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quinta-feira, 25 abril 2024

O outro mar é morto!

O clima estranho é assombrador e denso. Não há peixes, nem casas, nem praias, nem jardins. O céu é escuro

Por Clovis Rosa Nery

Na Palestina conheci dois mares. O mar da Galileia e o outro mar, o mar Morto. Eles são vizinhos. Ambos são formados por águas do rio Jordão, e possuem o mesmo tipo de solo.

Sobre as águas cristalinas do mar da Galileia fiz um inesquecível passeio de barco, vislumbrei vales, bosques e campinas verdejantes que ornamentam seu litoral. Nele há peixes em abundância. Tudo é vivo e irradia uma energia extraordinária. Em suas margens existem lindas casas, jardins floridos, belas praias e águas termais. Naquela região o sol brilha para moradores e visitantes. O céu desse mar é claro e azul.

Não tão distante desse mar, existe  o outro mar.  Ele é sombrio. Em suas margens há um deserto assolador. Nele não há vida. Tudo ali é morto. O clima estranho é assombrador e denso. Não há peixes, nem casas, nem praias, nem jardins. O céu é escuro.

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O mar da Galileia, ao receber as águas do Jordão, não as retém para si somente, mas as distribui.  Ele não é egoísta. Ele não é individualista. É vivo. O outro mar, ao contrário, fica com toda a água. Ele não reparte nada. É egoísta. É individualista demais. É frio. É morto!

O cristão não pode ser igual ao outro mar. Em João 17: 21 e 22, quando Jesus orou para que os cristãos fossem um como Ele e o Pai, na verdade, deixou expresso em Suas palavras o desejo sincero que todos fossem um em propósito, e um na vontade de conquistar o mundo, sendo bênção uns para os outros.

Contudo, no dia a dia, nós tendemos a generalizar comportamentos e, sem percebermos, arriscamos ficar como o outro mar, porque, ao adaptamos ao modo de vida secular, silenciamos algumas de nossas convicções. Aí está uma das causas deste sentimento que nos é comum neste século, salvo exceções, a grande preocupação individual e a relativa frieza espiritual.

A despeito da nossa mesquinhez, inclusive na religiosidade formal, atenuamos a nossa condição de seres caídos, argumentando que a luta pela sobrevivência, com as suas mil e uma agitações sufocam a alma, enchendo-a de perturbações, transtornos e aflições, o que, certamente, se agravará na pós-pandemia.

Outrora, Tolstoi já dizia: “A vida do homem é dupla: uma, íntima e individual, tanto mais independente quanto mais elevados e abstratos os seus interesses; outra, a vida geral, a vida no formigueiro humano, que o envolve com suas leis e o obriga a cumpri-las”.

Certo é que, com as subjetividades potencializadas pela imprevista ruptura social, mudanças, tanto em níveis coletivo, quanto individual, serão inevitáveis. Como seremos enquanto pessoas: mais ou menos frias? Mais ou menos individualistas? Assusta-nos a possibilidade de o necessário isolamento social estimular o congelamento social, assemelhando-nos ao outro mar.

Urge que, sem hubris, sem jaça e sem subterfúgios, busquemos o Senhor, enquanto O podemos achar, porque o período da Graça pode estar no limiar das últimas horas.

Mesmo com a adversidade nos assolando, ainda temos esperança. Porfiemos por atingir aquele estágio em que, como cristãos, não resignaremos ante as dificuldades, nem alterquemos com pressões, pois caminhamos em direção ao Lar Celestial. Estamos no mundo, mas não somos dele. Que sejamos menos individualistas, que importemos com os outros, pois fazemos parte de um corpo e, quando um membro sofre, todo o ser padece e se compadece junto. Que sejamos um pelos laços do amor. Que Jesus seja o nosso modelo. Então, unidos em Deus e guiados pelo Espírito, não seremos como o outro mar.

Clovis Rosa Nery é Psicólogo e escritor

 

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