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terça-feira, 19 março 2024

Maurício Soares

Maurício Soares atua há dezoito anos no setor de marketing de empresas de segmento gospel. O conhecimento acumulado durante esse tempo permite que ele faça uma leitura antecipada do mercado de produtos voltados para os cristãos. Talvez venha daí boa parte de seu êxito. Atualmente, Maurício é gerente executivo da Graça Editorial, empresa que faz parte do grupo do missionário R.R.Soares. O que é possível aprender com esse profissional, você descobre nesta entrevista exclusiva concedida à revista Comunhão. O termo “mercado gospel” não te assusta?
Precisamos trabalhar com um termo que simbolize nossas atividades e, sinceramente, não me causa qualquer espanto essa definição de “mercado gospel”, acho até simpático. Muito mais do que o termo, o que me assusta é ainda não termos uma estrutura qualificada e profissional para atender a essa enorme demanda que convencionamos chamar de “mercado gospel”. Ainda estamos brincando de mercado e isso, para mim, é um tanto frustrante!

Tudo o que você aprendeu em marketing é aplicável ao mercado de produtos cristãos?
Creio que a maior parte do marketing teórico seja aplicável no dia-a-dia do mercado gospel. As diferenças consistem em detalhes, mas justamente esses detalhes são primordiais para o sucesso de um projeto. Haja vista as inúmeras tentativas frustradas das gravadoras seculares em lançarem-se no mercado gospel. Nosso segmento vai além de estrutura de logística, capital financeiro ou estratégias de marketing. Lidar com essa variável da fé implica muitos sentimentos que não encontramos nas apostilas e seminários de marketing. Esse conhecimento adquire-se com o passar do tempo.

Na sua avaliação, os profissionais estão sabendo aproveitar de maneira positiva o marketing neste segmento?
O marketing é ferramenta indispensável em qualquer atividade comercial. No nosso meio ainda creio que temos muito a evoluir. Precisamos ter uma nova geração de profissionais alinhados a essas novas tendências. Percebo que ainda temos muitas resistências ao que é novo, mas espero sinceramente que possamos desenvolver mais canais e ações de marketing.

O que significou para o mercado gospel o advento da internet e a possibilidade de “baixar” músicas no formato mp3, por exemplo?
Ainda não podemos afirmar categoricamente que os downloads determinarão o fim da música gospel, ou melhor, da venda através de CDs. Temos uma visão muito distorcida de nosso mercado consumidor. Predominantemente, quem consome música gospel encontra-se nas classes C, D e E e não estão restritos às grandes cidades, muito pelo contrário. Nosso segmento está espalhado em todo o Brasil e, infelizmente, não temos acesso à banda larga em todo o país, estamos muito longe disso. E na questão dos downloads por aparelhos celulares, abre-se um novo mercado, hoje estimado em mais de 150 milhões de aparelhos no Brasil. Então, para quem espera crise no setor, está faltando uma visão mais clara das possibilidades de negócios futuros. Infelizmente, percebo que as gravadoras evangélicas ainda estão engatinhando nos processos digitais de venda de música.

Diante disso, qual caminho essa indústria deve seguir?
Costumo dizer aos meus funcionários e amigos para não “correrem atrás porque assim sempre verão os líderes à frente”. O certo é correr na frente, é manter-se na liderança, na vanguarda dos acontecimentos. A indústria fonográfica será totalmente direcionada ao mercado virtual. O consumidor terá acesso à compra das músicas pelo celular, pela internet e até pela própria TV digital. As mídias serão diferenciadas, passando pelo CD, BlueRay, SlotMusic e outras formas de transferência de informação, mas de qualquer forma o relacionamento gravadora x consumidor será infinitamente mais intenso. As empresas devem repensar suas estratégias para os próximos 10 anos preparando desde já suas plataformas de trabalho e planejamentos, sem abrir mão do mercado atual de vendas de CDs. Eu creio que ainda viveremos a era dos CDs em nosso país pelo menos durante os próximos cinco a oito anos.

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Existe “tendência” no segmento evangélico? Se sim, qual a principal, na atualidade?
A tendência musical do momento é o pop rock. Já tivemos a fase da adoração congregacional, da adoração extravagante (confesso que não sei bem o que isso significa!), da adoração mantra, com aqueles louvores de 10, 15 minutos. Também estamos vivendo um leve crescimento na música urbana, representada pelo hip hop, mas ainda com uma interpretação meio caricata, sujeita a arquétipos e voltada para o gueto. Quando a black music, em todas as suas vertentes, perceber que pode manter suas raízes e expandir sua mensagem para o grande público, tenho certeza de que poderá romper essa bolha. Mas hoje vivemos a fase do pop rock congregacional, com mensagens dirigidas ao dia-a-dia das pessoas, muitos solos de guitarras. Agora, de qualquer forma, essa é mais uma onda. Os estilos que não estão sujeitos a esses modismos no Brasil são, sem dúvida, as músicas pentecostal e sertaneja.

Você é muito procurado por pessoas que lhe apresentam trabalhos para avaliação. De que forma você avalia esses trabalhos e descobre o potencial para a gravação ou não de um cantor? Vemos hoje em dia muitas pessoas, e até mesmo igrejas, acalentando o sonho de gravar um CD ou DVD de trabalho. O que você aconselharia a eles?
Minha avaliação vai muito além da qualidade musical. Na verdade, quando avaliamos um trabalho, observamos o projeto como um todo, do carisma à qualidade musical, à aparência e também à questão do compromisso espiritual. Recebo semanalmente cerca de 10 a 20 CDs e isso é impressionante! Na ExpoCristã, recebi 213 CDs para avaliação e, destes, seguramente poderia escolher os 30 melhores e lançar uns dois a três como artistas da Graça Music, mas o mercado não suporta tantas novidades ao mesmo tempo. Procuro sempre orientar os artistas novos e os ministérios que surgem a não terem ansiedade ao gravar um CD. O sucesso é resultado de uma série de aspectos e, sem dúvida nenhuma, da unção especial de Deus.

Existe espaço comercial para todos que estão gravando hoje em dia?
Sinceramente, não! Mas também não podemos determinar o que será sucesso ou não. Cada um tem seu desafio e chamado. O certo é não ter ansiedade e focar em Deus, continuando a fazer o trabalho.

Gostaria que você falasse um pouco sobre o que significa hoje a pirataria para o segmento gospel. Existe algum levantamento dos números e de que forma o afetam? De que maneira você lida com este assunto? Quando você passa por um camelô vendendo produtos da empresa na qual você está trabalhando, como você age?
A pirataria em nosso meio representa não mais do que 10% do mercado. Algo bem mais tímido do que no mercado secular, em que atinge impressionantes 50, 60%, uma verdadeira hecatombe! A questão que devemos enfocar é que a nossa fé não permite “jeitinhos”, a Bíblia é muito clara sobre qual postura devemos seguir. Jesus mesmo afirma que devemos dar a César o que é de César. Então, devemos recolher os impostos, pagar os tributos e andar de forma correta em todas as nossas atividades cotidianas. Não dá para um cristão comprar CDs piratas sabendo que, além de estar transgredindo a lei de Deus, está também agindo contra as leis vigentes do país. Já tive posturas mais raivosas quando encontrava um camelô vendendo CDs gospel, mas hoje prefiro anotar as informações e depois denunciar, como cidadão, na delegacia especializada. Por falar em polícia, o Brasil vem crescendo absurdamente nas apreensões de produtos pirateados. Há também uma lei, de número 333, já aprovada pelos deputados federais, que aumenta consideravelmente a pena para aqueles que produzem e comercializam produtos piratas. Esta lei tem 10 anos de tramitação no Congresso e encontra-se parada há alguns anos no Senado Federal. É isso mesmo: eu disse 10 anos. Isso é um absurdo! E olha que tivemos recentemente um ministro da Cultura que é músico. Infelizmente, parece que remamos contra a maré neste quesito da pirataria.

Como você consegue trabalhar com poucas pesquisas sendo feitas sobre o segmento? De onde você tira dados para traçar estratégias, por exemplo?
Esta é uma das minhas maiores dificuldades. Informação atualizada e segura do nosso mercado. Às vezes, leio matérias ou ouço palestras em nosso meio falando de números, e acredito que a maioria deles é na base do “chutômetro”, porque não temos institutos de pesquisa em nosso meio. Não temos sequer um cadastro confiável dos lojistas evangélicos no Brasil. Os nossos números costumam ser bastante “evangelásticos”, enormes, completamente triunfalistas, absolutamente fora da realidade. Ao longo dos anos, fomos acumulando dados e informações para nos ajudar a balizar a tomada das decisões, mas confesso que me ressinto de pesquisas e dados atualizados.

O que falta aos empresários deste setor aprender?
Acho que ainda falta uma política estratégica a médio e longo prazos. Também acho que falta atitude. Na verdade, creio que necessitamos sair do discurso teórico para a ação efetiva em prol do mercado. No caso das editoras, por exemplo, quando foi a última vez que elas se juntaram para promover uma megacampanha de incentivo à leitura? Não dá para ficarmos no conforto das nossas salas, no ar-condicionado, distantes do mercado e do público.

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