O conflito étnico-religioso já dura mais de 80 dias, e o governo indiano não tomou nenhuma medida efetiva
Por Patricia Scott
Mesmo após o Parlamento Europeu pedir o fim da violência contra os cristãos na Índia e cobrar providencia do governo, a situação permanece crítica em Manipur, no norte do país. O conflito étnico-religioso, que já dura mais de 80 dias, está devastando o estado indiano.
Portas Abertas relata que a tensão tornou Manipur um local hostil. Nos últimos dias, vídeos e imagens que mostram os ataques horríveis viralizaram. A violência tem indignado indianos, como também cristãos no mundo todo.
Segundo a agência missionária, uma das publicações mais recentes chamou a atenção ao mostrar duas mulheres cristãs da minoria kuki-zo. “Elas foram arrancadas de uma viatura da polícia por um grupo de homens da comunidade meitei, liderados pelo radical Arambai Tenggol. Os agressores tiraram as roupas das cristãs que foram exibidas nuas e molestadas”, relata Portas Abertas.
A organização pede aos cristãos e também aos parceiros que não procurem ou divulguem o vídeo das cristãs. Isto porque são imagens sensíveis que apenas aumentam a dor das mulheres. As imagens já estão com o governo indiano, que avalia como enfrentar a situação.
Ataques constantes
A parceira local da Portas Abertas Rachel Reddy* afirma que “é doloroso e chocante ver o vídeo e ouvir sobre esses incidentes terríveis. Desde que a internet foi parcialmente liberada, vemos os registros dos ataques hostis. Muitos crimes ficaram escondidos durante o período em que a internet foi suspensa. Nenhuma medida foi tomada. A justiça continua retida. Ainda há muita inquietação, ataques e brigas segundo os cristãos”.
Rachel compartilha ainda: “Nossas orações e presença estão ajudando as vítimas do conflito. Os cristãos estão cercados por todos os lados, com disputas do lado de fora e o medo que toma o coração do lado de dentro. Não há trégua da violência. Os direitos humanos estão sendo violados com crueldade. Não conseguimos explicar o trauma que as mulheres, crianças e outras vítimas afetadas estão passando”.
Os dados da onda de violência impressionam. Mais de 30 mil deslocados internos. A comunidade cristã local já testemunhou mais de 120 mortes, 380 igrejas atacadas e destruídas, mais de mil casas incendiadas e mais de 250 vilarejos e espaços de comércio de cristãos atacados. As informações são da Missão Portas Abertas.
Impunidade e negligência
A negligência governamental está finalmente sendo questionadas, inclusive internacionalmente. De acordo com Portas Abertas, algumas indagações são pertinentes: Por que a polícia não toma providência para impedir os ataques? Por que nenhum tipo de denúncia contra os violentadores foi realizada, considerando-se que o rosto de cada um deles está nítido nos vídeos?
Vale destacar que desde o início da crise, nenhuma prisão foi realizada, mesmo com as claras violações dos direitos humanos e a pressão de órgãos internacionais. Pela primeira vez, o Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, quebrou o silêncio. Ele afirmou que irá intervir com medidas severas contra os agressores. Já a Suprema Corte indiana advertiu que, se o governo não agir, a própria corte tomará as providências necessárias.
* nome alterado por questão de segurança.