Raros são os homens e mulheres cujos relacionamentos demonstram esse frescor e leveza das almas enamoradas
“A arte de transformar em eterno o que é efêmero por definição.”
– Meu lindo homem, meu marido! Até hoje eu não consegui entender por que você ficou.
– Fiquei porque te amo agora como no primeiro dia em que nos conhecemos.
– Eu não quero morrer, quero ficar com você para sempre…
As palavras desse curto diálogo fazem parte de uma das mais belas cenas do clássico filme “Highlander, o guerreiro imortal”, estrelado por Christopher Lambert. Ele se dá no momento em que o grande amor de sua vida, Heather, está em seus últimos momentos enquanto ele, Connor McLeod, é preservado em seu vigor e juventude pelo dom da imortalidade que recebera.
Confesso que o que me impressiona na cena é a constatação de que os sentimentos e o encanto pela pessoa amada ainda estavam vivos enquanto Heather dava seus últimos suspiros. Essa é mais uma das ficções surgidas a partir da influência da cultura e tradição dos guerreiros das Terras Altas. Na vida real, como seria amar alguém com a mesma intensidade por uma vida inteira?
Olhando para os heróis da fé, será que encontraremos alguma personagem que viveu com seu amor por uma vida inteira, totalmente devotado e dedicado a tal paixão? Para ser sincero, nem o dicionário ajudou a enquadrar o verbo namorar em qualquer construção que empreste um sentido longevo ao mesmo. Ele é efêmero por definição e por conjugação. O máximo que podemos pensar nesses termos é quando fazemos a seguinte observação sobre um casal cuja vida nos inspira: “Eles tratam um ao outro como se fossem dois namorados!”
Tal expressão deixa a sensação de que não é normal que duas pessoas, juntas por um longo período de tempo, continuem demonstrando uma à outra aquilo que julgamos ser comum somente àqueles que estão empenhando-se em conquistar o amor um do outro.
Olhando para os personagens bíblicos, o que mais demonstra seus sentimentos pela mulher amada é Jacó em relação a Raquel. Ele a amou à primeira vista, quando se encontrou com ela junto ao poço, não conseguindo esconder sua emoção. Os catorze anos de trabalho sacrificial para poder desposá-la não foram pesados a Jacó. A Bíblia diz o porquê: pelo muito que a amava! Seu amor por Raquel é mencionado por mais de uma vez nas Escrituras. Ao seu filho caçula deu o nome de Benjamim – filho da minha destra –, pois o trazia sempre junto a si, como uma memória permanente da mulher amada que partiu logo após o nascimento do menino.
Não menos raros são os homens e mulheres cujos relacionamentos demonstram esse frescor e leveza das almas enamoradas.
Para a sociedade, no entanto, namorar tornou-se sinônimo de atividade sexual, namorado(a) tornou-se alcunha para quem vive com quem não se casou e o casamento transformou-se no sistema de arrefecimento do romantismo, da conquista e sedução.
Na contramão desse processo, quero ser sempre inspirado pelos McLeods da vida real, pelos Jacós do tempo presente e, parafraseando Vinícius de Moraes, ser sempre atento ao meu amor e de tal forma, que os últimos dias, venham eles ainda longe, sejam ainda mais enamorados do que os primeiros.
Dinart Barradas é pastor e diretor do currículo de Paternidade Bíblica da Universidade da Família. Casado com Norma Barradas há 40 anos.