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domingo, 26 DE janeiro DE 2025

O que há por trás da guerra em Israel?

O Hamas é a maior organização islâmica nos territórios palestinos. Foto: Reprodução internet/ AP Khalil Hamra

Apesar de massacres não terem justificativas, há explicações históricas e até religiosas.

Por Cristiano Stefenoni

O ataque terrorista do Hamas neste sábado (07) não pegou apenas Israel de surpresa, mas o mundo. Com mais de mil mortos, milhares de feridos e dezenas de reféns, este tem sido considerado um dos piores ataques a civis judeus desde a época do Holocausto, durante as décadas de 1933 e 1945, na Segunda Guerra Mundial. Mas afinal, o que está por trás de tanto ódio contra o povo israelense?

Apesar de massacres não terem justificativas, há explicações históricas e até religiosas. Para historiador, professor e pastor Rodrigo Silva, mestre em Teologia Histórica, doutor em Arqueologia Clássica e Ph.D. em Arqueologia Bíblica, a disputa por territórios sempre foi a principal razão para os conflitos.

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Ele explica que nenhuma outra cidade foi tantas vezes destruída e reconstruída ao longo da história como Jerusalém, sendo as duas principais datadas nos anos de 587/586 AC e a de 70 DC, com a destruição do primeiro templo por Nabucodonosor, e a do segundo, pelo general Tito, respectivamente.

Após essa última invasão, grande parte dos judeus foi espalhada pelo mundo, dispersão que já havia sido iniciada após o cativeiro na Babilônia. Todo esse movimento recebeu o nome de diáspora (do Grego, “semente lançada”). Contudo, nem todos os judeus foram embora de Jerusalém e das regiões circunvizinhas.

Segundo Rodrigo, a primeira dispersão aconteceu quando o povo ainda era chamado de ‘israelita’ e os assírios transportaram cativos as tribos do Norte de Israel. Daí só ficaram as tribos do Sul, que seriam Judá, Benjamim e uma parte pequena de Manasses. Quando a região é atacada por Nabucodonosor, o povo já era chamado de judeu, pois havia prevalecido a tribo de Judá.

Depois a invasão do ano 70 DC, houve outra destruição de Jerusalém, nos anos 132-135 DC. Após uma revolta liderada pelo judeu zelote chamado Bar Kochba, ao tentar atacar Roma, teve seus planos frutados pelo imperador romano Adriano. Como consequência disso, Jerusalém foi rebatizada pelo nome pagão Aelia Capitolina (dedicada ao deus Júpiter Capitolino) e os judeus foram banidos e proibidos de pisar na Terra Santa novamente.

“A região ficou oficialmente chamada de Síria Palestina. Na tradução, Palestina seria um trocadilho com Philistina, a terra dos filisteus. Daí a terra dos judeus deixou de ser um país e se tornou um território cada hora ocupado por um grupo diferente. Vieram os persas, depois com Constantino no Império Bizantino, seguidos dos egípcios e dos sírios”, explicou Rodrigo em uma live em seu canal no YouTube.

De acordo com o professor, depois, no sexto século, houve o início do Islamismo, e um revezamento no poder na região, como os cruzados, que queriam reconquistar Jerusalém para peregrinação dos cristãos, e os mulçumanos, para sua peregrinação, onde eles acreditavam – por tradição, pois não está no Alcorão – que o local teria sido onde o profeta Maomé teria subido aos céus até presença de Alá.

Então, em 1517, o Império Turco Otomano chega a Jerusalém e passa a controlar a região, assim como outros povos como Egito, Síria, Jordânia, parte da Arábia Saudita, Líbano, Grécia e Turquia atual.

“Em 1917-1923, quando houve a queda do poder dos sultões otomanos, é criada a Republica Turca. Contudo, a Turquia não tinha mais condições de manter o controle daqueles lugares ocupados e começa a devolvê-los. Então se inicia o mandato britânico em Israel. E foram os burocratas que começaram a desenhar, no início do século 20, os países do Oriente Médio. Do ponto de vista histórico, não havia um país chamado ‘Palestina’ que foi tomado por Israel”, explica Rodrigo Silva.

O início dos conflitos

O professor Rodrigo ressalta que, naquela época, já havia motor automotivo e um interesse no Oriente Médio de países da Europa, exatamente por conta do petróleo na região. Com isso, os britânicos passam 30 anos escavando Israel, de norte a sul, mas não encontram nada.

Sem conseguir o que queriam e com a insistência de líderes judeus para que suas terras fossem devolvidas, a Grã-Bretanha cria, em 2 de novembro de 1917, a Declaração de Balfour, que se baseava no Sionismo, movimento que defende a autodeterminação do povo judeu em sua “terra histórica”, que vai do Mediterrâneo até o lado oriental do Rio Jordão.

A questão é que os árabes também lutavam por sua independência do Império Otomano e acreditavam que, dentro das terras a que tinham direito no Oriente Médio, estava a Palestina.

Quando o Império Otomano foi derrotado, a Liga das Nações (a ONU na época) determinou que o Reino Unido administrasse esses territórios. E em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU adotou a resolução 181, aprovando o plano de divisão da Palestina, criando um estado Árabe e um Judeu. Mas os árabes se negaram a aceitar essa divisão e não assinaram o acordo. Foi quando, então, começaram os conflitos.

O que há por trás da guerra em Israel?
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU adotou a resolução 181, aprovando o plano de divisão da Palestina. Foto: Reprodução Queens Museum

A polêmica da faixa de Gaza

Após a criação do Estado de Israel, muitos palestinos fugiram para a Faixa de Gaza, uma extensão territorial no Oriente Médio, que faz fronteira com o Egito e Israel, criada entre 1948 e 1949, quando a Palestina foi dividida. Cerca de 2 milhões moram no local, a maioria, refugiados. O Egito controlou a região até 1967, quando Israel venceu a “Guerra dos Seis Dias” e incorporou a Faixa de Gaza aos seus territórios.

Porém, em 2006, os palestinos, maioria local, passaram a administrar a Faixa de Gaza e parte da Cisjordânia. A própria população votou em políticos ligados ao Hamas, que ocupam 74 das 132 cadeiras legislativas disponíveis.

A origem do Hamas

Com origem em 1987, o nome Hamas, na verdade, é uma sigla que abrange o termo Ḥarakat al-Muqāwamat al-Islāmiyyah, que significa “Movimento de Resistência Islâmica”. Trata-se da maior organização islâmica nos territórios palestinos e que possui aliança com o Irã, a Síria e o grupo islâmico xiita Hezbollah, no Líbano.

No “Estatuto do Hamas”, eles definiram a Palestina, incluindo a atual Israel, como terra islâmica. Lá está escrito: “Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele”.

A religião como parte do conflito

Apesar do conflito entre palestinos e israelenses está fundamentado na disputa geográfica por territórios, o fator religião possui um grande peso nesse processo. Isso porque Israel acredita que essas terras foram dadas por Deus a Abraão e seus descendentes, portanto, são suas por direito. Já o Islã entende que a terra de Israel foi dada por Alá aos mulçumanos.

De acordo como professor e escritor, Magno Paganelli, que é doutor em História Social e mestre especialista no conflito Israel-Palestina e no Hamas, o componente religioso é um ingrediente a mais nessa guerra.

“Os judeus vão utilizar a Bíblia como argumento para defender a anterioridade deles na terra dizendo que Deus os levou para lá e deu essa terra a Abrão, Isaac e Jacó. O Islã entende que a terra de Israel foi dada por Alá ao seu povo, é uma dotação que não pode ser tomada por outros. Tem que estar na mão e no controle dos muçulmanos”, explica Paganelli.

O professor acredita que, infelizmente, em conflitos assim a Palavra de Deus costuma ser usada para tirar vantagens. “O movimento sionista começou no século XIX. Eles eram, basicamente, socialistas do leste europeu, vindos da União Soviética. Usaram a narrativa religiosa de que a terra no passado era dada por Deus aos judeus como argumento para poder ganhar apoio numa Europa cristã. Mas originalmente o movimento sionista não era religioso, apenas usava o componente religioso”, afirma.

De acordo com Paganelli, a paz entre os povos seria mais fácil se houvesse uma melhor compreensão das Escrituras e que ambos entendessem que Deus deseja que cada um viva feliz em suas respectivas terras, já que o plano divino não se refere ao plano terreno.

“A esperança do cristão é da Jerusalém Celestial. Nem mesmo Abraão, que recebeu a promessa da terra, a herdou fisicamente. Ali fala que ele peregrinou como estrangeiro em terra alheia, não construiu uma casa de alvenaria, morou em tendas porque aguardava a cidade cujo arquiteto e fundador é Deus”, enfatiza.

Guerra pode demorar acabar

Para o professor, a guerra envolvendo Israel e o Hamas pode levar meses para acabar. “Em um conflito, quando um ataca o outro revida. Mas nesse caso de agora, não. Os reservistas foram convocados, o pessoal está se organizando, invadindo, fazendo ataque de guerra. Então, provavelmente, isso deve durar uns quatro ou seis meses”, prevê.

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