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sexta-feira, 19 abril 2024

“O sino que tine” e os escândalos na igreja

Está escrito “o meu povo perece por falta de conhecimento” e também está escrito “errais não conhecendo as escrituras nem o poder de Deus”

Por Bento Adeodato Porto

Os sinos nos lembram as antigas catedrais e templos de igrejas do interior do Brasil. Os sinos soam alto e estridentes. Porém ecoam um som sem vida, quando comparamos a sua vibração sonora com o som dos instrumentos musicais harmonizados em torno de uma melodia. Sons de sinos, embora bonitos e nostálgicos não têm vida. Ao contrário dos sons de instrumentos musicais, que são vibrantes e pulsam vida em suas harmonias e melodias.

Talvez esta comparação que, mesmo sem conhecer teoria musical,  ouso fazer nestas linhas, tenha inspirado o início do texto do capítulo 13 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Paulo ou “São Paulo” – que antes fora o famoso e temido religioso Saulo – depois de anos perseguindo e açoitando os irmãos da igreja primitiva, foi convertido de forma sobrenatural, no caminho de Damasco,  pelo próprio Jesus que já estava morto e ressuscitado e assentado no céu, segundo relatos descritos  no capítulo 1, versículos 8 a 9 e capítulo 9 do livro de Atos.

Depois de convertido, Saulo, agora chamado de Paulo, que antes respirava ameaças contra os “cristãos”, agora escreve aos Coríntios falando das características do amor de Deus, dentre as quais saltam aos nossos olhos aquelas descritas nos versículos de 4 a 6 daquela “carta do amor”, que, em resumo, afirma ser o amor “paciente, bondoso, sem inveja, sem vanglória, sem orgulho, sem maltratar o outro, não procura os próprios interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade…”. Antes de traçar as características do verdadeiro amor de Deus, Paulo reconheceu que a pregação do Evangelho não tem sentido se o pregador não tiver e não demonstrar o amor de Deus para com o seu próximo – diga-se para com o pecador.

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Ainda que o pregador “fale a língua dos homens e dos anjos, ainda que tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor de Deus pelo próximo, o pregador nada é. Ainda que o pregador doe tudo o que possui aos pobres e entregue o próprio corpo para ser queimado em prol da pregação do Evangelho, mas se não tiver amor de Deus pelo seu próximo, nenhum destes sacrifícios lhe valerá”. É a interpretação de 1 Coríntios 13, versículos 1 a 3.

Algum leitor menos inteirado da Bíblia pode dizer que esse amor descrito por Paulo é impossível aos humanos e se refere ao amor de Deus e não dos homens. Mas basta conhecer um pouco do Evangelho, para ouvir do próprio Jesus que devemos amar, não apenas os amigos, parentes e pessoas que nos fazem bem; mas devemos amar principalmente os nossos inimigos, pois é isso que diferencia os verdadeiros filhos de Deus, seguidores de Jesus, daqueles que não são discípulos do Senhor, segundo o Evangelho escrito no livro de Mateus, capítulo 5, versículos 38 a 48, onde Jesus encerra a sua pregação exortando os seus discípulos a “serem perfeitos como o nosso Pai, que está nos céus, é perfeito, porque nosso Pai manda sol e chuva sobre bons e maus, justos e injustos”.

Deus não faz acepção de pessoas, conforme registrado na carta aos Romanos 2, versículo 11. Deus não ama e dá o fôlego de vida, o sol e a chuva, apenas aos crentes. Ele ama pessoas de todas as religiões, ama ateus, ama agnósticos e ama até mesmo os satanistas, ou seja, Deus ama, não apenas os seus filhos, servos de Cristo, mas ama o “mundo” de tal maneira que enviou Jesus para morrer por todos, de modo que aquele que em Jesus crê não pereça, mas tenha a vida eterna, segundo está registrado no Evangelho de Jesus escrito por João capítulo 3, versículo 16.

Os escândalos que têm sido revelados com a participação de pessoas de diversas religiões que utilizam textos bíblicos como guia – evangélicos, católicos, espíritas e outros – demonstram que o estudo da Bíblia está sendo feito sem colocar à frente o princípio e fundamento de tudo – o amor a Deus e o amor ao próximo, como Jesus ensinou e está registrado no livro de Mateus 22, versículos 37 a 39. “Oração da propina”, “troca de votos no parlamento por benesses para a igreja ou para seu grupo religioso”, “escândalos sexuais”, “assassinatos”, “pressão e articulação para ocupar cargos nas instituições do Estado, não como cidadãos, mas como representantes de uma casta religiosa”, “perseguição e ofensas a comunistas, ateus, agnósticos, pessoas LGBTI’s, pessoas de religiões não cristãs”, “intermediação de verbas públicas, aproveitando-se da proximidade e amizade com autoridades da Administração Pública em troca de benesses para si ou para a igreja ou denominação”, “corrupções de toda ordem”, enfim estas atitudes que revelam falta de amor ao outro, ao seu próximo, mesmo que pense e professe fé diferente daquela fé dos cristãos, são atitudes inspiradas, não pelo Espírito Santo, mas nascem no coração enganoso e perverso do homem, que interpreta as escrituras, segundo a sua mente humana. Estes somos nós, seres humanos, com o coração danificado por obra de satanás, segundo Jeremias 17, versículo 9, de onde provêm os maus desínios, inclusive a corrupção do caráter, conforme Mateus 15, versículo 19. De fato, satanás quis fazer o mesmo com Jesus, ao oferecer-lhe os reinos e a glória deste mundo, conforme escrito no livro de Mateus 4, versículos 8 e 9.

Jesus enfrentou diabo e  recusou as suas tentações, usando as escrituras, mas não simplesmente por recitar a letra decorada da Palavra do Pai, mas porque Jesus estava cheio do Espírito de Deus, porque, depois de jejuar 40 dias e 40 noites, Jesus estava totalmente entregue nas mãos do Espírito que o conduziu ao deserto para ser tentado pelo diabo, conforme registro em Mateus 4, versículos 1 e 2. Ora, o Espírito Santo é Deus, conforme Atos 5, versículo 4, e Deus é amor, conforme primeira carta de João 4, versículo 8.

Jesus estava com o coração cheio de amor pela humanidade pecadora e, não somente aceitou todo o sofrimento pelo qual teve que passar para cumprir o plano de salvação, como recusou todas as tentativas de satanás de livrá-lo do sofrimento, inclusive, quando satanás usou a boca de Pedro, discípulo de Jesus para tentar demover o Mestre do propósito de ir para Jerusalém ser torturado e morto nas mãos dos líderes religiosos, dos chefes dos sacerdotes e dos mestres da lei, conforme registro em Mateus 16, versículos 20 a 26.

Diante de tudo isso que vimos, observamos que o amor descrito em 1 Coríntios 13 é o princípio, o fundamento e o propósito do evangelho. O papel do pregador é encher-se do amor de Deus por meio da meditação (e não apenas leitura ou decoreba ou alegorização) na Palavra; é viver o amor de Deus na sua relação com o seu próximo, inclusive com seus inimigos, e, agindo assim, espalhar o amor de Deus no mundo mergulhado no pecado.

Quais instrumentos o pregador vai usar para meditar nas escrituras, viver o amor de Deus e espalhar esse amor pelo mundo? A resposta está em fazermos como Paulo, o apóstolo de Jesus, segundo registrou em Gálatas 2, versículo 20: o pregador deve crucificar o próprio ego e viver no corpo a vida de Cristo, fazendo não o que a mente humana manda, mas o que Jesus fez, durante o seu ministério, quando esteve em corpo humano sobre a face da terra: amou a nós pecadores e se entregou (à morte) por nós, a ponto de ser conhecido pelos líderes religiosos da época como “amigo de publicanos e pecadores”, conforme Evangelho em Lucas 15, versículos 1 e 2 .

Em uma pesquisa rápida no GOOGLE, veio-me a seguinte frase atribuída a Agostinho de Hipona ou “Santo Agostinho”: “Um cristão é: uma mente pela qual Cristo pensa, um coração pelo qual Cristo ama, uma voz pela qual Cristo fala e uma mão pela qual Cristo ajuda.” Lideranças cristãs que se deixam levar por atos de corrupção podem ter fé em Jesus, podem ter esperança na ressurreição e podem ter até “amor a Deus”, mas falta-lhes “amor ao próximo” que é o segundo mandamento ensinado pelo Senhor Jesus. Por isso eles pregam o evangelho da letra fria das escrituras – que aceita qualquer interpretação humana, mas que somente revela a vontade de Deus, quando interpretada sob a direção do Espírito e tendo por princípio inegociável o “amor a Deus com toda a tua força e todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo”. 

O problema não está na formação dos líderes religiosos, mas está na falta de conversão genuína de muitos que assumem “cargos” de destaque na igreja ou nas congregações e denominações; falta-lhes “nascer de novo”, conforme escrito em João 3, capítulo 3, se humilhar na presença do Espírito, conforme escrito na primeira carta de Pedro, capítulo 5, versículos 6 a 10. O verdadeiro pregador e todo salvo em Cristo deve reconhecer que todos nós seres humanos somos maus, segundo Jeremias 17, versículo 9,  Gênesis 8, versículo 21 e Mateus 7, versículos 11 a 12.

Em nós não há nada de bom. Tudo que pode vir de bom de nós humanos, vem obrigatoriamente de Deus e Deus é amor incondicional. Para evitar que pessoas não convertidas, sem amor no coração, estejam à frente de ministérios e rebanhos do Senhor, todo cristão, por si mesmo, precisa deixar de querer ter intermediários humanos e ir diretamente a Deus, por meio de Jesus Cristo – único intercessor entre Deus e os homens, conforme primeira carta a Timóteo 2, versículo 5, e exercer o seu sacerdócio real, conforme primeira carta de Pedro 2, versículo 9, exercer o ministério da reconciliação – que é atribuído a todo salvo em Cristo, conforme segunda carta aos Coríntios 5, versículo 18, sem ficar esperando se achegar a Deus por intermédio de um homem mortal, pecador e falho como somos todos nós.

Pastor, presbítero, diácono, bispo, apóstolo e outros ministros do Evangelho devem ser vistos como funções atribuídas a homens que devem exercê-las com intuito de servir, conforme Marcos 10, versículos 42 a 45, não à igreja como instituição ou denominação, mas servir à “missão da igreja”, isto é, à causa do Senhor Jesus que é resgatar o maior número de pessoas possível das garras do pecado e de satanás, conforme carta aos Efésios 4, versículos 11 a 16, porque é vontade de Deus que todos os homens se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade, conforme Primeira carta a Timóteo, capítulo 2, versículos 1 a 4.

Está escrito “o meu povo perece por falta de conhecimento” e também está escrito “errais não conhecendo as escrituras nem o poder de Deus”, conforme Oséias 4-6 e Mateus 22-29. Todo cristão precisa estudar e meditar todo o tempo nas escrituras, conforme Salmo 1, versículo 1, e viver o amor de Deus de acordo com as escrituras, em Colossenses 3, versículo 12-14, e não de acordo com o mundo religioso.

Somente assim ofereceremos “sacrifícios vivos de louvor ao Senhor, sem negligenciar a contínua prática do bem e a mútua cooperação”, entre todos os irmãos uns com os outros; inclusive devemos cooperar com os líderes da igreja, mas todo cristão tem o dever de “lembrar de seus líderes, que os ensinaram a Palavra de Deus”, entretanto  devemos também “observar-lhes atentamente o resultado da vida que tiveram”, imitando-lhes a fé conforme Hebreus 13, versículos 7 a 15.

Mas é claro que nós cristãos não devemos imitar cegamente a fé que tiveram ou têm os nossos líderes, mas devemos examinar as escrituras, para conferir o que os nossos líderes estão nos ensinando e como eles estão vivendo o que pregam, para ver se o que pregam e vivem está de acordo verdadeiramente com a Palavra de Deus. Todo cristão deve se portar como os bereanos, porque, segundo registro em Atos 17, versículo 11, os bereanos “receberam a mensagem com vívido interesse, e dedicaram-se ao estudo diário das Escrituras, com o propósito de avaliar se tudo correspondia à verdade”.

Somente se o cristão estiver pregando a verdade e vivendo a verdade de acordo com o amor de Deus é que será uma verdadeira testemunha de Jesus, que prega o evangelho, conforme Atos 1, versículo 8, e não apenas um sino que retine.

Bento Adeodato Porto é procurador federal aposentado

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