João Antônio de Souza Filho encorajou os cristãos gaúchos a não se preocuparem com o santuário, lembrando que as forças malignas não têm poder contra a Igreja. “Não vai afetar em nada a Igreja. É só mais uma presença dele aqui no nosso estado. E talvez aí esteja a razão de tanto desastre”, comentou o líder, em rede social.
Na visão do pastor, o santuário dedicado a Lúcifer incentivará a Igreja no Rio Grande do Sul a buscar mais o poder de Deus. “Isso vai deixar a Igreja mais forte, mais dinâmica, mais guerreira. Então, não se preocupe com essas manifestações”.
O líder religioso admitiu que haverá fortes opressões espirituais. No entanto, ele citou 1 João 4.4b: “porque aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo”.Então, “não se apavore, isso vai levar a Igreja a orar mais, a buscar mais a Deus, a jejuar e a afiar a sua espada contra as forças inimigas”, finalizou o pastor João Antônio.
Ser celestial
Já o pastor Kenner Terra considera que, para existir um culto a “Lúcifer”, é preciso aceitar que Isaías 14 e Ezequiel 28 se referem a um ser celestial que se rebelou no céu, do qual foi expulso. “Mas, seria isso sustentável?”, perguntou em rede social.
Ele explicou que “Lúcifer” é o termo usado pela tradução da Bíblia para o latim, conhecida como Vulgata (século 4), da expressão hebraica “Helel Ben-Shahar” (Helel, filho da manhã) citada em Isaías 14.12. “Esse termo latino era usado pelos romanos para indicar uma estrela visível nas manhãs mediterrâneas”, frisou o líder da Igreja Batista Betânia, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro.
Entretanto, Kenner expõe que na literatura profética, a expressão hebraica “helel”, por sua vez, foi usada como metáfora da arrogância do rei que seria derrotado. Por isso, em Isaías 14 – como também em Ezequiel 28 – não há referência a anjo ou ser celestial. “Talvez, Isaías pressuponha a narrativa ugarítica da queda de Attar, usada pelo profeta para prever a derrocada do rei babilônico, como o próprio texto já informa”.
Ou seja, Lúcifer originalmente, de acordo com o pastor, não é uma palavra bíblica para se referir a Satanás, mas a tradução latina de um termo hebraico, o qual indica a queda de um rei que se achava imponente (como uma estrela no céu). “Esse tipo de culto e santuário do Rio Grande Sul não tem sustentação etimológica e reproduz leituras alegóricas questionáveis do texto bíblico”.