Entre os seis países onde a perseguição mais aumentou, três estão na Ásia Central; há seis países que apresentaram quedas
Por Patricia Scott
Mais de 380 milhões de cristãos enfrentam perseguição religiosa ao redor do mundo, de acordo com a Lista Mundial da Perseguição (LMP) 2025, divulgada pela Portas Abertas em 15 de janeiro. O estudo revela os 50 países onde é mais difícil para os seguidores de Jesus viver, além de ter como objetivo entender como a perseguição afeta essas pessoas e de que forma pode ser oferecido apoio a elas.
Entre os seis países onde a perseguição mais aumentou, três estão na Ásia Central. O Quirguistão, por exemplo, subiu 14 posições, passando do 61º lugar na Lista de Países em Observação (LPO) 2024 para o 47º na LMP25. Nessa região, houve um aumento na violência, em grande parte devido ao fechamento de várias igrejas pelas autoridades, além da pressão das comunidades muçulmanas.
“Há permissão para abrir igreja, mas com restrições. Primeiro, com relação à liberação da licença e, depois quando abrem, arrumam um pretexto para invadir e fechá-la”, segundo Marco Cruz, secretário-geral da Portas Abertas no Brasil.
De acordo com a organização missionária, a vigilância e a invasão de igrejas pelo governo também contribuíram para o aumento da violência no Cazaquistão e no Tajiquistão, que passaram para as 38ª e 39ª posições, respectivamente, após ocuparem, em 2024, as 47ª e 45ª posições. A ascensão desses países na LMP 2025 foi resultado das pressões familiares e governamentais, oberva Cruz.

“Essas nações são de maioria muçulmana, e o Estado adota o islamismo como padrão, fazendo com que ser muçulmano seja considerado o normal. Sendo assim, o cristão vai contra toda essa visão e cultura, o que resulta na perseguição”, detalha Marco Cruz.
A África Subsaariana continua sendo a região mais perigosa para os cristãos. O Chade, por exemplo, saiu da 56ª posição na LPO 2024 para a 47ª na LMP 2025, com destaque para a ação de grupos radicais islâmicos, como Boko Haram e extremistas entre o povo fulani, que intensificaram a violência contra os cristãos. “Além disso, os cristãos de origem muçulmana enfrentam hostilidade crescente de suas famílias, comunidades e até nos campos de deslocados,” explica Cruz.
Na mesma região, a República Democrática do Congo subiu da 41ª para a 35ª posição, tornando-se um dos países com maior número de sequestros de cristãos. “Os ataques das Forças Democráticas Aliadas (FDA), um grupo extremista islâmico armado, impulsionaram esse aumento”, comenta Marco Cruz.
No Oriente Médio, a Turquia também subiu na lista, passando do 50º para o 45º lugar. A Portas Abertas aponta que o crescente senso de nacionalismo no país, que associa ser turco à adesão ao islamismo, tem pressionado fortemente os cristãos turcos. Embora não seja ilegal se converter ao cristianismo, os convertidos frequentemente enfrentam grande pressão social, incluindo ameaças de divórcio, perda de herança e rompimento de laços familiares.
Países que desceram posições na LMP25
Seis países apresentaram queda nas posições da LMP 2025, mas isso não significa que a perseguição tenha diminuído; ao contrário, indica que a situação piorou em outros países. A Colômbia, por exemplo, caiu da 34ª para a 46ª posição na LMP 2025, “principalmente devido ao acordo de paz, assinado em 2016, o que ocasionou a redução da violência. Já foi o 10º país, onde mais pastores e cristãos morreram”, expõe Cruz. Foram registrados menos casos de mortes de cristãos por motivos religiosos, assim como uma diminuição dos incidentes de perseguição em comunidades indígenas.
Os dados da pesquisa, realizados antes do início do conflito que culminou com a queda do regime do presidente Bashar al-Assadguerra na Síria, no Oriente Médio, mostram uma redução na violência contra os cristãos, com menos ataques a igrejas. Como resultado, o país, que ocupava a 12ª posição na LMP 2024, caiu para a 18ª posição na LMP 2025. “O que está o que aconteceu na Síria e seus reflexos serão pontuados na lista do ano que vem”, assevera Marco Cruz, acrescentando que antes do golpe a situação dos cristãos no país estava estabilizada. “É possível que haja aumento da perseguição.”
A Argélia, na África, também apresentou queda, saindo da 15ª para a 19ª posição. Não há mais igrejas protestantes abertas e muitas continuam sujeitas ao fechamento por parte do governo, aponta Portas Abertas. Além disso, há um alto número de cristãos presos aguardando julgamento e sentença. “A pressão financeira e os controles do governo sobre as atividades cristãs online forçaram muitos seguidores de Jesus ao isolamento.”
Na Ásia, o Vietnã também registrou queda, passando da 35ª para a 44ª posição, devido à diminuição do número de cristãos presos e condenados por motivos religiosos. “Essa mudança reflete a percepção de que a perseguição direta do governo está diminuindo, embora a pressão vinda de familiares e da comunidade tenha aumentado”, pontua Portas Abertas.
Já a Indonésia saiu do ranking dos 50 países mais perseguidos, estando em 42ª posição na LMP24 e, agora, ocupa a 59ª posição na Lista de Países em Observação (LPO). Embora o nível de pressão permaneça o mesmo da LMP 2024, “a violência contra os cristãos continua devido a ataques a igrejas e cristãos, além do crescimento das prisões e das fugas forçadas do país. Sendo assim, a nação desceu na lista devido à subida de outros países.”
E o Brunei, na Ásia, deixou a 44ª posição na LMP24 para a 48ª na LMP25. A sociedade é amplamente impactada pela implementação da sharia, o conjunto de leis islâmicas, de acordo com Portas Abertas. Dessa forma, os cristãos de origem muçulmana enfrentam uma pressão ainda maior, pois a conversão à fé cristã é proibida pela lei, e tanto a família quanto a comunidade farão o possível para que retornem à sua antiga religião.
“As comunidades cristãs não tradicionais precisam se registrar como empresas, sociedades ou centros familiares”, sublinha a instituição missionária. Dessa forma, são tratadas como entidades seculares e são obrigadas a submeter seus relatórios financeiros e operacionais ao governo, anualmente.

