Cultivando autenticidade em meio à cultura de comparação nas redes sociais e como o cristianismo oferece um caminho para a autenticidade
Por Patrícia Esteves
Em uma sociedade onde o “curtir” e o “compartilhar” se tornaram formas comuns de validação, muitos acabam presos a uma busca constante por aprovação. Cada vez mais, o valor pessoal parece estar vinculado ao que os outros veem e aprovam, deixando pouca margem para a aceitação genuína de quem realmente se é. Na era da exposição constante, a comparação se tornou praticamente inevitável, especialmente com o impacto das redes sociais. A avalanche de fotos cuidadosamente produzidas, conquistas exibidas em tempo real e a impressão de que “todos têm vidas perfeitas” formam um cenário que, muitas vezes, desafia a autoestima. Com isso, cresce a necessidade de validação externa, e o valor pessoal passa a ser medido pela aprovação alheia.
Frente a esse contexto de comparação, o cristianismo traz uma perspectiva distinta: a valorização da autenticidade e da singularidade de cada pessoa. A psicóloga Cíntia Piccinini, da Igreja Batista da Praia da Costa, de Vila Velha/ES, aborda essa questão à luz da fé e do autoconhecimento, destacando a importância de uma autoimagem fundamentada no amor de Deus.
Para ela, a autovalorização não deve depender do reconhecimento alheio. “A comparação constante nos faz esquecer quem somos em Deus. Cada um de nós possui um valor único, que não precisa de validação externa”, afirma Cíntia. Com essa fonte de valor em Deus, o cristão pode evitar os ciclos de comparação que geram frustração e inadequação.
Entretanto, a luta para manter essa percepção de singularidade em um ambiente digital de exposição é real. Cíntia observa que muitos acabam tentando se adequar a padrões irreais de sucesso e beleza, muitas vezes moldados por filtros e edições. Esse tipo de comparação pode comprometer a autoestima e distorcer a percepção de autovalor. Em Provérbios 31:30, leem-se as palavras: “Enganosa é a graça, e vaidade, a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada”, lembrando que o valor de uma pessoa está em sua essência e caráter, não na aparência ou nos feitos que consegue exibir.
Para Cíntia, a chave está em cultivar uma relação de autenticidade com a própria identidade. “Precisamos nos lembrar de que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, o que nos confere um valor inestimável”, ressalta ela. Essa perspectiva diminui a pressão de se igualar ao que é exposto nas redes e permite que cada indivíduo explore suas potencialidades com liberdade. No cristianismo, a autenticidade é valorizada como uma expressão genuína do ser, e ao viver essa verdade, o indivíduo aproxima-se de sua essência.
O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, destacou a importância de não se conformar aos padrões deste mundo (Romanos 12:2), mas de buscar uma transformação por meio do entendimento e da renovação da mente. Essa instrução aponta para uma vida que prioriza a essência em detrimento das aparências, valorizando a singularidade e os propósitos pessoais, muitas vezes ignorados em uma cultura voltada para o coletivo e o idealizado.
Cíntia pontua que esse processo não ocorre da noite para o dia e requer uma prática contínua de autoconhecimento e de alinhamento com a própria fé. “A autovalorização verdadeira é uma construção diária, em que o olhar de Deus é o espelho em que nos refletimos”, acrescenta a psicóloga. Essa jornada de autoconhecimento leva o cristão a questionar não o que o mundo espera, mas o que realmente lhe traz paz e plenitude. Em vez de se fixar nas realizações dos outros, essa perspectiva direciona cada pessoa a uma vida com propósito.
Ao invés de focar na perfeição alheia, é possível cultivar a própria identidade, entendendo que o valor individual não depende de comparações, mas de uma autenticidade construída em Deus. Em um mundo de comparações incessantes, o valor da singularidade torna-se ainda mais precioso e libertador.