Carta aberta reúne bispos, cardeais e rabinos em um apelo por mais atenção aos vulneráveis e investimentos em cuidados de fim de vida
Por Patrícia Esteves
O debate sobre o suicídio assistido reacendeu discussões sobre a dignidade humana, os limites da autonomia individual e o papel das instituições em cuidar dos mais frágeis. Com o Projeto de Lei de Adultos com Doenças Terminais (Fim da Vida), proposto pela parlamentar Kim Leadbeater, líderes religiosos de diversas tradições levantaram preocupações sobre as implicações éticas e sociais dessa prática, especialmente para as comunidades mais vulneráveis. A proposta, que promete salvaguardas rigorosas para evitar abusos, enfrenta críticas robustas e um apelo conjunto pela valorização dos cuidados paliativos.
Em uma carta aberta publicada no jornal The Observer, 29 líderes religiosos expressaram sua oposição ao projeto de lei, alertando para os riscos de coerção que ele poderia trazer. Entre os signatários estão o bispo de Londres, Dame Sarah Mullally, e o cardeal Vincent Nichols, chefe da Igreja Católica na Inglaterra e no País de Gales. “Parte do papel dos líderes religiosos nas comunidades é fornecer cuidado espiritual e pastoral aos doentes e aos moribundos. […] É a partir dessa vocação que escrevemos”, afirma a carta. Os signatários destacaram que, em vez de ampliar o direito de morrer, o projeto poderia pressionar pessoas vulneráveis a considerarem essa opção, especialmente diante de sistemas de saúde e assistência social fragilizados.
Além da declaração religiosa, um grupo de 73 especialistas acadêmicos em saúde, direito e cuidados de fim de vida também se posicionou contra o projeto. Eles argumentam que a mudança na lei poderia normalizar o suicídio assistido, transformando-o em uma saída “esperada” para quem se sente um fardo para a família. “Negar os riscos de coerção é ignorar os mais de 400.000 casos anuais de abuso doméstico de idosos registrados na Inglaterra e no País de Gales”, escreveram.
Outro ponto central do debate é o estado crítico dos cuidados paliativos no país. Muitos dos opositores ao projeto veem essa área como um caminho alternativo e mais ético para lidar com o sofrimento terminal. “Os cuidados paliativos estão preocupantemente subfinanciados. É essencial melhorar sua qualidade e disponibilidade para que ninguém se sinta sem opções dignas no fim da vida”, reforçam os líderes religiosos.
Por outro lado, Kim Leadbeater defende que sua proposta apresenta salvaguardas sem precedentes e que a lei seria uma resposta compassiva àqueles que sofrem com doenças terminais. Apesar das garantias, as críticas apontam que o atual cenário de pressão financeira no sistema de saúde pública britânico, o National Health Service (NHS), não seria propício para implementar mudanças de tamanha complexidade.
O posicionamento conjunto de líderes religiosos de diferentes confissões — incluindo cristãos, judeus e muçulmanos — reflete um esforço inter-religioso para proteger os vulneráveis e ressignificar o valor da vida, especialmente nos momentos mais delicados. A carta conclui com um convite à reflexão e à ação, propondo que o Parlamento invista em soluções que fortaleçam o cuidado integral ao ser humano, preservando sua dignidade até o último momento. Com informações de Christian Today