Compreender a diferença entre o amor bíblico e a luxúria é essencial para construir relacionamentos saudáveis, duradouros e espiritualmente alinhados
Por Patrícia Esteves
As redes sociais, os algoritmos e até algumas narrativas modernas sobre o amor têm nos oferecido versões reduzidas do que, de fato, significa se relacionar com alguém. No mundo de hoje, palavras como “conexão”, “intensidade” e “química” tornaram-se sinônimos de amor — mesmo quando o que está em jogo é apenas uma busca por prazer imediato e validação emocional.
A linha entre o amor verdadeiro e a luxúria se tornou cada vez mais tênue. E não é só uma questão moral ou espiritual. É também uma questão emocional, mental e relacional. A confusão entre essas duas experiências humanas tem gerado relações marcadas por insegurança, expectativa irreal e, muitas vezes, dor. Como discernir, então, entre um afeto genuíno e um desejo que apenas consome?
Firmeza silenciosa em tempos líquidos
A Bíblia apresenta o amor como um alicerce, e não como um sentimento passageiro. O termo grego ágape, usado no Novo Testamento, descreve um amor que se doa, que escolhe permanecer, mesmo diante das falhas. Em João 13:34-35, Jesus ordena “que vos ameis uns aos outros. Assim como eu vos amei”.
Para a terapeuta Bayleigh Griffith, do Dwell Ministry, esse amor é essencialmente voltado ao outro. “O amor bíblico é altruísta, sacrificial e incondicional. Ele é uma escolha deliberada de agir no melhor interesse do outro, mesmo que isso custe algo a nós”, destaca. Essa é a lógica do Evangelho, o amor que serve, sustenta e resgata, como o de Cristo pela Igreja.
É esse amor que também constrói relações saudáveis. Segundo Bayleigh, ele se manifesta “na paciência, na bondade, na ausência de inveja ou orgulho, tudo aquilo que Paulo descreve em 1 Coríntios 13”. São qualidades que desafiam os modelos contemporâneos, em que a pressa, a cobrança por perfeição e a performance no relacionamento sobrepõem a presença verdadeira.
A fome insaciável do ego
Em contraste, a luxúria é orientada pela busca de prazer imediato e pela objetificação do outro. No Sermão da Montanha, Jesus vai direto ao ponto. “Todo aquele que olhar para uma mulher com intenção impura, já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mateus 5:28). A luxúria não nasce de um toque, mas de uma disposição interna que transforma pessoas em meios de satisfação, conforme explica a terapeuta.


“A luxúria é, por natureza, centrada em si mesma. Ela reduz o outro a um objeto de desejo, sem se importar com sua alma, sua história ou sua dignidade como ser humano criado à imagem de Deus”, afirma Bayleigh. E esse tipo de impulso, segundo ela, não apenas desfigura a imagem do amor, como também compromete o nosso bem-estar emocional.
Não é à toa que, como terapeuta, ela observa com frequência os efeitos colaterais da luxúria em seus pacientes. “Ela cria ciclos de culpa, vergonha e insatisfação. A promessa de prazer rápido vem seguida de vazio e frustração”, conta. O resultado? Relações fragmentadas e um coração dividido entre o desejo e a carência.
Conexão ou consumo?
A diferença entre o amor e a luxúria pode ser percebida pelos frutos que produzem. O amor é duradouro, estável, profundo. A luxúria é momentânea, ansiosa e volátil. O amor gera segurança, intimidade e compromisso. A luxúria deixa rastros de comparação, cobrança e desilusão.
Bayleigh resume bem essa distinção dizendo que “o amor é um compromisso de ver e valorizar o outro como um todo. A luxúria vê apenas partes. Ela busca o que pode tirar da pessoa, não o que pode oferecer”. E mais: enquanto o amor respeita limites e amadurece com o tempo, a luxúria exige urgência, pressiona, atropela. Em vez de nutrir vínculos, ela seca raízes.
Relacionamentos que refletem o coração de Deus
O chamado bíblico é amar como Cristo amou. Mas esse chamado não é apenas para o altar ou para o namoro cristão ideal. É uma convocação diária a cultivar relacionamentos baseados no respeito, na entrega e na verdade.
Para Bayleigh, entender essa diferença não é sobre viver uma repressão emocional, mas sobre libertar-se das distorções que o mundo propõe. “Quando entendemos o que é o amor verdadeiro, somos libertos da ilusão de que precisamos ser desejados para sermos valiosos. Passamos a buscar vínculos que nos elevam, e não relações que nos consomem”, aponta a terapeuta.
O amor que permanece é aquele que atravessa fases, dificuldades e imperfeições. É o que constrói, cura e aponta para o eterno. A luxúria, por mais envolvente que pareça, nunca será suficiente. Porque, no fim, o que sustenta mesmo um relacionamento não é a intensidade dos começos, mas a profundidade das raízes. Com informações de Dwell Ministry