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sábado, 8 DE fevereiro DE 2025

O fenômeno das dinastias no meio evangélico

A liderança se perpetua pelas gerações e o vínculo familiar tem maior peso do que a capacidade para o exercício da função. Isso é o que chamo aqui de dinastia

Por Joarês Mendes de Freitas

Nas últimas semanas, boa parte das notícias sobre as igrejas evangélicas tem destacado as divergências entre os “herdeiros” de uma das maiores igrejas evangélicas do Brasil. A contenda entre os irmãos tem dividido opiniões nas redes sociais e o caso chegou até os tribunais.

O fato nos remete a um fenômeno crescente no Brasil. Trata-se da criação de dinastias em algumas das maiores comunidades evangélicas do país. Observa-se que pastores (bispos ou apóstolos), ao fundarem a instituição, adotam um modelo de administração autocrático, ou melhor dizendo, monocrático, onde as decisões são tomadas pelo presidente que, em alguns casos, nomeia um conselho para referendar as suas decisões. Assim, é o próprio fundador quem decide sobre a sua permanência à frente da igreja e cabe a ele nomear os novos dirigentes.

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No processo de sucessão, a prioridade é a manutenção do controle da instituição pela família do fundador. Isso é o que chamo aqui de dinastia, a liderança se perpetua pelas gerações e o vínculo familiar tem maior peso do que a capacidade para o exercício da função.

A questão não tem a ver com as pessoas que vão continuar o trabalho, mas com o processo como essa nova liderança é escolhida. A eleição deveria ser prerrogativa da comunidade, que precisa traçar o seu perfil a partir das características e necessidades do grupo, além de buscar a direção de Deus, claro.

Bruce L. Shelley, no livro A igreja: o povo de Deus, chama atenção para o que chama de deturpações da forma da igreja, destacando o institucionalismo, cuja ênfase está no ministério oficial. Ele diz: “Para eles, a igreja é o ministério, quer seja o papa, bispo, presbíteros ou pastores-professores. A igreja é menos o povo de Deus do que uma classe oficial de ministros” (p.59).

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Parece claro que o modelo administrativo das igrejas do Novo Testamento era o congregacional. Em Atos, a escolha do substituto de Judas é feita pelo grupo dos 120 irmãos (1.15); os auxiliares dos apóstolos, que deveriam cuidar da provisão para as viúvas, foram escolhidos pela igreja (6.5); os primeiros missionários foram separados e enviados pela igreja em Antioquia (13.3); o impasse com os judaizantes sobre a guarda da lei cerimonial pelos cristãos foi julgado por uma assembleia em Jerusalém (15.12).

Ao dizer que edificaria a “Sua Igreja” (Mateus 16.18) Jesus tomou o termo EKLESIA de uso comum pelos gregos, para designar uma assembleia de cidadãos livres para decidir questões locais. Jesus deu à expressão um sentido espiritual. Mas a ideia de autonomia da congregação permaneceu.

No pensar de Francis Schaeffer, “Em toda a viagem missionária de Paulo observamos uma ênfase na formação de igrejas locais, não se trata de igreja, mas de igrejas: igrejas individuais se formaram” (A Igreja do final do século XX, p.75).

A Igreja, no sentido universal, ainda é invisível e intangível, logo não há o que dizer sobre o seu governo terreno, enquanto que as igrejas são comunidades locais que devem ter autonomia administrativa.

Joarês Mendes de Freitas é pastor emérito da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória, ES

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