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terça-feira, 16 abril 2024

O limite da vaidade: A valorização da aparência tem limite?

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A vaidade passa a ser contrária à ética cristã quando estabelece uma expectativa fantasiosa de felicidade - Foto: Seniv Petro

O corpo humano é magnífico em todos os aspectos. Não é produto de uma evolução nem mesmo de uma mera adaptação ao meio ambiente. O corpo de homens e mulheres foi planejado e criado pela mente infinitamente sábia de Deus

A vaidade está na natureza humana. Todos sentem prazer quando, de alguma forma, se distinguem positivamente em relação aos demais. A maioria das pessoas gosta de se sentir bem vestida, bem quista, aprovada e admirada pelo seu grupo social.

O Brasil fomenta bastante a cultura da beleza, por isso se presencia diariamente nos meios de comunicação uma pressão mercadológica por padrões de beleza, na maioria dos casos, possível de ser conquistada por homens e mulheres. O brasileiro tem tendência de valorizar muito a aparência e grande flexibilidade para testar novidades. Isso faz com que o país consolide a cada ano a posição de um dos mercados mais promissores para a indústria cosmética e da beleza.

De acordo com a Associação Internacional de Medicina Estética, há cerca de 6 mil médicos e 4 mil clínicas especializadas em estética atuando em terras brasileiras. E a média anual de procura por médicos com esta especialização tem crescido aproximadamente 25%.

Quando o assunto é cirurgia plástica, o Brasil é considerado o segundo maior mercado do mundo. Conforme números da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o setor movimentou mais de R$ 2 bilhões só em 2008 com o registro de 700 mil intervenções realizadas por cirurgiões membros da Sociedade.

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Também nessa área as mulheres ainda são maioria nos consultórios, respondendo por 88% das cirurgias realizadas. Um estudo do Instituto de Pesquisa Datafolha encomendado pela SBCP mostrou que 73% das cirurgias realizadas no País são estéticas e apenas 27% reparadoras ou reconstrutoras.

Espelho, espelho meu

Todas as pessoas querem ser bonitas e ter alguém bonito como parceiro. A indústria da beleza prega que todos podem fazer algo em favor da própria aparência. Trata-se de melhorar aquilo que a natureza concedeu e, assim, enfrentar a estrada da vida com um pouco mais de satisfação.

Entretanto, o bombardeio da indústria da beleza é tamanho que mexe com o psicológico de homens e mulheres, que exacerbam o valor da conquista da aparência ideal ou aceitável pela sociedade, mergulhando numa busca frenética por aceitação, sucesso e felicidade.

Na visão da terapeuta Cássia Rodrigues, isso gera um conflito para as pessoas. “A pressão os faz acreditar que precisam investir no culto ao corpo para serem aceitas pela sociedade. O meio artístico, que é a referência para essa cultura, vive da imagem e ganha muito bem para isso. O que difere bastante da realidade da mulher moderna, que precisa sair para o mercado de trabalho, se desdobrar entre várias funções e ainda lidar com a cobrança interna e externa exigida por esses padrões”.

“Nosso corpo é habitação do Espírito Santo (1Co 3:16). Por isso, devemos sempre deixá-lo em condições dignas de uso para o seu divino habitante.” – Pr. Marcos Carvalho

A mulher é quem mais sofre com essa pressão toda porque, segundo Cássia Rodrigues, é mais detalhista. “A mulher se cobra muito, principalmente após os 30 anos. Se o regime já não funciona, a esperança é uma ‘lipo’. Se as rugas aparecem, é hora de pensar num ‘botox’. Começa então a busca pela manutenção dos 20 anos – o que é irreal. A pessoa precisa se aceitar e buscar sua saúde em primeiro lugar, dizendo não a essa competição toda, que mais tem trazido infelicidade para as pessoas do que satisfação real”.

Para Cássia, a busca pela harmonia estética é lícita se mantida nos padrões mínimos de sensatez e domínio próprio. “Querer estar arrumado, perfumado, bem vestido e sentir-se bem por isso não é errado; fazer disso o foco de sua existência, sua alegria, isso sim, é”.

De acordo com o cirurgião plástico Fábio Zamprogno, alguns pacientes chegam ao consultório com o pensamento fixo no padrão de beleza. Mas aí entra a habilidade do médico para conduzir a situação. “Temos que evitar os exageros e conversar com o paciente, mostrando os riscos e benefícios de uma cirurgia e analisando criteriosamente se realmente existe a necessidade do procedimento”.

Fábio Zamprogno, que tem 22 anos de profissão, reconhece que em muitas situações a cirurgia representa um ganho para a saúde do paciente. “A cirurgia plástica estética é como qualquer outro tipo de tratamento médico. A meu ver, todas devem trazer algum beneficio ao paciente. Temos casos onde o beneficio se reflete na melhora da autoestima, fazendo com que o paciente passe a gostar mais de si mesmo. Uma plástica de face melhora o semblante, fazendo com que o paciente tenha um olhar mais descansado e descontraído. Isso, certamente, ajudará no seu convívio social”.

Discernimento

A Palavra de Deus é bem clara quando diz que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm”. E ainda completa: “Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (I Co 6.12).

Toda a exacerbação acaba por romper a linha que delimita o saudável do pernicioso, o lícito do pecaminoso. A Bíblia fala sobre a inutilidade da vaidade que há no coração humano. Tanto que por diversas vezes, traduz a palavra vaidade por soberba.

A palavra vem do latim vanitate, e indica algo que é vão, instável ou de pouca duração. O dicionário fala de “desejo imoderado e infundado de merecer a admiração dos outros; vanglória, ostentação; presunção malfundada de si, do próprio mérito; fatuidade, ostentação; coisa vã, fútil, sem sentido; futilidade”.

A indústria da beleza prega que todos podem fazer algo em favor da própria aparência. Entretanto, o bombardeio da indústria da beleza mexe com o psicológico de homens e mulheres.

Em nenhum texto bíblico a beleza é desprezada ou associada ao pecado. “A vaidade faz parte da natureza humana de uma forma muito mais natural do que se imagina, como por exemplo, quando alguém pinta o cabelo ou as unhas, escolhe uma roupa de marca, seleciona um tipo de carro, de tênis, de perfume”, destaca Cássia Rodrigues.

A vaidade passa a ser contrária à ética cristã quando estabelece uma expectativa fantasiosa de felicidade, apoia um desejo imoderado de admiração e ostenta vanglória pessoal. “Temos que rejeitar o exagero. A Bíblia não proíbe a pessoa de buscar estar bem esteticamente, mas precisamos entender que moderação é a palavra de ordem para tudo. Há uma busca pela beleza que traduz ambição, desejo de impressionar, exibição, malícia. A vaidade nos prejudica quando atrapalha nosso relacionamento com Deus”, falou a pastora Maria Valdene Nunes da Silva, da Igreja do Evangelho Quadrangular de Vila Batista, Vila Velha (ES).

Na Bíblia, o apóstolo Paulo orienta que o crente não deve moldar-se aos padrões deste mundo. “Não precisamos viver neste mundo apenas para reagir a ele. Também podemos exercer a nossa capacidade de influenciar. Nossas ações refletem os nossos valores. Nossos valores são resultado de um relacionamento com Deus e, assim, a glória dEle vai se manifestando em nós”, comenta o Pr. Marcos Carvalho, da Igreja Batista em Santa Cecília, Cariacica (ES).

“A pressão os faz acreditar que precisam investir no culto ao corpo para serem aceitas pela sociedade.” – Cássia Rodrigues, terapeuta

Os valores do cristão devem estar baseados em tesouros incorruptíveis, como amor, benignidade, domínio próprio, santidade, retidão. Quando se exala amor ao próximo, emana-se o tipo de beleza que não pode ser adquirido ou vendido. A beleza que só Deus pode dar. A aparência será mais um reflexo do Espírito Santo do que um objetivo de vida.

A pastora Maria Valdene destaca a mordomia do corpo, que começa pela necessidade que ele tem de ser alimentado e cuidado (Ef 5.29). “O cuidado com a saúde física e emocional, bem como o zelo para com nosso corpo, é uma responsabilidade de cada um como mordomo de Deus”, disse. O cristão tem o compromisso de cuidar da saúde física, emocional e espiritual, deve equilibrar o trabalho e o descanso (Ex 20.8-11) para ter uma vida de qualidade. Aquele que não é mordomo fiel torna-se vítima desse descuido.

A Igreja pode ajudar mais nessa conscientização e promover a saúde integral dos seus membros, e não apenas das questões relacionadas à espiritualidade. O papel social da Igreja passa pela promoção da saúde e do cuidado com o corpo, bem como de orientações que façam os membros terem uma vida saudável.

“Nosso corpo é habitação do Espírito Santo (1Co 3:16). Por isso, devemos sempre deixá-lo em condições dignas de uso para o seu divino habitante. Quando, por exemplo, cantamos, andamos, falamos ou gesticulamos, fazemos uso do nosso corpo e evidenciamos a presença de quem habita em nós. Se cremos que o nosso corpo é templo do Espírito Santo, tudo o que promovemos através dele deve refletir a glória de quem nele habita”, falou o Pr. Marcos Carvalho.

“A vaidade nos prejudica quando atrapalha nosso relacionamento com Deus” – Pastora Maria Valdene Nunes da Silva

Quando o assunto é atividade física, o pastor Marcos, que é um adepto, acredita que todas as igrejas podem incentivar eventos que estimulem os membros a cuidar melhor da saúde e do corpo. “O incentivo da igreja pode acontecer por meio de parcerias com a comunidade, da promoção de esportes coletivos, como vôlei e futebol, de passeios de bicicleta, bem como de alternativas para membros de cada faixa etária”.

Um exemplo prático que une o esporte à fé está acontecendo na Igreja Batista do Ibes, em Vila Velha. Como parte da campanha missionária, a igreja está promovendo um torneio de futebol soçaite entre as igrejas evangélicas da Grande Vitória. O torneio vai envolver 150 jogadores no final do mês. A intenção é promover o evento também no segundo semestre do ano.

“Os esportes de inclusão social são muito importantes. Sou um incentivador da atividade física regular e orientada. Isso faz muito bem ao corpo e à alma, além de prevenir doenças e sociabilizar”, completou o pastor.

Outra iniciativa válida são palestras e encontros que discutam temas sociais, como é feito pela pastora Maria Valdene em sua igreja. “O ambiente da Escola Bíblica é o ideal para falarmos sobre todos os problemas que atingem nossa sociedade. Sempre promovemos grupos de discussão com mulheres para falar sobre saúde, bem-estar, relacionamento, filhos. Tudo isso contribui para a formação intelectual dos membros, promovendo o esclarecimento de acordo com o que as Escrituras nos ensinam”, conclui.

O que é vaidade?

  • No livro de Eclesiastes, a Bíblia dá a esta palavra uma explicação mais genérica e abrangente: “Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade” (1:2)
  • No livro de Jó, vaidade é sinônimo de vida: “A minha vida abomino, pois não viveria para sempre; retira-te de mim; pois vaidade são os meus dias” (7:16)
  • Em Salmos, o homem é definido como vaidade: “Quando castigas o homem, com repreensões por causa da iniquidade, fazes com que a sua beleza se consuma como a traça; assim todo homem é vaidade” (39:11)
  • Pensamentos são vaidades. Não é exagero, é afirmação bíblica. “O Senhor conhece os pensamentos do homem, que são vaidades” (Salmos 94:11)
  • No livro de Provérbios, a falsidade é definida como vaidade: “Trabalhar com língua falsa para ajuntar tesouros é vaidade que conduz aqueles que buscam a morte” (21:6)
  • O Novo Testamento mostra que todos os homens estão sujeitos à vaidade: “Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou” (Romanos 8:20)
  • Salmos fala que o cristão deve se preocupar mais com as coisas espirituais e menos com as materiais: “Desvia os meus olhos de contemplarem a vaidade, e vivifica-me no teu caminho” (119:37)

Fonte: pesquisa bíblica

O mercado da beleza

  • A indústria da cosmética e da beleza movimenta por ano, a média de US$ 4 bilhões no Brasil
  • Há cerca de 6 mil médicos e 4 mil clínicas especializadas em estética atuando no país
  • A procura por procedimentos estéticos cresce, em média, 25% ao ano
  • O segmento for men no Brasil representa hoje 10% do total de produtos comercializados para o corpo e a aparência. O mercado masculino fatura anualmente R$ 800 milhões
  • O mercado de cirurgia plástica no Brasil é considerado o segundo maior do mundo. Em 2008, movimentou R$ 2 bilhões, com o registro de 700 mil intervenções. Apenas 27% delas são reparadoras ou reconstrutoras; 73% são estéticas.
  • As mulheres demandam 88% dos serviços de cirurgias plásticas

Fonte: Associação Internacional de Medicina Estética, Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos

Esta matéria foi publicada originalmente em 6 de Junho de 2018, no portal da Revista Comunhão. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.

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