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quinta-feira, 28 março 2024

Pandemia e um novo jeito de fazer igreja: o que mudou?

discipulado
Discipulado está ligado à comunhão, relacionamento entre as pessoas e o cumprimento da missão. Foto Shutterstock

A pandemia trouxe muitas mudanças, uma delas é o novo jeito de fazer igreja. Ao invés de ativista, a igreja precisa focar em discipulado, desenvolvimento de líderes e investimento na nova geração

Por Priscilla Cerqueira 

Uma recente pesquisa feita pela Envisionar, uma organização que trabalha para capacitar e ajudar líderes cristãos a cumprirem sua chamada e ministério, apontou que 49% dos pastores estão estressados por conta do aumento das demandas ministeriais. A igreja vive uma profunda crise. Por conta disso, a pandemia trouxe um novo jeito de fazer igreja.

O pastor Josué Campanhã, que, além de diretor da Envisionar, é visionário e reconhecido como um expert em liderança e planejamento, afirma “estamos encerrando um ciclo da igreja ativista, onde tudo é atividade, conferência e eventos para iniciar uma igreja de processos”.

Isso significa, segundo ele, que o pastor precisa migrar a igreja que seja focada em discipulado, desenvolvimento de líderes e ainda investir na nova geração. Confira na entrevista!

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Entrevista

Comunhão – A pesquisa afirma que os líderes já estavam cansados antes da crise pandêmica e a situação só se agravou com a pandemia de covid-19. Por quê?

Josué Campanhã – Antes da pandemia, a igreja já tinha um ativismo, os pastores e líderes estavam à beira da exaustão. Com a pandemia, os pastores tentaram manter todas as atividades que faziam no presencial, mas agora no formato on-line. Isso fez com que o cansaço e a exaustão dobrassem. Quem tinha três cultos presenciais, tentou fazer três cultos on-line, quem tinha campanha, pequeno grupo, reunião, tentou ir tudo para o on-line. Depois, eles perceberam que não iam conseguir. Aí entra um segundo agravante, que foi a piora da pandemia e desde que a covid-19 se instaurou no Brasil já vivemos várias ondas.

E o cansado dos pastores aumentou mais ainda, pois além de não conseguirem fazer tudo o que queriam on-line, ninguém sabia e até hoje ninguém sabe totalmente o modelo futuro de igreja. Em sua maioria, os pastores tiveram que aprender a pregar sem ter público, tiveram que investir em equipamentos ou buscar alguma outra fonte, para aprender a fazer até com pouquíssimos recursos e os membros sumiram.

O ativismo que era feito antes pela igreja, na verdade, não vai funcionar no modelo digital. A liderança terá que reduzir muito o número de atividades. Esse ativismo era consequência da falta de discipulado, da falta de tarefas que a igreja não estava fazendo. Mas, agora, quem está enxergando a possibilidade de começar de novo está começando focado nessas coisas e quem ainda não enxergou isso, está tentando ainda fazer tudo que fazia antes agora.

A igreja terá que ter uma nova postura. Ou seja, os problemas que estavam debaixo do tapete, antes da pandemia, como a falta de discipulado, falta de investimento em nova geração, falta de investimento em treinamento de líderes e uma série de outras coisas e toda energia estava sendo canalizada para eventos, simplesmente afloraram. E agora isso terá que mudar radicalmente

Porque essa pesquisa é importante? Em que ela vai ajudar?

As pesquisas nos ajudam em decisões estratégicas, servem como um aliado, mas nunca para confrontar, colocar na parede ou detonar uma pessoa, uma organização. No momento que vivemos, por exemplo, é crucial sabermos como está o novo modelo ou novo estilo de vida das pessoas. É impossível pensar na igreja daqui para frente sem identificar os comportamentos, o que mudou na vida das pessoas com a pandemia ou vai continuar.

Tem coisas que mudaram, mas não vão persistir, como por exemplo, ficar preso em casa. Por outro lado, ficar em casa aproximou os pais dos filhos, e mostrou o quanto eles não estavam investindo nos seus filhos, e também mostrou que as pessoas estavam extremamente cansadas do ativismo. A pesquisa também revelou que as pessoas não querem voltar com aquele estilo ativista da igreja. Um dos maiores alívios hoje para os membros da igreja é que não precisam mais fica indo em 10 atividades por semana, agora podem escolher qual querem participar.

Então, a pesquisa nos ajuda em como é que direcionamos a igreja do futuro, quais são as coisas estratégicas, como alcançamos o novo membro que temos agora, como direcionamos a forma de alcançar pessoas para Jesus a partir de agora, e como enfatizarmos os relacionamentos. Então, o pastor ou líder que souber usar a pesquisa a seu favor vai chegar muito mais rápido e muito mais assertivo nessa nova igreja que precisa ser construída.

A falta de novos líderes já é um problema antigo da Igreja brasileira. E o levantamento revelou que para cada dois pastores ou líderes entre 40 a 60 anos de idade, se tem apenas um pastor ou líder abaixo de 40 anos de idade para substituí-los. Então, é possível afirmar que a igreja vive numa crise profunda?

No que se refere ao pastor e a liderança da igreja capacitar novos líderes, estamos sim, numa crise profunda e ainda mais perdendo líderes nesse momento, que estavam exaustos, cansados e que não querem voltar para aquele estilo de liderança que tinham. Então, é crucial os pastores criarem capacitação de líderes, e processos de longo prazo para gerar novos líderes, porque senão eles vão ficar cada vez mais sozinhos.

Já do ponto de vista de formação pastoral diria que a crise é grande, mas ainda não é aguda, pois ainda temos cinco a dez anos, que se fizermos a lição de casa rápido, dá para resolver esse problema de um pastor mais jovem, abaixo de 40 anos, para cada dois que precisariam ser substituído.

A formação pastoral não é rápida, mas, ao mesmo tempo, quem está na faixa de 40, 60 ou acima de 60, começar a investir na nova geração de liderança, equipando-os para se tornarem futuros pastores, talvez precisem esticar um pouquinho mais o tempo em que eles estavam pensando em ficar na liderança. Mas é possível reverter isso no médio e longo prazo. Para isso, é preciso ter um programa de capacitação de líderes para a igreja e para a sociedade como um todo, para despertar pessoas que se tornarão pastores daqui para frente. Essa é uma das mais importantes e gigantes tarefas que temos hoje na igreja, para resolver nos próximos cinco a dez anos.

Quais sugestões os pastores ficarem menos estressados?

Estamos encerrando um ciclo da igreja ativista, onde tudo é atividade, conferência e eventos e agora estamos iniciando uma igreja de processos. Hoje, o pastor precisa se concentrar em migrar de uma igreja de eventos, estrutura e atividades para uma igreja de processos, focada em discipulado, desenvolvimento de líderes e investimento na nova geração. Isso garante a igreja atual, a sustentabilidade e a longevidade da igreja nos próximos anos.

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