Sem causar alarde, a pornografia tem visitado cada vez mais os lares cristãos. O que está acontecendo?
Por Patrícia Esteves
O consumo de pornografia, antes visto como um tabu entre cristãos, tem se tornado um problema silencioso que afeta vidas espirituais e relacionamentos conjugais. Dados alarmantes indicam que a diferença entre o consumo de material pornográfico por cristãos e não cristãos está diminuindo, revelando uma questão que desafia tanto a fé quanto a cultura.
Nos Estados Unidos, o estudo Beyond the Porn Phenomenon (Além do fenômeno pornô), conduzido pela Barna em parceria com o Pure Desire Ministries (Ministério Desejo Puro –que ajuda pessoas com vício em pornografia), apontou que cerca de 54% dos cristãos entrevistados consomem pornografia regularmente, um número próximo dos 68% registrados entre não cristãos. O fenômeno também afeta mulheres: 40% das mulheres cristãs admitiram consumir conteúdo pornográfico.
Embora o Brasil careça de pesquisas específicas sobre o tema, líderes evangélicos têm alertado que a realidade não deve ser muito diferente. A crescente acessibilidade digital, associada a mudanças culturais, reflete no aumento do consumo desse conteúdo também entre fiéis.
Uma “doença moral” com consequências profundas
O pastor Josué Gonçalves descreve a pornografia como uma “doença moral” que desvaloriza o sexo ao isolá-lo do amor e promove uma visão deturpada da sexualidade. Segundo ele, a pornografia é baseada em mentiras que deformam a percepção do que significa intimidade, contribuindo para um distanciamento emocional entre cônjuges e para problemas conjugais mais amplos.
A influência da pornografia também é devastadora na vida conjugal. Cecilia Reggiani, do Coletivo Benditas, ressalta que muitas mulheres nas igrejas enfrentam dificuldades em encontrar satisfação sexual nos casamentos e acabam recorrendo à pornografia em busca de um preenchimento ilusório.
“Os filmes pornográficos oferecem uma sexualidade superficial e irreal, que muitas vezes levam à insatisfação e ao isolamento dentro do casamento”, observa Reggiani.
Tabu que silencia as igrejas
Um dos maiores desafios no combate à pornografia dentro da comunidade cristã é o tabu que envolve o tema. Muitas igrejas relutam em discutir questões relacionadas à sexualidade por medo de julgamento ou má interpretação.
O pastor Cláudio Duarte acredita que a falta de habilidade dos líderes em abordar o tema contribui para esse silêncio. “Se um pastor fala que é permitido ir a um motel, por exemplo, o que os fiéis vão pensar? Que ele vai a motel. Então, ele prefere não dizer. É uma questão de habilidade para tratar do assunto”, reflete.
Esse silêncio, no entanto, tem um custo elevado. Nos EUA, 82% dos cristãos que lutam contra o vício da pornografia relatam que “ninguém” os ajuda na jornada de recuperação. Para Nick Stumbo, diretor do Pure Desire Ministries, o isolamento é um dos principais fatores que perpetuam o problema.
“O isolamento é o playground do inimigo. Precisamos de igrejas que criem espaços seguros para que os fiéis compartilhem suas lutas sem medo de julgamento”, afirma Stumbo.
Como as igrejas podem agir?
A pesquisa da Barna sugere que líderes religiosos adotem medidas como:
- Estabelecer parcerias com especialistas.
- Oferecer educação sexual adequada.
- Promover ambientes seguros para conversas honestas.
No Brasil, líderes como Josué Gonçalves e Cláudio Duarte têm se esforçado para alertar sobre os perigos da pornografia, incentivando fiéis a buscarem ajuda espiritual e emocional. Nos EUA, iniciativas como a Pure Desire Ministries têm liderado esforços para fornecer ferramentas de recuperação. Para Stumbo, é essencial que a igreja seja um lugar de esperança. “Quando abordamos esse tema de frente, com compreensão, a igreja cumpre seu papel de cura e restauração”, conclui.
A pornografia, embora seja um desafio crescente, não precisa ser enfrentada sozinha. Com diálogo aberto, apoio comunitário e orientação espiritual, é possível reverter esse problema que tanto afeta a fé e os relacionamentos cristãos.