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segunda-feira, 21 DE abril DE 2025

O Evangelho segundo a minha opinião

É bem verdade que, até antes das reformas protestantes do séc. XVI em diferentes territórios na Europa, apenas a elite tinha acesso aos textos bíblicos e detinha o poder político, econômico, religioso e militar

Por Magno Paganelli

Houve um tempo em que a Igreja exercia influência marcante na sociedade. Especialmente no Ocidente, onde as Boas Novas de Jesus encontraram maior acolhida do que no Oriente, a mentalidade cristã moldou desde o comportamento social até decisões macro, fossem elas para o bem ou para o mal.

É bem verdade que, até antes das reformas protestantes do séc. XVI em diferentes territórios na Europa, apenas a elite (religiosa, reis e artistas) tinha acesso aos textos bíblicos e detinha o poder político, econômico, religioso e militar. A participação do povo era praticamente nula, embora entre 1300 e 1500 d.C. despontassem grupos pró Reforma (como os valdenses) e eclodissem revoltas populares, sendo a dos Camponeses a mais expressiva, em territórios luteranos na Alemanha, Suíça, Áustria e França. Essa foi a revolta mais radical até a Revolução Francesa, em 1789.

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Mas não se engane que uma manifestação, por ser de camponeses, fosse mal orientada do ponto de vista do recurso à Bíblia. Líderes e porta-vozes como Thomas Müntzer (1489-1525) foram movidos por uma reflexão teológica sobre a situação socioeconômica de seus liderados, os camponeses. Müntzer era um sacerdote latino bem-educado e chegou a unir-se a Martinho Lutero durante um período, tendo discutido temas teológicos com ele, confrontando o grande reformador em seus posicionamentos bíblicos.

Afirmações, posicionamentos, tomadas de decisões, como mencionei no primeiro parágrafo, eram buscadas na Escritura Sagrada, ainda que houvesse – o que é natural – divergência de interpretação; isso é inevitável, já que Deus nos deu um texto para interpretar, não uma equação de primeiro grau.

Hoje, diferentemente do passado, o comportamento do cristão mediano é bastante distinto. Embora tenhamos acesso a versões variadas da Bíblia, inclusive gratuitas e on-line, comentários para todos os gostos, podcasts, congressos, canais de pastores e teólogos no Youtube, cristãos, tanto evangélicos quanto católicos, baseiam suas decisões, moldam sua mentalidade e orientam seu comportamento a partir da própria opinião – e essa não recorre a uma cosmovisão bíblica!

O que tem definido a presença cristã no mundo, desde posicionamentos políticos até decisões pessoais, é a própria opinião, e essa é moldada pela cultura do meio, ou seja, as ideias do grupo ao qual se pertence – seus gostos pessoais, interesses, interações culturais e preferências individuais.

A Bíblia, com seus princípios e valores claramente vistos, com a vasta apresentação de temas e considerações sobre vida interior, mudança de mentalidade e relações sociais, raciais, econômicas, espirituais e culturais, sequer é levada em conta em uma reflexão ou diálogo. Se, ao discutir um tema, o cristão de hoje diz pensar do modo A, e a Bíblia se mostra no modo C, sequer haverá consideração por issp; ela não é citada em momento algum: o que vale é a opinião pessoal, que muitas vezes carrega preconceitos, radicalismos e preferências pessoais do meio.

Bem, o resultado disso é que a Igreja segue sendo mais uma entre tantas vozes no melo da multidão, sendo outras mais bem-informadas, e jamais será uma voz que clama no deserto, preparando o caminho para a vinda do Senhor.

Magno Paganelli é pós-Doutor e Doutor pela USP, Mestre em Ciências da Religião
(Mackenzie), professor, escritor e editor. Instagram e Youtube @magnopaganelli.

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