É vital que pais, professores, amigos e líderes eclesiásticos cuidem de não subestimar ou mistificar esse cenário, pois não se deletam vidas
Na revolução de costumes da geração Z, em que tudo é fluido, até a existência, responder ao sofrimento deletando a própria vida, como se fosse uma conversa de WhatsApp, será a solução?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre adolescentes. O dado confirma-se no país entre jovens de 15 e 29 anos. No mundo, são cerca de 800 mil pessoas interrompendo suas vidas todos os anos, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos.
Por que, na era digital deste século que deu voz a tantos, mais adolescentes ignoram seu valor e desconhecem ou abortam seu senso de propósito desistindo de viver?
Suicídios em colégios da elite paulistana, a polêmica série “13 Reasons Why”, o famigerado jogo “Baleia Azul” e notícias de automutilação indicando ideações de morte nos jovens são alguns dos episódios que deram visibilidade ao tema desde 2000. Até 2015, o Mapa da Violência no Brasil apontou 65% de crescimento na taxa de suicídio entre crianças de 10 a 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19, a alta foi de 45%. Como é possível prevenir o fenômeno do suicídio juvenil, que alcança, inclusive, o meio cristão?
Além de evitar ações ou falas que encorajam comportamentos suicidas, vale identificar fatores de risco para adolescentes e jovens como: bullying, cyberbullying, maus-tratos na infância, discriminação por conta da orientação sexual, dependência das redes sociais e empobrecimento das relações reais, transtornos mentais (como depressão, bipolaridade, de personalidade, esquizofrenia) e dependência de álcool e drogas.
É vital que pais, professores, amigos e líderes eclesiásticos cuidem de não subestimar ou mistificar esse cenário. Segundo estudo publicado no periódico Biomedical and Health Informatics, uma em cada cinco crianças com menos de 8 anos sofre com depressão e ansiedade.
Atentar para dados como este é decisivo. É decisivo porque devolve à sociedade a compreensão de que crianças, adolescentes e jovens podem ter problemas emocionais reais e, de novo, subestimar ou mistificar só irá contribuir para vulnerabilizá-los.
Existe um fato típico da adolescência que diz respeito ao dar-se conta do peso de lidar, por exemplo, com um corpo e cérebro em transformação, impulsividade natural dessa idade, conflitos familiares, dificuldades interpessoais, ebulição de sentimentos, pressão escolar ou futura escolha de uma profissão. É comum que, em muitos momentos, a sensação de solidão, inadequação, desesperança e questionamentos sobre o sentido da vida apareça.
A questão é distinguir quando a dificuldade de encontrar sentido diante do desespero compromete um jovem. Nessas horas, vale questionar o que estamos fazendo para ajudá-los a suportarem os desafios de um momento existencial complicado. Segundo a OMS, 90% dos casos de suicídio teriam sido evitados se as causas tivessem sido tratadas adequadamente.
Além de informação adequada, o investimento afetivo na vida de quem amamos é indispensável. Presença, carinho, atenção, encorajamento, fortalecimento de vínculos familiares e de amizade – e, lembrando, menos entretenimento digital – são essenciais para prevenção ou apoio contra o suicídio, contribuindo ainda para transmitir às nossas crianças, adolescentes e jovens a segurança quanto ao seu valor pessoal e senso de propósito existencial.
Êxodo 20:13 nos alerta que o suicídio não é uma resposta para o sofrimento. Não se deletam vidas! Pessoas não são descartáveis, e a existência não é fluida. Para Deus, não é clichê: uma alma vale mais do que o mundo inteiro.
Débora Fonseca é coordenadora da Missão Luz Na Noite desde 2001. É graduada em Direito e psicologia, autora dos livros “Aconselhando Cristãos em Luta com a Homossexualidade” e “Uma Fera em Busca de Sentido”, pela editora Abba Press. Tem mais de 20 anos de experiência em aconselhamento cristão na área da sexualidade humana