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segunda-feira, 7 DE outubro DE 2024

“Pandemia de queimadas”: colhendo o que historicamente se deixou semear

A situação das queimadas em 2024 se tornou tão alarmante que precisa ser enfrentada com rigor, determinação e cooperação de todos os poderes

Por Luiz Fernando Schettino

As queimadas no Brasil têm se tornado um problema cada vez mais grave, anos após ano; e, de modo especial em 2024, ajudando a acelerar as mudanças climáticas, afetando a saúde das pessoas, a economia e o meio ambiente, com destaque para a biodiversidade.

A situação das queimadas em 2024 se tornou tão alarmante que pode se dizer que é uma “Pandemia de queimadas”, que precisa ser enfrentada com rigor, determinação e cooperação de todos os poderes e entes federados e da sociedade como um todo. Visto que somente com ações coordenadas e a participação de todos, é possível reverter esse quadro proteger o meio ambiente, evitar problemas socioeconômicos decorrentes e evitar mais problemas à saúde da população.

O ano de 2024, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) [1], entre janeiro e setembro, registrou mais de 164 mil focos de incêndios no País, o maior número desde 2010. E a fumaça das queimadas, segundo essa fonte, já cobre 60% do território nacional, prejudicando a qualidade do ar e causando problemas respiratórios, especialmente em crianças e idosos.

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Sendo isso resultado de um descaso e uma omissão histórica de governantes e da sociedade para com o meio ambiente, com certeza, esse crescimento exponencial das queimadas está sendo influenciado pela polarização política que o mundo e o país atravessam. Esse “dilúvio de queimadas” nada mais é do que uma falta de visão dos danos que isso traz em todos os sentidos. Esse ápice em 2024 significa “estar colhendo o que governos e sociedade deixaram semear ao longo do tempo de desrespeito à natureza” por não se entender o valor de proteger as florestas e o meio natural.

As queimadas podem ser causadas [2] por fatores naturais, como raios, mas a maioria neste ano é resultado, lamentavelmente, da ação humana. E, entre as principais causas estão:

  • os desmatamentos, visando expansão agropecuária o que leva à derrubada de florestas, muitas vezes seguida pela queima da vegetação para limpar o terreno – e, em muitos casos, para ocupar terras públicas principalmente na região amazônica;
  • o clima seco, visto que períodos de seca prolongada aumentam a vulnerabilidade das áreas florestais ao fogo;
  • práticas agrícolas inadequadas e indevidas neste período, visto que mesmo o uso do fogo para limpar pastagens e preparar o solo para o plantio seja comum em muitas regiões, na situação que está não é recomendado neste momento pelo risco de perda de controle do fogo e, por razão óbvia, que, sem previsão de chuvas, queimar agora não adianta em nada em relação a realizar plantios.

Infelizmente, as queimadas têm impactos e consequências [3] devastadores sobre:

  • a saúde humana, uma vez que a fumaça causa problemas respiratórios e cardiovasculares, entre outros, aumentando as internações hospitalares e levando a redução da qualidade de vida e perdas de dias de trabalho, o que afeta a economia do País.
  • a agropecuária, que é prejudicada pela perda de áreas cultiváveis e pela queda na produtividade devido à degradação do solo;
  • o meio ambiente, em face da destruição de habitats e a morte de animais, levam à redução da biodiversidade, já tão impactada de diversas formas.

Além disso, há um aumento na emissão de gases de efeito estufa, contribuindo para acelerar as mudanças climáticas, o que faz ficar ainda pior a situação dos extremos climáticos como enchentes devastadoras e secas severas, o que deveria ser suficiente para haver conscientização e colaboração da necessidade de todos colaborar nesse momento extremo.

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Para mitigar essa situação no pós-queimadas, é fundamental um esforço de toda a sociedade, capitaneado pelo poder estatal para plantar árvores e restaurar áreas degradadas para recuperar habitats em intensidade proporcional aos impactos das queimadas ocorridas, assim como intensificação da educação ambiental para conscientizar a população sobre os impactos das queimadas e a importância da preservação. Neste momento , mais do que nunca, é necessário ter políticas públicas vigorosas, visando implementar ações, atitudes em prol da proteção ambiental, bem como reforçar leis e sanções que ajudem a proteger o meio ambiente e punam efetivamente práticas ilegais de queimadas e outras ações reincidentes e igualmente danosas ao meio ambiente.

Para mudar esse quadro são necessárias ações imediatas, coordenadas e eficazes, entre as quais:

  • fiscalização rigorosa e punção severa das práticas ilegais de desmatamento e queimadas;
  • promover campanhas educativas para informar a população sobre os riscos e as alternativas ao uso do fogo na agricultura;
  • uso de tecnologia e inovação para monitorar e prevenir focos de incêndio;
  • aprimorar as políticas públicas, visando implementar o uso sustentável da terra;
  • revisão da legislação ambiental para estabelecer mais rigor nas sanções e responsabilização pela queima proposital da vegetal e instrumentalizar meios para determinar a quem assim o fez que arque com a recuperação de áreas das queimadas;
  • ampliar a proteção à saúde [4] da população das áreas mais afetadas.

Estas ações são essenciais para proteger a biodiversidade e garantir um futuro sustentável. Que o clamor das catástrofes acorde as consciências entorpecidas para a gravidade da questão ambiental.

1. Fonte: https://globorural.globo.com/clima/noticia/2024/09/queimadas-no-brasil-quaissao-as-causas-e-como-e-o-monitoramento.ghtml

2. Fonte: https://www.aosfatos.org/noticias/queimadas-brasil-causas-efeitos/

3. Fonte: https://exame.com/bussola/como-as-queimadas-afetam-o-dia-a-dia-dapopulacao-brasileira/

4. Fonte: https://www.gov.br/saude/pt-br/canais-de-atendimento/sala-de-imprensa/notasa-imprensa/2024/orientacoes-para-evitar-a-exposicao-a-fumaca-intensa-causada-porqueimadas

Luiz Fernando Schettino é Engenheiro Florestal, Mestre e Doutor em Ciência Florestal, Advogado, Escritor e ex-Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

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