Especialistas defendem que boa parte da atual geração de cristãos não tem sido discipulada e que modismos ministeriais não vêm trazendo resultado satisfatório.
Jesus chama de discípulos todos aqueles que permanecem em Sua Palavra. E os apóstolos propagaram o Evangelho seguindo a receita dada pelo Mestre: discipulado é relacionamento. Os métodos de instrução e associação, que também são conhecidos como de ensino e comunhão, estavam presentes no ministério dos apóstolos e dos primeiros cristãos. “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e anunciar a Jesus Cristo” (Atos 2).
Novo discipulado
O sociólogo ressalta ainda que a dificuldade da Igreja em cumprir Romanos 12 (não se conformar, mas se transformar) justamente porque a transformação não ocorre de maneira automática, sendo resultado de ensinamento. “Onde não há ensino, dificilmente a transformação acontece. O que vinga é a lei sociológica, que é a conformidade com a sociedade-ambiente. Perdemos a ética da fé transformadora da sociedade e da cultura. Em vez disso, temos o triunfalismo do crescimento numérico. Substituímos a ética protestante clássica da diligência no trabalho e frugalidade no viver e adotamos a teologia da prosperidade”, acrescenta.
A prática do discipulado é uma ferramenta importante na vida do Corpo de Cristo, sendo essencial para o crescimento qualitativo das igrejas cristãs.
O missionário Rubens Múzio, também da Sepal, declara que uma mentalidade de mercado tomou conta das igrejas. “A instituição Igreja no contexto mercadológico tem deixado de ser o ambiente do povo de Deus e assumido dimensões materialistas e consumistas. O ensino permanente da Palavra é a missão educadora da igreja”, opinou.
A Grande Comissão
O conceito de discipulado vem da Grande Comissão (Mateus 28:18-20). Nas palavras do pastor Jair Francisco Macedo, da Igreja Presbiteriana Pedra Viva (GO), trata-se de uma responsabilidade ordenada a cada discípulo de Jesus. O Ide responsabiliza o evangelista com cada pessoa que ainda não conheceu Cristo. “Não é uma tarefa dos líderes ou dos ‘profissionais’, mas de todos que já foram alcançados; é o trabalho cristão efetuado pelos membros da igreja, a fim de fazer dos novos crentes autênticos cristãos, cujas vidas se assemelham em palavras e obras ao ideal apresentado pelo Senhor Jesus Cristo”, ressalta o pastor presbiteriano.
No contexto da Grande Comissão está a evangelização, a proclamação do Evangelho, que envolve algo mais do que simplesmente anunciar as boas-novas de salvação; mas também a concessão do fundamento doutrinário básico capaz de tornar a pessoa consciente do que representa ser um cristão. “Por causa disso, a evangelização já traz em si um discipulado, ou seja, um aprendizado”, afirma o pastor Abel Scabello, da Congregação Batista em Barcelona.
É fato que ninguém faz discípulos para si, mas para o Reino de Deus através de sua vida no lugar onde se está. “Regressar ao discipulado bíblico é uma exigência urgente em nossos dias, por se tratar de um retorno ao método primitivo do Cristianismo com toda a sua eficácia, sem necessariamente abrir mão dos meios modernos de comunicação”, afirma o pastor Josué Vieira Amorim.
Considerado por muitos o maior missionário que o mundo já teve, o apóstolo Paulo traz ensinamentos primordiais para os que tomam como essência do discipulado cristão o evangelismo pessoal. Suas viagens missionárias, o contato diário com as pessoas para fazer Cristo conhecido e a busca por entender mais e mais de Deus devem servir como aprendizado.
O escritor William MacDonald, em sua obra “Discipulado Verdadeiro”, Editora Mundo Cristão alerta para o risco de não fazer da evangelização prioridade destacada para o discipulado. “A nova vida em Cristo, que desponta como um recomeço triunfante, sem a árdua fundamentação do discipulado pode fazer de cristãos sinceros crentes medíocres”.
Discipulado na prática
A iniciativa ainda persiste sob forma de grupos pequenos nos lares. “Com grupos reduzidos, sejam familiares, células ou reuniões de discipulado, a comunhão e o evangelismo ficam mais diretos e isso fortalece a igreja”, declarou Thalita Maia Badke, da Assembleia de Deus Resgate, em Vila Velha.
Foi exatamente isso que Barnabé e Paulo fizeram na igreja de Antioquia, a primeira formada por gentios na história da Cristandade. Como esses crentes não partilhavam das promessas de Deus, a exemplo dos judeus (Romanos 9:4,5), havia necessidade de instruí-los nas Escrituras, para que aprendessem o que é servir a Deus. Tinham, sim, se convertido ao Senhor, como pudera ser atestado por Barnabé, que percebeu terem eles, realmente, nascido de novo, terem sido alcançados pela graça de Deus e terem o propósito do coração de permanecer no Senhor (Atos11: 23). Mas isso era insuficiente para que pudessem transformar o propósito em realidade.
Mesmo com as mudanças no mundo e na realidade das igrejas, o caminho para ser salvo dos pecados não mudou. Com isso, seja através de estudos bíblicos em casas, nas ruas, em hospitais, em presídios, distribuição de panfletos nos sinais, mensagens enviadas por e-mail, postagens em redes sociais ou qualquer outra forma de propagação do Evangelho, o que importa é que a Palavra de salvação seja difundida sempre e intensamente, cumprindo a cada dia a missão essencial da Igreja: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15).
A matéria acima é uma republicação da Comunhão. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita. |