Pesquisas recentes colocam os pais como agentes de perturbação no ambiente escolar, desviando a atenção da questão principal: o conteúdo e as políticas adotadas pelas escolas
Por Patrícia Esteves
O debate sobre o envolvimento dos pais na educação dos filhos tem sido rotulado como “guerra cultural”, mas especialistas apontam que essa narrativa desvia do verdadeiro foco que é o bem-estar das crianças. Por causa disso, a relação entre pais e escolas tem se tornado um tema cada vez mais delicado.
Questões envolvendo currículo escolar, ideologias e políticas educacionais têm gerado debates intensos. Para muitos pais, participar ativamente da educação dos filhos não é uma questão de militância política, mas um dever inegociável.
No entanto, algumas pesquisas e discursos acadêmicos têm tratado essa participação como um fator de conflito, classificando-a como parte de uma “guerra cultural”. Um relatório publicado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Riverside e da UCLA, em outubro de 2024, apresentou um suposto impacto financeiro negativo causado por debates sobre políticas educacionais.
O estudo alega que os distritos escolares estão perdendo recursos devido a conflitos relacionados a temas como identidade de gênero, raça e conteúdo curricular. Entretanto, especialistas apontam falhas metodológicas e um viés na forma como o tema é abordado.
O que as escolas pensam sobre os pais?
A pesquisa coletou dados de 467 superintendentes escolares entre os 12.500 existentes no país, o que representa apenas 3,7% do total. Além disso, os próprios autores reconhecem que os entrevistados eram, em grande parte, líderes de distritos que enfrentavam conflitos mais intensos.
Outro ponto que gera controvérsia é a forma como o relatório retrata os pais. O estudo os coloca como agentes de perturbação no ambiente escolar, desviando a atenção da questão principal: o conteúdo e as políticas adotadas pelas escolas. Em vez de investigar se as instituições de ensino estão ultrapassando limites na formação dos alunos, o relatório foca nos custos administrativos causados pela resistência dos pais.
Para muitos responsáveis, questionar práticas educacionais que entram em choque com valores familiares não é um ataque às escolas, mas uma atitude de proteção aos filhos. “Quando as escolas promovem ideias que os pais consideram prejudiciais aos seus filhos, desafiar essas práticas não é se envolver em teatro político — é cumprir uma obrigação moral parental”, afirma Josue Sierra, diretor de comunicações do PA Family Institute.
Pais não querem discussões sobre gênero
Outro estudo recente, divulgado pelo jornalista Benjamin Ryan, reforça a preocupação dos pais. A pesquisa analisou os fundamentos científicos dos tratamentos de transição de gênero para jovens, que muitas escolas promovem sem o conhecimento dos responsáveis. Os resultados apontam que as evidências para tais práticas são frágeis e inconclusivas, o que dá respaldo aos pais que pedem mais cautela e transparência por parte das instituições de ensino.
Além disso, uma pesquisa conduzida pela organização Parents Defending Education revelou que a oposição a determinadas políticas escolares não é limitada a um grupo específico. O estudo mostrou que 72% dos pais discordam de medidas que permitem que escolas facilitem a transição de gênero de uma criança sem o consentimento dos responsáveis. Outros 60% rejeitam a inclusão de ideologia de identidade de gênero no currículo do ensino fundamental e médio.
Direito ou conflito?
A história mostra que mudanças sociais significativas foram impulsionadas por pessoas que não aceitaram passivamente determinadas normas institucionais. Pais que hoje questionam diretrizes educacionais são os mesmos que, no passado, teriam lutado contra a segregação escolar, leis de trabalho infantil ou barreiras para a educação feminina. Rotulá-los como participantes de uma “guerra cultural” pode ser uma estratégia para minimizar suas preocupações, mas não muda o fato de que seu envolvimento tem base legítima e merece respeito.
De acordo com Josue Sierra, em última instância, a participação ativa dos pais na educação não deveria ser vista como um problema, mas como um direito fundamental. Afinal, quando se trata do bem-estar e do futuro das crianças, é natural que os responsáveis queiram ser ouvidos e respeitados em suas convicções, defende o diretor. Com informações de Christian Post