Levantamento do Datafolha aponta 43% de reprovação, alta de 5 pontos percentuais em relação a dezembro do ano passado
Por Cristiano Stefenoni
A aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre os evangélicos segue em queda livre. Pesquisa divulgada nessa quinta-feira (21) pelo Datafolha aponta que 43% dos evangélicos consideram o governo ruim ou péssimo, alta de 5 pontos percentuais em relação a dezembro do ano passado.
A pesquisa mostrou também que 30% dos evangélicos avaliam o governo como regular, enquanto 35% o consideram bom ou ótimo. A margem de erro é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos.
O fato é que a relação de Lula com os evangélicos está mais para o divórcio do que para uma lua de mel. Na última segunda-feira (18), por exemplo, durante a primeira reunião ministerial deste ano, o presidente disparou que as igrejas estariam sendo “manipuladas” para tentar atrapalhar a gestão dele.
“Um país em que a religião não seja instrumentalizada por um partido político ou um governo. Que a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la. A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa como está sendo nesse país”, criticou Lula na ocasião.
Sabedores da importância do eleitorado evangélico, principalmente por conta da eleições municipais deste ano – que formarão as bases de apoio para a disputa presidencial em 2026, articulistas do governo têm tentado de todas as formas colocar “panos quentes” sobre a péssima relação, mas o fato é que nem o próprio Lula tem ajudado muito.
Primeiro, porque ele havia declarado, nesta sexta-feira (22), a pessoas próximas ao governo, que não deseja usar projetos federais como moeda de troca pelo apoio da bancada evangélica, o que, na opinião do presidente, foi adotado como estratégia por Jair Bolsonaro (PL), na época em que presidiu o país.
Segundo, porque há vários percalços que têm atrapalhado essa sintonia entre governo e evangélicos: a retirada da isenção de impostos sobre os salários dos pastores por meio de uma decisão da Receita Federal, a pedido do Tribunal de Contas da União (TCU); a fala de Lula em que comparou as ações de Israel contra o grupo terrorista Hamas ao Holocausto; a defesa de pautas contrárias às ligadas aos evangélicos, como o aborto, e a “campanha” massiva contra o presidente feita por lideranças religiosas como o pastor Silas Malafaia, são alguns exemplos.
Isso tudo tem impactado diretamente a imagem do presidente. Na última Pesquisa Quaest, divulgada no início deste mês, o índice de rejeição a Lula entre os evangélicos chegou a 62%, maior percentual desde que a pesquisa começou a ser feita para a atual gestão, em 2023. Em dezembro do ano passado, era de 56%. O índice de aprovação caiu, nesse mesmo período, de 41% para 35%.
Para tentar reverter esse quadro, o governo tem procurado agir em várias frentes. Escalou o advogado-geral da União, Jorge Messias, que é evangélico da Igreja Batista, para ser o interlocutor com a bancada evangélica em Brasília. Já existe, inclusive, um movimento para promover um encontro entre Lula e várias lideranças evangélicas depois da Páscoa. O próprio presidente, entretanto, teria dito a interlocutores que já estaria declinando dessa possibilidade.