Desenvolvido pela Igreja Adventista em Brasília, o projeto Página Virada é uma oportunidade para detentos refletirem sobre sua condição e estar longe da criminalidade
Diminuir a ociosidade dos presos, além de apresentar novas condições de pensamentos por meio da leitura. Esse é o objetivo do projeto “Página virada”, da Igreja Adventista em Brasília.
O projeto foi lançado em janeiro na Unidade de Internação do Recanto das Emas (UNIRE) e as atividades acontecem no Centro de Inserção Social de Luziânia (CIS).
O Página Virada tem parceria com o Ministério Público do Trabalho e a Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal. Epropõe estimular a leitura dos detentos. Em troca disso, reduzir a pena. As reuniões acontecem todas as segundas e quintas-feiras, quando é realizada uma roda de conversas referente à leitura da semana.
Como funciona
A cada livro lido no período de 30 dias, os presos fazem uma redação e precisam tirar no mínimo seis pontos. Eles têm, por isso, quatro dias perdoados de sua sentença.
Por ano, o máximo de pena que se consegue reduzir, por meio da leitura, equivale a 48 dias. No final do projeto são realizadas avaliações das redações desenvolvidas e as três melhores são premiadas.
Atualmente, mais de 120 detentos participam das atividades. Além de ajudar na diminuição da pena, estimulam o hábito de leitura.
Reflexões
O diretor e fundador do projeto, Jeconias Neto, salienta que a leitura do livro traz reflexão sobre como construir a vida fora do crime por meio dos debates sociais.
“Quem executa esse projeto do clube do livro são ex-detentos que, hoje, membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, desenvolvem rodas de conversas pós-leitura. Não é só um projeto literário, mas de inclusão, crescimento acadêmico, do jovem e do preso. É um projeto que dá senso de pertencimento”, explica.
O próprio Jeconias Neto esteve preso. Viu o drama das pessoas que anseiam por uma oportunidade de sair da criminalidade, mas não sabem como.
“Nós esperamos influenciar a massa carcerária a entender que a leitura é uma arma sem pólvora em suas mãos na desconstrução das vulnerabilidades sociais que eles viveram e das ideologias do crime. Não é só o hábito da leitura, mas o pensamento crítico que ela proporciona, que faz com que os detentos protagonizem suas histórias”.
Leitura aprovada
O coordenador do ministério, Joymir Guimarães, também teve sua vida transformada dentro de um presídio por uma ação semelhante ao Página Virada. Durante os diálogos, a maioria dos participantes já tinha lido mais de 15 capítulos do livro e aprovaram a leitura.
“Ficamos muitos felizes com o resultado. O interessante também é como nós aplicamos as histórias do livro ao nosso dia a dia. Falamos sobre como sair da vida do crime, o que devemos fazer, quais são os caminhos, quais são as diretrizes. Eles passaram a ter uma nova visão de vida e falaram que nunca tinham pensado desta maneira”, comentou.
Os oficineiros voluntários são chamados de tutores do projeto. Geovani Lima é um deles. Ele dedica parte de seu tempo para ajudar a desconstruir as ideologias do crime e levar o desenvolvimento intelectual.
“Participar do projeto está sendo uma experiência maravilhosa. Sabíamos que eles iam gostar do livro, mas não imaginávamos que, então, a adesão seria tão grande e com tamanha qualidade. Eles estão assimilando o assunto do livro, a mensagem que a obra está passando, e eu acho que isso é muito bacana. Poder estar lá dentro, contribuindo para a reinserção deles no mercado de trabalho, no âmbito familiar e em uma sociedade melhor vai mudar a vida deles”, conclui.