Os líderes religiosos advertem quanto à necessidade de intensificar o evangelismo e a oração, além do retornar à raiz apostólica e missionária
Por Patricia Scott
Em São Paulo, a “Marcha para Exu” atraiu mais de 150 mil pessoas, conforme estimativa da Polícia Militar, no último domingo, 18 de agosto. Pela segundo ano consecutivo, a capital paulista sediou, na Avenida Paulista, a homenagem e a divulgação do orixá, figura importante em religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, mas visto como um demônio pelo Cristianismo.
Jonathan Pires, idealizador do evento, pediu que os participantes se vestissem com as cores vermelha e preta, associadas a Exu, e fizessem doações de alimentos. A divulgação do evento destacou a frase: “Nunca foi sorte, sempre foi macumba.” Cabe destacar que, de acordo com ele, a iniciativa não contou com recursos públicos.
O pastor João Gomes Rodrigues faz um paralelo com a Idade Média, quando qualquer forma de religião divergente era reprimida e seus adeptos condenados à morte. “Hoje, vivemos em um Estado laico, que nos permite manifestar nossa fé publicamente e praticar nossa religião livremente”, afirma o líder da Igreja Apostólica Vinde, de Itapecerica da Serra (SP).
No entanto, ele ressalta que essa liberdade é muitas vezes mal utilizada pelas igrejas. A falta de perseguição, segundo ele, tem gerado crentes que são mais focados em estruturas materiais e humanas do que na missão espiritual, num contexto em que a reunião de pessoas parece ser mais importante que a salvação delas.
João observa que, considerando a situação na Europa e nos EUA, onde a Filosofia, os movimentos de esquerda e o materialismo têm enfraquecido as igrejas e o proselitismo, a tendência é que a Marcha para Exu ganhe mais força. “Enquanto a igreja continuar se envolvendo com questões políticas e materiais, e as estruturas forem priorizadas em relação às pessoas, a situação tende a piorar.”
Ele argumenta que a Igreja de Jesus Cristo deve se manter acima das divisões políticas e focar em sua missão espiritual. “Nunca vi o céu celebrar quando alguém encontra felicidade, mas sim quando um pecador se arrepende (Lc 15.7).” João também menciona que a apostasia, prevista por Paulo em 2 Tessalonicenses 2.3 e por Jesus em Mateus 24.12, está se manifestando com palavras da moda como ‘ecumenismo’ e ‘inclusão’. “Essa abordagem já foi predita pelo apóstolo João: ‘Todo espírito que não confessa Jesus não procede de Deus’ (1 João 4.3).”
O pastor destaca a necessidade urgente de a Igreja voltar à raiz apostólica e missionária, aprendendo com figuras históricas como John Wesley e George Whitefield. “Devemos focar na mensagem da cruz, como fizeram os apóstolos, em vez de buscar a prosperidade ou o reconhecimento.”
Cegueira espiritual
Por outro lado, o pastor Wagner Escatamburgo enfatiza duas questões principais sobre a marcha. Primeiro, é importante reconhecer que o país é laico e respeitar as diversas expressões de fé. Em segundo lugar, ele destaca que as Escrituras revelam que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos” (2 Coríntios 4.4). “Devemos amá-los e cumprir o Ide do Senhor (Marcos 16.15)”, diz o líder da Assembleia de Deus – Ministério Vale das Virtudes, em São Paulo (SP).
Ele acredita que a igreja não deve se afastar, mas sim estender a mão àqueles que professam essa fé, garantindo que os grupos evangelísticos estejam bem preparados bíblica e espiritualmente. “Jesus deu poder e autoridade à igreja (Lucas 10.19-21), e o apóstolo Paulo sabia aproveitar as oportunidades para pregar (Atos 17.23). A igreja deve estar sempre pronta (2 Timóteo 4.2-3).”
Wagner acrescenta que o crescimento do movimento para divulgar Exu se deve à curiosidade das pessoas e àquelas que se desiludiram com outras crenças. No entanto, ele acredita que esse crescimento não deve continuar, pois essas pessoas precisam urgentemente conhecer o Evangelho de Cristo, através da divulgação das Escrituras e do exemplo de união entre os cristãos (João 17.21). “Através da nossa união, o mundo saberá que Deus enviou a Cristo.”