Como a visão cristã de Deus como Pai e a prática do amor ao próximo transformam as relações diárias e inspiram bons modelos de relações interpessoais
Por Patrícia Esteves
A noção de Deus como Pai surge de maneira clara na Bíblia, especialmente com os ensinamentos de Jesus. Nos textos do Antigo Testamento, Deus é geralmente visto como o Criador e Protetor do povo de Israel, com algumas referências paternais indiretas, como em Deuteronômio 32:6, onde Ele é chamado de Pai pelo cuidado e orientação dados ao seu povo. Porém, essa figura de Pai era mais associada à autoridade e liderança do que à intimidade.
Foi no Novo Testamento que a ideia de Deus como Pai ganhou profundidade e proximidade, principalmente através dos ensinamentos e orações de Jesus. Ele chamava Deus de “Pai” e até de “Abba”, um termo aramaico que significa algo próximo de “paizinho”, sugerindo uma relação carinhosa e íntima. Ao ensinar a oração do Pai Nosso (Mateus 6:9-13), Jesus convida Seus seguidores a se dirigirem a Deus com essa mesma proximidade, transformando a compreensão de Deus de uma autoridade distante para um Pai amoroso, disponível e acessível.
É fácil se deixar consumir por afazeres e ansiedades, esquecendo de reconhecer o quanto Deus concede generosamente, diante de toda a correria cotidiana. Apesar disso, o pastor Francisco Parisi, da Igreja Batista Adonai, no bairro Cidade dos Funcionários, Fortaleza/CE, ensina que o amor de Deus não é apenas algo a ser contemplado, mas um exemplo prático para as relações humanas. Para ele, Deus não deve ser visto como um Senhor distante e inatingível, mas como um Pai próximo e amoroso, com quem se pode desenvolver uma relação de intimidade e confiança. É esse amor divino, argumenta o pastor, que convida a viver com mais compaixão e a refletir essa proximidade nas relações cotidianas.
“Amados, amemos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”, relembra o pastor aludindo à Primeira Epístola de João. Ele considera que essa passagem é central para a vida cristã, pois ressalta que o amor ao próximo é um reflexo do amor divino. Segundo o pastor, praticar esse amor diariamente é uma forma de viver o Evangelho em sua essência. “Quantas vezes estamos atribulados, preocupados com bens, coisas, afazeres… Isso nos impede de perceber o que Deus nos tem dado. Precisamos lembrar que amar o próximo é um ato de gratidão a Deus, e faz toda a diferença em nossa caminhada”, exorta.
A visão de Deus como Pai também ocupa um lugar essencial na abordagem do pastor Francisco, que acredita que essa proximidade com Deus é transformadora. Ele relembrou a oração ensinada por Jesus, que chama Deus de “Pai nosso”, um termo que transmite confiança e acolhimento. “Os religiosos da época viam Deus como um Senhor distante, quase inatingível. Mas Jesus nos ensinou a orar ao Pai que está nos céus. Chamá-Lo de Pai é um convite para que nos acheguemos a Ele com confiança, sabendo que somos filhos amados e que Ele cuida de nós”, reforça.
Para ele, reconhecer Deus como Pai não apenas fortalece a fé dos cristãos, mas também oferece um modelo de relação amorosa e próxima que deve influenciar as relações interpessoais. O amor de Deus, que se revela em Seu cuidado e desejo de proximidade, inspira um amor ativo e generoso. Para o pastor Francisco, o verdadeiro cristão não vê o amor apenas como um sentimento, mas como um compromisso de cuidado e acolhimento, refletindo diretamente o amor de Deus.
“O que Ele quer de nós é uma entrega completa, uma relação em que confiamos n’Ele de todo o coração. Ele nos chama para sermos santos como Ele é santo, o que quer dizer que devemos nos separar das coisas que nos afastam d’Ele e nos dedicar a viver esse amor em tudo que fazemos”, pontua.
Contudo, o pastor também reconhece que praticar esse amor em meio às demandas da vida pode ser desafiador. Para ele, são justamente os momentos de dificuldade e provação que chamam a refletir o amor de Deus. “Quando estamos sobrecarregados, ou quando nos deparamos com situações difíceis, tendemos a nos fechar e a esquecer a grandeza do amor divino. Mas é nesses momentos que precisamos lembrar que Deus é nosso Pai, que Ele está conosco, e que Ele nos chama a amar como Ele ama”, medita o pastor.
“Eu convido você a pensar no amor de Deus como algo que transforma. Olhe para Ele como um Pai e se permita viver esse amor em cada relação, em cada gesto, e veja como isso fará toda a diferença em sua vida”, convida o pastor provocando uma reflexão, incentivando cada um a buscar uma relação íntima com Deus e a viver o amor de forma prática.
Essa abordagem prática e humana do amor cristão — amar uns aos outros como reflexo do amor divino e se achegar a Deus como Pai — acrescenta nova profundidade à fé cotidiana. Afinal, o amor de Deus não é apenas para ser recebido, mas para ser vivido e compartilhado, moldando a interação e cuidado de toda a Igreja.