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quinta-feira, 28 março 2024

Namoro: há limites, sim

No mundo contemporâneo, com todas as mudanças sociais e comportamentais, o namoro passou a ter um conceito bem diferente do de anos atrás. Para a juventude de hoje em dia, namorar significa ter uma intimidade exagerada.

E a isso pais e pastores precisam ficar atentos Quando um jovem ou um adolescente afirma para a família e para os amigos que está namorando, o que isso quer dizer? Bem… até alguns anos atrás, isso poderia significar que o casal estava conversando mais; que saía, mas sempre acompanhado (para não ficar “mal falado”); que até tinha algum contato físico, mas sem nenhum exagero, e, principalmente, que estava se preparando para o casamento. Hoje em dia, entretanto, o mundo moderno dita algumas regras para o namoro, principalmente por meio da mídia, que são totalmente contrárias ao real significado de namorar.

Estar namorando atualmente tem uma associação direta a “curtir” o outro, a ficar, a sair para se divertir e ter alguém como companhia, abusar da intimidade física e, principalmente, descobrir, através do sexo, se a outra pessoa é apta para, um dia, se tornar seu marido ou esposa. De forma geral, os relacionamentos de hoje são desenfreados, sem nenhum critério de afetividade. Para a maioria dos jovens, o que importa mesmo é a satisfação pessoal. Além disso, não há limites para a intimidade, que já fica explícita no primeiro encontro, com carícias mais quentes ou até mesmo um relacionamento sexual.

Um rapaz que já está na faculdade, por exemplo, e declara que ainda não transou com a namorada, sem dúvida, vira motivo de chacota entre os colegas. E a situação pode ficar ainda pior se ele afirmar que o namoro já dura alguns anos. Já uma jovem que conta para as amigas que está conversando com um rapaz e orando a Deus, pedindo orientação sobre se deve ou não namorar, vai, com certeza, receber um bombardeio de conselhos argumentando que, enquanto aguarda, pode ir “ficando” com ele, para conhecê-lo melhor.

Diante desse cenário, será que pais, pastores e demais líderes das igrejas estão preparados para abordar o tema “namoro” com os jovens e adolescentes de hoje em dia? Palestrantes experientes no tema afirmam que nos últimos cinco anos o teor das palestras sobre o assunto teve que ser totalmente refeito, assim como a faixa etária de quem as escuta precisou ser reduzida. Nas reuniões da juventude anos atrás, o alvo de uma palestra sobre sexo, por exemplo, era o jovem acima de 18 anos.

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Atualmente, já há pastores que recomendam convocar os adolescentes de 11 anos para discutir o tema, e sem usar eufemismos para fugir dos tópicos mais polêmicos. E essa preocupação tem razão para existir. A Pesquisa Nacional de Demografia da Saúde da Mulher e da Criança, divulgada no início deste ano, apontou que a iniciação sexual está ocorrendo mais cedo, dos 13 aos 17 anos, e que 32,5% das jovens entrevistadas entre 15 e 19 anos admitiram ter tido a primeira relação sexual aos 15 anos. Há 10 anos, esse índice era de 11,5%. “Antes, a gente falava mais pontualmente sobre namoro para jovens de 17, 18 anos. Hoje, precisamos falar para os meninos e meninas de 11, 12 anos.

O mundo mudou muito nesses últimos anos e não podemos ficar só discutindo gravidez fora do casamento e doenças sexualmente transmissíveis. A Igreja precisa trabalhar esses assuntos de forma clara e direta. A Igreja tem ficado para trás porque, às vezes, fala somente do voto de castidade. Precisamos avançar, porque o mundo está apresentando uma realidade errada sobre o que é namoro, fora dos padrões de Deus”, declara o líder dos jovens da Associação Adventista Espírito-Santense, pastor Pedro Rodrigues da Silva Filho.

Ensinar quais são os princípios passados por Deus para a vida do homem é considerada a melhor forma de pais e líderes de igrejas instruírem os casais de namorados. Se eles entenderem o que é o melhor de acordo com o Senhor, correm menos risco de errar. “É preciso criar consciência no jovem e no adolescente e ensinar princípios bíblicos. Nas palestras que dou pelo País, sempre pergunto aos pais: ‘vocês querem filhos obedientes ou responsáveis?’.

A primeira resposta é sempre ‘obediente’. No entanto, obediente só obedece ao que você diz. O responsável obedece e entende o que foi passado. A Igreja precisa ensinar, mas há muitos pastores que têm medo de falar sobre esse tema. Essa geração quer ouvir isso, e se não ouvir nas igrejas vai ouvir na rua, na internet. Não devemos ficar criando regras, com o que pode e o que não pode fazer; precisamos ensinar princípios bíblicos, que serão levados muito adiante pelos jovens e adolescentes”, afirma o líder do Ministério Hombridade, da Universidade da Família, Samuel Costa.

O papel dos líderes

Mesmo sem falar de forma clara como deve ser o namoro cristão, há muitas denominações que adotam uma postura mais firme em relação a essa fase da vida e chegam a acompanhar de perto o início do namoro e o decorrer do relacionamento até a data do casamento. Alguns casais precisam, inclusive, pedir autorização do pastor para começar o namoro, e ele ainda estabelece regras para os jovens enamorados.

“Há pastores que delimitam dias e horários para os encontros e até dão prazo para o casal se casar. No entanto, quem tem que consentir com o namoro são os pais dos jovens, e não o pastor. Este tem o papel de orientar, falar sobre como deve ser o padrão do namoro, desenvolver estudos sobre sexualidade, preparar o casal para o casamento”, afirma o pastor da Primeira Igreja Batista em Santa Mônica, Vila Velha, Davi Nogueira.

Ele dá algumas orientações para os pais sobre como instruir os filhos na vida afetiva. O primeiro passo é declarar se a garota ou garoto escolhido agrada à família. Em segundo lugar, é necessário alertar que o filho/a não deve perder o foco dos estudos. Em terceiro, ressaltar explicitamente o fato de que a sexualidade será aflorada e, por isso, é melhor tomar alguns cuidados na hora das carícias. “Eu indico que os pais delimitem dias e horários para o filho namorar, seja em casa ou para sair, e que não autorizem um namorado dormir na casa do outro. Hoje, há uma liberdade muito grande nos namoros, mas é preciso criar regras, porque o Diabo esperar oportunidades para agir”, acrescenta o pastor Davi Nogueira.

Essa liberdade é vista tranquilamente na frequência com que os casais de namorados se encontram, e isso sem contar com as visitas virtuais, graças ao boom da internet. “Há muita informação errada sendo passada para os jovens através da internet. Há crianças de 8 anos nas igrejas que já estão namorando, e a referência que elas têm são os amigos da escola, das redes sociais. Hoje, uma menina de 10 anos parece que tem 15, e não apenas pelo corpo, mas pela mente mesmo; já está lá na frente, inclusive na área emocional.

Os pastores precisam orientar espiritualmente, mas o controle do namoro deve ficar a cargo dos pais”, argumenta o obreiro na Igreja Assembleia de Deus do Ibes, pastor Cleber Souza.
Nas palestras que faz sobre namoro, o pastor compara essa fase da vida com o Tabernáculo de Deus para que os jovens e adolescentes entendam qual deve ser o grau de intimidade que um casal enamorado deve ter. A Bíblia explica que o Tabernáculo possuía três ambientes — pátio, lugar santo e santíssimo.

A orientação é adotar essas três posturas no início da caminhada a dois.“O pátio ainda é fora do templo, é o lugar onde se queima a carne e que representa o namoro. Já o lugar santo é para queimar incenso, ouvir a Palavra de Deus. É o ambiente que representa o noivado, e aqui ainda é possível voltar para o pátio se algo der errado. Já o lugar santíssimo é onde Deus revela as coisas santas, é onde o Maná está escondido. Não dá mais para voltar quando se alcança esse estágio”, exemplifica o pastor Cleber Souza.

É hora de cortejar!

Os pais e pastores podem achar que “ficar” é o que há de mais moderno entre os relacionamentos dos jovens e adolescentes. Mas não é. Esse verbo, até há alguns poucos anos, significava ficar com apenas uma pessoa durante um período do dia, durante um passeio, uma festa. Hoje em dia, há jovens que “ficam” com três ou quatro em uma mesma noite. Ou seja, esse verbo virou sinônimo de beijar. E há até disputas de quem “fica” mais.

Mas, no meio de tanta “modernidade” nos relacionamentos, parece haver uma luz no fim do túnel. Como em um resgate aos tempos antigos, há igrejas que estão adotando outro verbo para iniciar a preparação para o namoro: “cortejar”.

Na Missão Evangélica Praia da Costa, em Vila Velha, liderada pelo pastor Simonton de Araújo, quem tiver interesse em namorar alguém deve primeiro passar seis meses, no mínimo, cortejando o outro. A medida, que é uma orientação e não uma obrigação, é válida a partir dos adolescentes de 14 anos e já vem sendo adotada há cerca de cinco anos.“Cortejar é o contrário de ficar; é o princípio, é um tempo de conversa entre a garota e o garoto, com os pais deles, com o pastor e, principalmente, com Deus. Após esse período, eles definem se vão começar a namorar ou não. O interessante é que apresentamos essa ideia e todos têm aderido, inclusive os mais velhos, jovens com 30 anos, por exemplo”, declara Simonton Araújo.

Durante esse período da corte, o casal não pode ficar sozinho e não há carícias. “Em Provérbios, o rei Salomão diz que peca quem se precipita (Provérbio 19:2) e isso é verdade também nos relacionamentos afetivos. A saúde do namoro está em terminar antes mesmo de começar. O período da corte serve para analisar se o parceiro tem algo além de beijo, beijo e sexo. E muitos têm descoberto isso e agradecido a Deus por não terem começado o namoro, se não iriam sair feridos emocionalmente”, acrescenta o pastor.

E para não dizer que essas atitudes só funcionam com as outras pessoas, o próprio filho do pastor, o adolescente Matheus Araújo, 16 anos, está fazendo corte a uma menina da igreja. Segundo ele, na escola, os colegas estranharam quando ele revelou que está cortejando alguém e brincam dizendo que fazer a corte é “namorar sem beijar”. “Essa é uma das ideias da corte, mas é um pensamento errado achar que é só isso. É um período muito bom para conhecer a menina, a família dela. A gente ora e conversa muito. Os meus colegas de escola ficam implicando, mas normalmente têm muitas dúvidas e, quando eu explico, até entendem. Eu não tenho dificuldade em esperar para começar a namorar. Prefiro assim porque sei que tem mais chance de dar certo”, conta Matheus.

Afinal, devem existir regras para os casais de namorados, quanto a horário, vestimenta, lugares para sair? Esse tópico tem rendido palestras, mensagens e até livros. “Na verdade, na parceria entre pais e filhos precisa haver negociações baseadas na confiança de ambas as partes. O canal de comunicação deve estar aberto e transparente, eles devem juntos colocar essas coisas de forma clara na mesa. Mas o que falta é preparação dos pais para isso. Não é promover a liberalidade e sim ter acordos, limites e margens baseados em princípios e valores cristãos e da família. Quanto e quando os pais estão investindo no valor da aliança de casamento junto aos seus filhos? Que tipo de preparo têm feito para incutir isso não na mente e sim no coração de seus filhos?”, questiona o diretor do Veredas Antigas, da Universidade da Família, Marcelo Gatti Staut.

Pais, pastores e líderes das igrejas precisam estar atentos e atualizados sobre o tema e conversar mais com os jovens e adolescentes para saber como eles têm enxergado e encarado esse assunto no dia a dia. Ainda é possível construir namoros saudáveis perante os padrões do Pai, lembrando sempre que o tipo de relacionamento atual pode ter mudado no mundo, mas os ensinamentos de Deus permanecem intactos.

A matéria acima é uma republicação da Revista Comunhão. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

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