Se a Reforma fosse nesse tempo no Brasil, o que poderíamos esperar? Hoje não seria tanto uma reforma doutrinária, mas na vida prática e ética
Por Lourenço Stelio Rega
O Censo de 2022 ainda não indicou dados precisos sobre a população evangélica no Brasil, que é estimada entre 31,8% a 39,8%. Mas um dado do Censo aponta que o número de igrejas supera a soma de hospitais e escolas no Brasil. Segundo a análise, o país tinha 579,8 mil estabelecimentos religiosos, enquanto havia 264,4 mil de ensino e 247,5 mil de saúde.
Mas há dados estatísticos importantes que não possuímos, tais como o do trânsito eclesiástico e religioso, incluindo a evasão de membros ou frequentantes de igrejas locais; quantidade de jovens e adolescentes – as novas gerações – mas também de idosos e de ministros mais jovens etc.
Já é possível notar o surgimento de movimentos emergentes entre os evangélicos, tal como a “igreja do sofá” após a pandemia, mas também a igreja de consumo do entretenimento gospel e a igreja do consumo cultural e da inclusão, que estão arrebanhando especialmente as novas gerações.
E as denominações históricas onde estão? Muitas se institucionalizaram, e é possível que muitas estejam se tornando entrópicas cumprindo seus programas e agendas mantendo seu “giro operacional”. Em uma classe de teologia ouvi que, neste caso, talvez estejam respondendo perguntas que já não existem mais. Temos esperança que líderes estratégicos, com ampla visão contemporânea e segurança bíblica venham a abrir espaço para um novo momento em algumas denominações históricas.
Um ouro cenário tem surgido com o discurso político “semantizado”, que vai se tingindo com a agenda e terminologia dos valores bíblicos criando militâncias especialmente a partir da última eleição para a presidência. O que se tem notado é o surgimento de intensa divisão inclusive alcançando o relacionamento entre muitos pastores, famílias e amigos, tendo se intensificado um senso de vigilância e certo “policiamento” de modo que quem pensa diferente pode ser “cancelado” e “bloqueado”.
Às vezes me pergunto se estamos “anestesiados” diante de um país em decadência moral, cada dia mais caótico, secularizado, corrompido, inseguro em que donos do poder e o poder de donos se tornam a lei reguladora da vida nacional. Talvez por estarmos vivendo uma espécie de ocupacionismo dominical provocado pelo pragmatismo-funcional, pelo salvacionismo escatológico, acaba tornando a igreja cada dia mais entrópica e desinteressada nesse cenário nacional alimentando a esperança escatológica da urgente volta de Jesus. Será que o que ocorreu com a igreja alemã diante do nazismo não nos ajuda a compreender o papel da igreja em relação ao mundo, seu papel profético, que deve se associar com a proclamação?
A dicotomia clero-laicato, em alguns círculos, está se fortalecendo e pastorear para alguns tem se tornado mais um assunto de empregabilidade, do que cuidar de gente.
Quando a Reforma estava completando seus 500 anos em 2017 iniciei uma pesquisa entre alunos e líderes perguntando se a Reforma fosse nesse tempo no Brasil, o que poderíamos esperar? A pesquisa continuou e, em resumo, o que tenho obtido é interessante, indicando logo de início, que, em geral, hoje não seria tanto uma reforma doutrinária, mas na vida prática e ética. Em destaque:
- Voltar aos cinco Solas
- Voltar às Escrituras e sua séria interpretação
- Aplicação das Escrituras na vida prática, reforma da vida interior e piedade, buscando respostas aos dilemas contemporâneos
- Sacerdócio de todos os fiéis, superando a dicotomia clero versus leigos
- Revisitarse na formação cristã por meio do lar
- Integralidade da missão da igreja (missĭo Dei) colocando o cristão na vida pública como sal, luz, embaixador do Reino
- Despertar ao discipulado e os dons de serviços enfatizando os diversos aspectos da missão da igreja
- Reconsiderar o lugar e o papel da mulher
- Evitar a teologia de mercado – deixar de manipular Deus
- Mais igreja (comunidade), menos instituição
- Mais pastoreio, menos gerência
- Estimular a alteridade – busca pelo próximo (Gl 6) – reaprendendo a preservação da unidade da igreja
- Saber lidar com as diferenças geracionais, incluindo os da Terceira Idade – integrar as gerações
- Deus no centro da Teologia – Teologia (doutrina e Deus) como “Teologia primeira”
- Analisar com profundidade a razão da existência dos “desigrejados”
- Menos sentimento de “clube”, mais de comunidade influenciadora
- Vida exemplar no ministério, com líderes-servos modelos que cuidem também de seu matrimônio e família à luz da Bíblia
- Abrir as “paredes da Igreja” para que haja mais relacionamento com a sociedade e comunidade à luz dos ideais bíblicos, para que ela volte a ganhar o direito de ser ouvida as Escrituras em busca do sentido bíblico da adoração
- Reação ao antropocentrismo da Hipermodernidade
- Ênfase na formação cristã por meio do lar
- Integralidade da missão da igreja (missĭo Dei) colocando o cristão na vida pública como sal, luz, embaixador do Reino
- Despertar ao discipulado e os dons de serviços enfatizando os diversos aspectos da missão da igreja
- Reconsiderar o lugar e o papel da mulher
- Evitar a teologia de mercado – deixar de manipular Deus
- Mais igreja (comunidade), menos instituição
- Mais pastoreio, menos gerência
- Estimular a alteridade – busca pelo próximo (Gl 6) – reaprendendo a preservação da unidade da igreja
- Saber lidar com as diferenças geracionais, incluindo os da Terceira Idade – integrar as gerações
- Deus no centro da Teologia – Teologia (doutrina e Deus) como “Teologia primeira”
- Analisar com profundidade a razão da existência dos “desigrejados”
- Menos sentimento de “clube”, mais de comunidade influenciadora
- Vida exemplar no ministério, com líderes-servos modelos que cuidem também de seu matrimônio e família à luz da Bíblia
- Abrir as “paredes da Igreja” para que haja mais relacionamento com a sociedade e comunidade à luz dos ideais bíblicos, para que ela volte a ganhar o direito de ser ouvida
E para você, qual deveria ser a reforma hoje?
Lourenço Stelio Rega é eticista e Especialista em Bioética pelo Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (Hospital Albert Einstein)