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terça-feira, 8 DE outubro DE 2024

Maior parte dos evangélicos afirma não ter posicionamento político, diz pesquisa

Especialista avalia que o cristão não almeja um governo de direita ou esquerda, mas sim um Estado que seja capaz de atender às reais necessidades da população – Foto: Freepik

Enquanto 35% dizem ser de direita, 8% de esquerda e 9% de centro, 42% dos brasileiros evangélicos afirmam não se identificar com nenhuma ideologia partidária

Por Michelli de Souza

A pesquisa Panorama Político 2024 – Posicionamento Político do Brasileiro mapeou o perfil ideológico dos cidadãos no país, trazendo também o comportamento conforme a identidade religiosa. Nesse recorte, 35% dos evangélicos disseram se identificar com a corrente ideológica de direita; 8%, de esquerda; 9%, de centro e, a maior parcela, 42%, afirmou não ter qualquer posicionamento político. 

O estudo foi realizado pelo Instituto de Pesquisa DataSenado em parceria com a
Nexus, área de Pesquisa e Inteligência da FSB Holding. A pesquisa foi feita por telefone com 21.808 pessoas, entre os dias 5 e 28 de junho deste ano. 

Para o professor da Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA) Marcos Simas, é preciso analisar a pesquisa considerando alguns fatores que dizem respeito ao contexto social e político que perpassa o Brasil e à multiplicidade do universo evangélico. Segundo Simas, que também é Doutor em Ciências da Religião, é preciso levar em conta que o conceito do que é “ser de direita ou de esquerda”, assim como o de “ser evangélico”, pode não ser o mesmo para todas as pessoas, pois pode variar conforme o grau de conhecimento e de educação formal de cada um. 

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“Nessas pesquisas, há uma tentativa de unificar pessoas que supostamente pensam os mesmos conceitos da mesma maneira. Quando uma pesquisa tenta levantar aquilo que um grupo A, B ou C é, está fazendo uma amostragem, ou seja, naquela pesquisa deu aquele resultado. Mas não quer dizer que no dia a dia a base seja exatamente essa”, ressaltou Simas.

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O professor pontuou que o fato de 42% dos evangélicos entrevistados não se identificar com nenhum posicionamento ideológico pode estar relacionado à decepção deste segmento com a política no país, desapontamento que, segundo ele, inclusive, não diz respeito apenas aos evangélicos, mas à população como um todo. Tanto que, segundo o estudo, 40% de todos os respondentes não se consideram nem de direita, nem de esquerda, nem de centro. 

“Por que, muitas vezes, o brasileiro – e o evangélico brasileiro, que representa aproximadamente um terço da população – não se posiciona? Porque a questão pragmática, para ele, é o que de fato importa. Se ele tem um governo que dá segurança, um governo que cuida e mantém bem a cidade, um governo que dá educação, que dá saúde, esse é um bom governo. Se é de esquerda ou de direita, para ele não interessa de fato”, exemplificou Simas. 

Fluidez das ideologias e partidos

O cientista da religião também destacou que a fluidez que caracteriza as ideologias e os partidos políticos na atualidade, tendo como norte uma política baseada em interesses econômicos, acaba por desacreditar a população.  

Maior parte dos evangélicos afirma não ter posicionamento político, diz pesquisa
O professor Marcos Simas analisa que os conceitos acerca dos posicionamentos políticos são imprecisos – Foto: Divulgação

“A sensação dos eleitores é a de que a ideologia está fundamentalmente ligada a poder e dinheiro, e não a sistemas teóricos históricos. O cidadão hoje está num partido, amanhã está em outro. O partido que é, supostamente, de direita, flerta com um Estado grande. O partido que é de esquerda, algumas vezes, faz privatizações de algumas empresas, de outras não, tem ações que têm mais a ver com a direita e nem tanto a ver com a esquerda”, salientou Simas.

Nesse contexto, o professor acredita que a população em geral, na qual estão incluídos os evangélicos, acompanha o cenário de interesses que atravessa a cena política, marcada por um grupo que visa a ser eleito para cargos públicos em busca, sobretudo, de poder. “A política partidária, que deveria ser um serviço à população, torna-se, na verdade, uma excepcional ferramenta para a perpetuação de poder e enriquecimento ilícito, muitas vezes”, completou.

No caso dos evangélicos, a valorização do Evangelho, que tem como preceitos valores de paz, amor e honestidade, contribui para que sua análise do cenário social esteja mais voltada para aquilo que se direciona à mensagem bíblica. “Quando o brasileiro, e o evangélico brasileiro, não faz muita distinção entre direita e esquerda, é porque ele é prático. Para ele, o que importa é que haja honestidade, boa gestão do dinheiro público e ações em prol daqueles que realmente são carentes”, realçou Simas.

Direita e esquerda

Marcos Simas pontuou que o baixo percentual de evangélicos que se identificou com o posicionamento de esquerda pode estar relacionado ao fato de que muitas pautas associadas a esse espectro ideológico vão de encontro a valores cristãos que são inegociáveis, como a família tradicional e algumas questões morais. No entanto, não está claro para a sociedade como um todo o que significa esquerda e direita, politicamente. 

“Eu avalio que é meio genérica uma pesquisa que diz ‘tantos são de esquerda, tantos são de direita’. Porque não se sabe a delimitação do problema, o que é ser de direita e o que é ser de esquerda. Assim como é difícil determinar o que é ser evangélico, porque em uma sociedade líquida como a nossa, definições são um dos maiores problemas”, concluiu o cientista da religião.

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