A crescente popularidade dos cigarros eletrônicos entre adolescentes gera preocupações sobre saúde, violência e desafios para as autoridades, pais e educadores
Por Patrícia Esteves
Nos últimos anos, os polêmicos cigarros eletrônicos, popularmente conhecidos como vapes, têm conquistado um público crescente entre jovens e adolescentes, gerando preocupação em pais, educadores e autoridades de saúde. Episódios de agressão por causa do aparelho e problemas graves de saúde já são registrados com relativa frequência. Adolescentes entre 11 e 17 anos estão cada vez mais expostos ao vape, e surgem questões sobre os riscos reais à saúde e o impacto dessa prática nas novas gerações.
Num destes episódios recentes de violência, um aluno da escola estadual Francisco Borges Vieira, na Vila Alpina, zona leste de São Paulo, foi agredido por um grupo de 10 outros jovens por conta de um vape. O episódio aponta a gravidade da situação em ambientes escolares, nos quais professores e diretores têm dificuldade de controlar o uso do dispositivo. Neste caso, o aluno era apenas amigo de outro adolescente que havia pegado o vape emprestado e não o devolveu. O rapaz foi interpelado e agredido por não conseguir prestar contas sobre o vape emprestado ao amigo.
Em outro episódio grave, este no Rio de Janeiro, Lia Paiva conta que o filho Diego, de apenas 20 anos, teve uma infecção generalizada que resultou em sua morte. Em uma internação por conta de uma bactéria, os outros órgãos se recuperaram, como o coração, os rins e o fígado, mas o jovem teve uma embolia pulmonar no quinto dia de internação e faleceu. “Não foi o vape que causou a morte do meu filho, mas o pulmão dele ficou comprometido pelo uso do vape e não conseguiu reagir a uma bactéria”, relata, contando que o filho tinha praticamente “apenas infecção e não pulmão mais”, de tão comprometido que estava o órgão.


O jovem Diego morreu em 7 de agosto após uma embolia pulmonar, que atrapalha a passagem de sangue do coração para o pulmão, comprometendo a oxigenação e podendo levar ao óbito. A mãe conta que ele fumava muito e que tentava convencê-lo a parar, já que ele começou aos 15 anos.
Cigarros Eletrônicos
Os cigarros eletrônicos contêm substâncias altamente tóxicas que podem comprometer a saúde física e mental dos jovens. A nicotina presente nos vapes é especialmente prejudicial ao cérebro em desenvolvimento, afetando áreas ligadas ao humor, aprendizado, atenção e controle de impulsos. Adolescentes expostos à nicotina podem sofrer prejuízos no aprendizado e no desempenho escolar, além de estarem mais suscetíveis a transtornos emocionais. Embora ainda não se conheçam todos os efeitos a longo prazo, já se espera que as sequelas neurológicas sejam significativas.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) critica os fabricantes dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), por adotarem “estratégias de marketing que visam atrair o público jovem, contrariando suas alegações de que esses produtos são destinados exclusivamente a fumantes adultos. A publicidade em mídias sociais e o patrocínio de eventos atraem consumidores mais jovens, expondo-os a riscos significativos”.
Segundo a instituição, ao contrário do que dizem os fabricantes, “os DEF ampliam o risco de dependência à nicotina e expõem os consumidores a substâncias cancerígenas, como nitrosaminas, formaldeído, acetaldeído, amônia, benzeno e metais pesados. Além do apelo tecnológico, esses dispositivos contêm solventes como glicerina e propilenoglicol, além de uma variedade de aromatizantes e saborizantes que atraem, especialmente, crianças e jovens, induzindo-os à experimentação precoce e à rápida dependência de nicotina”.
Saúde Mental e Proibição
Além dos danos físicos, o uso de vapes agrava os desafios já enfrentados pela juventude. O excesso de estímulos, como a exposição prolongada a telas e informações, já eleva os níveis de ansiedade e prejudica o foco dos jovens. A adição do vape nesse cenário contribui para o agravamento de problemas de saúde mental, criando um ciclo perigoso de dependência.
Vale lembrar que a fabricação, a importação, a comercialização, a distribuição, o armazenamento, o transporte e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, popularmente conhecidos como cigarro eletrônico ou vapes, são proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que publicou a resolução proibitiva em 24 de abril deste ano.
A popularidade crescente dos cigarros eletrônicos entre adolescentes deve ser vista como um sinal de alerta para toda a sociedade. É fundamental que pais, educadores e autoridades de saúde trabalhem juntos na conscientização e proteção das futuras gerações. Prevenir o uso do vape é um passo essencial para garantir o bem-estar físico e mental dos jovens em formação. Com informações Agência Brasil e G1