As novas gerações, em geral, procuram sentido e propósito de vida que vai além desse “cartão magnético” e precisamos nos assentar no mesmo chão que elas estão
Por Lourenço Stelio Rega
Já há abundantes estudos sobre as diferenças de características das diversas gerações, desde que começaram a ser mapeadas e, há poucas semanas, temos sido inundados por artigos a respeito da Geração Beta que está nascendo agora em 2025, cujas características ainda não sabemos bem como serão.
Já vi discussão sobre o surgimento da abordagem sobre as diferenças geracionais como resultado do interesse econômico pelo incentivo ao consumo, que começou a ser mapeado após a Segunda Grande Guerra Mundial. Eu até concordo com essa origem histórica, o que não é mais possível legitimar é que esse início histórico venha desautorizar os estudos sobre as transformações culturais da sociedade, das ênfases na formação de filhos e como tudo isso tem impactado as novas gerações que, diante de exigências éticas cada vez mais complexas, acabam sofrendo alteração em sua visão de mundo e precisam encontrar respostas seguras em um mundo fluído, instável, obscuro, relativista.
E nem vou chamar o socorro da Psicologia do Desenvolvimento que já tem demonstrado essas variadas diferenças no chão da vida entre as gerações. O que precisamos superar em nossa “teologia tupiniquim” é pensarmos só na salvação da alma, oferecendo como que um cartão magnético que vai garantir o ingresso no céu.
As novas gerações, em geral, procuram sentido e propósito de vida que vai além desse “cartão magnético” e precisamos nos assentar no mesmo chão que elas estão, para estimularmos diálogo com “escuta atenta”, compreendermos seus dilemas, suas angústias, depressões e ansiedades diante de tanta exigência ética e moral do mundo sem moral, sem Deus e sem coração.
Precisamos redescobrir a visão cristã de mundo (cosmovisão) para compreendermos nosso papel diante de um ambiente hostil à nossa fé. Jovens precisam ir à faculdade, iniciar sua carreira profissional, avançar em sua vida relacional e emocional e os conflitos daí advindos são enormes e precisam de respostas.


Costumo pensar que “ninguém se interessa por aquilo que não interessa”, então é necessário assentar no mesmo chão em que as novas gerações estão vivendo, dialogar, ouvir delas a realidade em que vivem para ajudá-las a encontrar respostas bíblicas para os dilemas éticos contemporâneos.
As pessoas não são apenas um número na estatística de projetos evangelísticos e missionários. Aos poucos vamos começando a introduzir em nossa nação a compreensão do que podemos chamar de “dimensão missional” da vida, que envolve não apenas a nossa missão da proclamação, mas, muito mais, a missão da presença nossa no cotidiano, na vida pública.
Então além de verbalizarmos as Boas Novas, será necessário também demonstrar a real transformação que essas mesmas Boas Novas promovem em nossa vida. Assim seremos como que a tradução e vitrine do Evangelho para as pessoas.
Fico pensando que as novas gerações aspiram conhecer as profundezas do Evangelho e essa perspectiva missional poderá ser um bom começo para nosso diálogo.
Lourenço Stelio Rega é eticista e Especialista em Bioética pelo Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (Hospital Albert Einstein).