Estudos apontam a influência da genética e do ambiente no comportamento do ser humano, enquanto a fé cristã lembra que a renovação da mente, em Jesus Cristo, pode transformar padrões herdados dos pais
Por Rodrigo Araujo
A expressão “tal pai, tal filho” atravessa gerações como uma forma popular de explicar semelhanças entre pais e filhos — seja no jeito de falar, na forma de agir ou até no temperamento. Mas afinal, o que realmente determina a personalidade de uma pessoa: a genética, o ambiente em que ela vive, ou uma combinação dos dois fatores?
Na ciência, esse debate é antigo. Pesquisas realizadas em diferentes países têm buscado entender o peso dos genes e das experiências no desenvolvimento humano.
Um dos estudos foi conduzido na Universidade de Lund, na Suécia, e revelou que os traços de personalidade não surgem apenas das vivências, mas possuem também um forte componente genético. Isso significa que características como extroversão, organização ou tendência à ansiedade podem ter, em parte, uma base herdada biologicamente.
O pesquisador Petri Kajonius destaca que, embora os genes estejam presentes desde cedo, eles só se expressam em sua plenitude entre os 25 e 30 anos, quando a identidade de cada pessoa se consolida.
Kajonius ressalta que o ambiente exerce grande influência na infância e na adolescência, mas os traços herdados geneticamente só se tornam nítidos na vida adulta jovem. Nesse período, segundo ele, os genes entram em ação com mais força, determinando a consolidação de traços já presentes desde o nascimento.
Esse “despertar genético” explica o porquê de muitas vezes só reconhecemos a semelhança com nossos pais em termos de personalidade depois dos 25 anos, quando passamos a manifestar comportamentos e posturas muito próximos aos deles.
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Doação de Sangue: 53 bolsas foram coletadas em ação de igreja com Hemoes - A iniciativa aconteceu no último sábado (8), na Igreja Assembleia de Deus Fonte de Vida em Itaparica (ES). Nova ação já está prevista para 2026 A influência da genética no comportamento humano também é explorada pela ciência em estudos com gêmeos, método clássico da genética comportamental. Pesquisas apontam que de 40% a 60% da variação em traços de personalidade pode ser atribuída a fatores genéticos, enquanto o restante se deve ao ambiente.
Estudiosos do assunto também destacam o papel da interação entre genes e ambiente. A forma como percebemos o contexto pode ser, em parte, determinada geneticamente, como mostrou um estudo publicado na Twin Research and Human Genetics. Outro trabalho revelou que até a recorrência de certos eventos de vida pode ser influenciada pelos traços de personalidade herdados.
Ou seja: a ciência mostra que somos resultado de uma teia complexa entre biologia, ambiente e experiências pessoais.
A herança espiritual segundo a fé cristã
Se a ciência indica que genética e ambiente caminham juntos, a fé cristã traz uma perspectiva adicional: a herança espiritual. A Bíblia reconhece que os filhos podem reproduzir padrões aprendidos dos pais, tanto positivos quanto negativos. Mas ela também aponta um caminho de transformação.
O apóstolo Paulo, em Romanos 12:2, ensina: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.

A mensagem reforça que, ainda que carreguemos marcas da família ou do ambiente, Deus nos convida a romper com ciclos nocivos e a cultivar virtudes como amor, paciência e domínio próprio.
“Uma pessoa que tenha recebido uma herança ruim da família não deve levar essa carga por toda a vida. Cristo tem o poder de fazer a ruptura com o histórico ruim da família de origem. Essa ruptura pode ser difícil, mas plenamente possível”, destacou o pastor e terapeuta familiar Gilson Bifano, que cita a história de Abraão como exemplo.
“Ele deixou uma terra onde reinava o politeísmo e passou a seguir a vontade de Deus para sua vida. Foi conhecido como Amigo de Deus”, completa.
O pastor da Primeira Igreja Batista de Madureira, no Rio de Janeiro, José Paulo Moura Antunes, que também é psicólogo clínico e missionário associado do Ministério Oikos-Ministério Cristão de Apoio à Família, reconhece que uma cultura familiar opressora, doentia e disfuncional pode trazer consequências negativas para a vida dos filhos, justamente pela falta de uma boa referência. Porém, ele ressalta que, ainda assim, existe uma saída.
“Quando ocorrem influências ruins, fruto da ignorância, do ambiente ou das escolhas, a mente é renovada a partir de um sincero e verdadeiro arrependimento, seguido de mudanças intencionais visíveis, novas escolhas, novos caminhos e um novo proceder”, afirmou Antunes, que citou a parábola do filho pródigo para exemplificar que, mesmo diante de boas influências dos pais, um filho está sujeito a ser induzido ao mau caminho.
“O exemplo do filho mais novo, na parábola mais conhecida da Bíblia (Lucas 15.11-32) que, mesmo diante de um bom exemplo paterno, contrariou as normas e decidiu sair de casa, nos mostra que, quando um erro acontece, independentemente do fator causador, é preciso admiti-lo, corrigi-lo e, caso seja necessário, exercer o perdão. Quando relacionamentos familiares são restaurados, a festa é previsível”, acrescenta.
Portanto, a herança genética e a influência do ambiente não são destinos imutáveis. A fé oferece um espaço de liberdade e esperança: a possibilidade de recomeçar, de moldar a própria vida não apenas pelo que recebemos, mas pelo que escolhemos viver à luz da Palavra de Deus.
Influência dos pais devem vir com exemplos

O pastor da PIB de Madureira destaca ainda que os pais são instrumentos de Deus para ensinar e manter os valores morais e éticos, principalmente os valores espirituais na vida dos seus filhos. Ele cita o livro de Deuteronômio para lembrar que, ao criar a família, Deus planejou transmitir as suas bênçãos para as gerações sucessoras.
“Daí a orientação sobre a necessidade dos pais no papel de educadores. A ordem era muito clara. Uma vez que as palavras do Senhor já tinham alcançado um solo fértil no coração dos pais, agora estes estariam aptos a transmitir aos seus filhos: ‘Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar’ (Dt 6.7)”.
Gilson Bifano, porém, destaca que os pais devem passar aos filhos não só ensinamentos teóricos, mas mostrar na prática o que deve ser feito.
“Os pais, com certeza, têm um grande desafio em levar seus filhos a Cristo. Creio que esse trabalho é o maior desafio dos pais. Para tanto, é preciso que os filhos vejam nos pais um testemunho claro de um verdadeiro cristianismo. Não adianta nada falar de Cristo, se a vida não for um exemplo para os filhos”.
O pastor José Paulo reforça a afirmação de Bifano, acrescentando que os pais devem aproveitar todas as oportunidades possíveis para apresentar Deus a seus filhos, a partir da experiência que tiveram.
“Primeiramente os pais recebem o ensino e obedecem, consequentemente se apropriam da verdade que aprenderam e passam a dar testemunho vivo e prático da fé na vida dos seus filhos”, afirma.
“Conforme a recomendação de Provérbios 22.6, os pais não devem apenas ensinar os filhos o caminho em que eles devem andar, mas principalmente ensinar no caminho, ou seja, sendo exemplo constante. Essa mudança faz toda a diferença”, completa.
O assunto também foi abordado pelo pastor Francisco Parisi, da Igreja Batista Adonai, em Fortaleza (CE), em conversa com Comunhão em maio deste ano. Na ocasião, Parisi afirmou que ensinar não se resume a transmitir doutrinas ou frequentar atividades religiosas, mas que o caráter dos filhos é moldado, antes de tudo, pela coerência entre o que os pais falam e vivem.
“Muitos pais querem que seus filhos sejam protegidos, mas não dão exemplo de temor ao Senhor”, alertou o pastor, que deu um exemplo muito comum no cotidiano: “A mãe que, não querendo receber uma pessoa que estava batendo na porta da sua casa, mandou o menino dizer para aquela pessoa que ela não estava”. Segundo ele, embora pareça inofensivo, esse tipo de atitude ensina, na prática, a mentira e mina a integridade que se deseja ver nos filhos.
“Pais cristãos precisam mostrar Cristo aos filhos, em primeiro lugar, com a vida. Esse exemplo deve visto em todas as áreas: no relacionamento conjugal, nas finanças, no relacionamento com vizinhos. Esse é primeiro caminho. O segundo é falar de forma natural, cotidianamente. Falar da alegria cristã, de Jesus como amigo e Salvador”, ressaltou Gilson Bifano, que também frisou a importância de frequentar uma igreja em que a Bíblia é ensinada fielmente. “A igreja é a parceira da família no objetivo de levar os filhos ao pé da cruz”, acrescenta.
Segundo o pastor José Paulo, quando bons exemplos são passados dos pais para os filhos, a tendência é que esses ensinamentos se perpetuem para as gerações vindouras.
“‘Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa preciosa que Ele dá’ (Salmo 127.3). E dependendo da maneira como foram educados pelos seus pais, serão os grandes influenciadores para os seus filhos e a maneira como eles serão educados. Geralmente filhos que têm ou tiveram bons pais serão bons pais. Há marcas que permanecerão; há impressões que os pais deixam na vida dos filhos, que ficarão para sempre; há ensinamentos que o tempo não apagará”, finaliza.
Com informações da Agência Correio

