Saiba como descobrir essas dádivas divinas para atuar na igreja e fazer a diferença no Ide
Por Luciene Araújo
O Evangelho ensina que Jesus Cristo é o único caminho para nossa Salvação. Mas também aponta que Deus nos salva da morte e nos prepara para a realização de boas obras. Afinal, temos de exalar o perfume de Cristo, sempre.
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. Uma boa obra é o cumprimento da vontade Deus. (Efésios 2:8-10).
E é justamente para servi-Lo que o Pai nos capacita de diversas formas, por vezes especiais, para exercermos dons. O objetivo dessa capacitação é podermos abençoar pessoas e, da mesma forma, sermos abençoados por elas.
“Dons espirituais são dádivas de Deus, uma capacitação extraordinária para o exercício de um trabalho específico”, enfatiza o pastor Hernandes Dias Lopes, da Igreja Presbiteriana, que também atua como diretor executivo da instituição Luz Para o Caminho, conferencista e escritor.
Ele aponta ainda que a Bíblia fala de diversos dons: de administração, de governo, de misericórdia, de ensino. E que os dons são recebidos para serem usados na vida da igreja. “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4:10).
Um cristão precisa trabalhar para humanizar os ambientes por onde passar: casa, escola, trabalho. “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens… Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”. (Mt 5:13 e 16).
Nessa missão de agir pelo Ide, cada um de nós possui uma parcela de responsabilidade, seja por meio dos dons ou de talentos, aptidões que podem ser desenvolvidas. “Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando vocês mesmos”, nos aponta o Evangelho em Tiago 1:22
“Então cada membro precisa descobrir qual é a sua capacidade, os seus dons, além das aptidões naturais, que chamamos de talentos: para música, para pintura, para oratória, e ver o que Deus nos confiou e o ele nos deu para auxiliar nas atividades da igreja”, explica o pastor Hernandes. Mas, muitas pessoas têm dificuldades de identificar seus dons espirituais e talentos. Assim, não sabem para o que exatamente Deus lhes chamou a realizar na obra Dele. Como então descobrir um dom ou talento?
Identificando os dons
Dados aos cristãos para a edificação da Igreja, os dons são muitos. Os mais conhecidos, ou talvez aos mais “exaltados” são falar em línguas, cura e profecia. Mas a Bíblia nos aponta vários outros dons igualmente importantes, como fé, misericórdia, sabedoria, discernir espírito. Encontra-se ainda nesta lista: administração, liderança, pastoreio, ensinar, dar ânimo, evangelizar.
Todos esses dons vêm de Deus, diferentes para cada um de acordo com a necessidade. Eles não tornam ninguém “mais desenvolvido espiritualmente” ou “mais importante que o outro”, mas ajudam no crescimento da Igreja.
Então, como entender e desenvolver nossos dons e ou aptidões para utilizá-los em prol do Reino? “Existem duas coisas importantes. A primeira e que os dons das pessoas muitas vezes são canalizados para as necessidades que a igreja possui, muitas vezes suprindo um desenvolvimento maior dessa pessoa no Reino”, destaca o pastor e pesquisador da Associação de Missões Tranculturais Brasileiras (AMTB), Luiz André Bruneto.
“Outra coisa importante e que é preciso pensar o Reino de Deus fora da igreja local. Muitos líderes, devido as suas próprias necessidades, querem ver líderes que surgem trabalhando primeiro na igreja, para depois trabalhar ‘fora’. Obviamente podemos entender essa necessidade da liderança atual, mas não podemos ignorar o fato de que o Reino de Deus é muito maior que qualquer comunidade local”, completa Bruneto.
O pastor Hernandes ensina que “Dom é aquele que você tem habilidade de fazer de forma natural, com eficiência. Você descobre o dom assim, muito facilmente. O que você faz com desenvoltura, com prazer, com alegria, sem peso e com eficiência aí está a identificação do seu dom”.
“Uma frase que não é evangélica, mas que aponta para isso é ‘Right man in the right place’ (homem certo, no lugar certo). Você descobre seu dom naquilo que tem habilidade, prazer e leveza para fazer”, completa o conferencista.
Trabalhando para a igreja
“Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça; deem também de graça”, nos diz a Palavra em Mateus 10:8. Mas, podemos dizer que há poucas pessoas envolvidas diretamente com o trabalho da igreja, além de ir aos cultos e honrarem com seus dízimos?
Mais de 70% dos líderes das igrejas lutam para encontrar voluntários, segundo a Pesquisa Nacional de Congregações de 2015 (último estudo realizado sobre esse contexto), realizada nos Estados Unidos. Os entrevistados descrevem o recrutamento de voluntários como um desafio contínuo ou mesmo impossível.
A boa notícia é que, de acordo com a mesma pesquisa, as organizações religiosas foram as principais organizações para as quais as pessoas se apresentaram como voluntárias (33,1%), contra 25,2% em organizações educacionais e 14,2% em organizações de serviço social ou comunitário.
Na avaliação do pastor e pesquisador da Associação de Missões Transculturais Brasileiras, Luis André Bruneto, isso se reflete no Brasil da mesma forma. Cada vez mais os líderes têm encontrado dificuldade em levantar voluntários em meio as suas igrejas.
“Entre as diversas pesquisas que realizamos em igrejas locais nos últimos anos, uma das maiores necessidades apontadas pelos membros é o treinamento de novos líderes, mostrando que existe um abismo real entre a liderança atual e a membresia. As pesquisas indicam que os lideres atuais têm tido dificuldade de reproduzir a sua liderança na igreja”, enfatiza Bruneto.
Embora a maioria dos líderes consideram a participação dos membros como baixa, o número varia bastante de igreja para igreja, pois os trabalhos para os quais as pessoas se engajam são muito diversos. “Obviamente, existem ministérios dentro das igrejas que são padrões na maioria das comunidades, como louvor, diaconia, ensino. Por outro lado, existem ministérios voluntários entre surfistas, motoqueiros, esportistas e outras áreas diversas”, complementa Luis André.
O pastor Hernandes Dias Lopes entende que a igreja responde de acordo com o chamado de sua liderança. “Há igrejas que enfatizam mais a questão dos dons e dos ministérios e envolvem os membros em suas atividades. Há outras que não tem uma agenda mas dinâmica durante a semana para evangelismo, para o socorro aos necessitados. Se a liderança tem um projeto que desafia sua membresia para se engajar no trabalho, via de regra, tem resposta”.
Missões
Mas, como entender se tenho ou não um chamado para ser missionário? Marco Cruz, secretário-geral da Missão Portas Abertas, enfatiza que a prerrogativa do cristão é ser chamado e que o Ide é para todos.
“Se entendermos o IDE como INDO, vamos andando e falando de Jesus. Vivendo e mostrando a Luz de Jesus em nossas vidas”. Cruz destaca ainda que o chamado sistemático para ser missionário acontece naturalmente, com o coração disposto a isso. “O cristão não acorda um dia e fala: ‘vou ser missionário’.
Isso acontece durante uma vida de caminhada e comunhão com Deus, de forma natural e sistemática. Mas um coração disposto, aberto e preocupado com outras vidas, é uma base para um chamado específico”, afirma o secretário-geral da Missão Portas Abertas.
E destaca ainda a importância do voluntariado e engajamento do cristão brasileiro com o cristão perseguido, que tem transformado vidas nos mais de 70 países que a missão atua. “Através de oração, doação e encorajamento, mais de 340 milhões de cristãos perseguidos têm sido auxiliados em suas diversas demandas: apoio espiritual e psicológica, apoio socioeconômico, treinamento e discipulado, distribuição de Bíblias e material didático, advocacy, apoio jurídico e diversas outras frentes em que atuamos. Nosso trabalho não seria possível sem o apoio e engajamento de voluntários e parceiros brasileiros”, destaca Cruz.
Comunhão com Deus
Hás duas coisas que todos os pastores ouvidos por nós concordam: a primeira é que a maneira mais poderosa de entender um dom espiritual e colocá-lo em prática na igreja, é estarmos em Comunhão com Deus.
E a segunda é que com ou sem dons especiais, todos podemos e devemos seguir o exemplo de Cristo quanto a se preocupar com o próximo e fazer a diferença de forma positiva. “Que o evangelho esteja acompanhado de ações de misericórdia para que possamos demonstrar ao mundo o amor de Deus”, reitera o pastor Hernandes.
Segundo ele, há negligência por parte do cristão que não se envolve com os trabalhos da igreja. “Participar dos cultos é uma benção, mas você vai lá igreja para adorar a Deus, para ser instruído na palavra de Deus, ter comunhão com os irmãos. Mas a sua lida acontece ao longo da semana no seu trabalho, na escola, na vizinhança, na família, em seus relacionamentos. Então limitar a vida cristã a apenas frequentar a igreja é empobrecer demais a vida cristão”.
O teólogo aponta que a bíblia diz que devemos praticar boas obras para que os homens vejam isso e glorifiquem o Pai que está no céu. Portanto, não podemos divorciar a prática do discurso. “Não podemos ser apenas aqueles que ouvem e falam, mas não praticam a palavra de Deus”.
Por fim, pastor Hernandes deixou uma reflexão importante: “Espero que cada pessoa que esteja lendo essa matéria possa se levantar na força e no poder do Espírito Santo, colocar sua vida nas mãos de Deus, ser vaso de honra como instrumento para levar a esperança do evangelho às pessoas que estão aflitas e desesperadas no Brasil e no mundo. Que o evangelho esteja acompanhado de ações de misericórdia para que possamos demonstrar ao mundo o amor de Deus”.