“A boa música não obedece, não se limita, mas nasce da poesia bem-feita, da intenção do autor e do coração”
Sensibilidade em cada linha melódica, no compasso, no ritmo, no tom e na poesia. A união do pensar e do fazer arte com equilíbrio descreve um dos maiores compositores cristãos do país. Aos 54 anos de idade, 36 deles dedicados à carreira, João Alexandre é uma referência no meio evangélico. Conhecido por muitos como um artista “impressionante”, também canta, toca e produz. Nas apresentações: voz e violão. Dos acordes harmônicos à melodia suave, sua obra é agradável, com letras marcantes.
Possui arte de fino trato, com uma sonoridade que nos aproxima de uma conexão com Deus, desenvolvida numa trajetória de sinceridade e devoção. O som não se prende às paredes da igreja, mas atinge um patamar de música brasileira, de essência, com beleza e temor. Características que fazem dele um ícone do meio cristã contemporâneo.
Tudo começou ainda na infância. Com os irmãos, surgiram as primeiras poesias que viraram canções. “A minha infância foi toda pautada com música. Eu tocava na igreja. Tínhamos um grupo que ensaiava vozes, e as músicas eram de minha composição. Nosso quarteto, que depois virou quinteto, era o mais cotado para as apresentações”, contou.
João Alexandre fez parte de uma geração de artistas formados por grandes grupos vocais no segmento, lançados ainda nas décadas de 60, 70 e 80 no país, como o Vencedores por Cristo. “Fui treinado para trabalhar com missões, diria que era um missionário músico. Mas depois de viver essa experiência, fui chamado para integrar um grupo que viveria de tempo integral, o Ministério de Louvor e Adoração (MILAD). Foi aí que minhas músicas começaram a se projetar. Descobri que queria ser músico e viver disso profissionalmente.”
Apesar da decisão, ele não colocava muita fé no que já fazia. Mas, para sua surpresa, quando subiu a um palco pela primeira vez em um evento em Belo Horizonte (MG), viu o público cantar suas músicas em coro. “Percebi que todos conheciam minhas canções sem me conhecerem. Fiquei impressionado! Dali em diante não parei mais”, expressou.
Mercado e mudanças
Sobreviver na estrada da arte por tanto tempo hoje é difícil, ainda mais acompanhar os rumos do mercado. Assim como vários artistas dos anos 80, João Alexandre passou pela era da transformação, a passagem da chamada música cristã evangélica para o gospel.
“Eu já fazia música antes de esse movimento nascer, ainda nos anos 90.
Acompanhei toda a mudança de mercado. Mas esse nome não tem a ver com o meu perfil. Eu me encaixo é na música cristã contemporânea”, esclareceu.
O artista destaca os rumos diferentes que a música evangélica alcançou diante das mudanças, uma delas a preocupação mercadológica. “Hoje as composições duram apenas o tempo que o mercado ordenar. Isso é preocupante, porque esse tipo de música vai e passa. A boa música não obedece, não fica escrava, não se limita, mas nasce da poesia bem-feita, da intenção do autor, do coração e de alguma experiência vivida pessoalmente. A poesia, o sentimento, a rima, a melodia e a harmonia bonita são muito mais fortes que o mercado”, reforça.
“A música tem que incomodar para o bem ou para o mal, pois faz você pensar na sua postura, mudar sua atitude e te faz seguir em frente”
Da inquietação à poesia
“As minhas músicas são inquietações cantadas. Quando há algo bonito ou algo errado que ninguém está vendo, coisas que precisam ser faladas, tudo isso vira música pra mim. Mas vezes sou criticado.
Sinto-me parte de uma estrutura que é a Igreja. Então, me sinto culpado de ficar quieto quando algo está errado.”
Sinceridade e intensidade dos sentimentos são marcas registradas nas suas obras. E com pitadas de amor, como em “Essência de Deus”, um dos maiores sucessos do cantor. Nessas mais de três décadas e meia de estrada, foram cerca de 250 músicas.
Todas traduzem uma palpitação interna. Uma delas ganha destaque até hoje. “Pra Cima, Brasil” foi composta em 1991: “Brasil, olha pra cima, existe uma chance de ser novamente feliz” são versos que ainda traduzem uma realidade nacional contemporânea. “Eu canto sobre o Brasil que está ruim há muitos anos”, diz.
Outras, como “É Proibido Pensar”, “Tudo é Vaidade” e “Coração de Pedra”, também vêm carregadas de críticas. “Elas fazem uma reflexão sobre o comportamento da Igreja diante da sociedade. Eu me sinto no direito de poder falar dos erros e dos acertos do meio em que eu vivo”, explica.
Através da arte, o objetivo trazer mensagens que incomodassem de fato diante das angústias contemporâneas. “A música tem que ter o objetivo de engrandecer o cidadão, enquanto cristão, homem e ser pensante. A música tem que incomodar para o bem ou para o mal, pois faz você pensar na sua postura, mudar sua atitude e o faz seguir em frente. Minha preocupação sempre foi compor uma música que competisse com os grandes compositores e que durasse a eternidade.”
Discografia
Com o Grupo Pescador
1984: Contraste
Com o MILAD
1985: Água Viva
1986: Milad 1
1987: Retratos de Vida
Solo
1991: Simplesmente João
1994: Todos São Iguais
1996: Voz e Violão
1999: Acústico
1999: Hinos: Instrumental
2002: Voz, Violão e Algo Mais
2007: É Proibido Pensar
2009: Do Outro Lado do Mar
Em parceria
1990: Estações do Amor (com Guilherme Kerr Neto)
1997: Autor da Vida (com Tirza Silveira)
2005: Família (com Tirza Silveira e Felipe Silveira)
Álbuns ao vivo
2010: Dois Tempos
Coletâneas
2000: O Melhor de João Alexandre
2003: Oração da Noite
2004: João Alexandre: 20 Anos
2009: Sobre o Amor
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