Fórum Inter-religioso do G20, que aconteceu nesta quinta-feira (14), integra a Cúpula do G20 Social e contou com a participação de representantes de diversas entidades e organizações do meio religioso
Por Michelli de Souza
Participantes de diversas religiões compareceram, nesta quinta-feira (14), ao Fórum Inter-religioso do G20 Social, realizado no Rio Janeiro. O objetivo do encontro foi dialogar e contribuir para a promoção das áreas prioritárias definidas pelo governo brasileiro para o G20, que é a abreviação para “Grupo dos 20”, que reúne as economias mais importantes do mundo a fim de discutir iniciativas que promovam melhorias econômicas, políticas e sociais nas nações que integram esta cooperação.
Ao todo, 19 países, somadas a União Europeia e a União Africana, fazem parte do G20. Ele foi criado em 1990, quando uma crise financeira atingiu a Ásia e afetou diversas nações. A presidência do grupo é rotativa e, neste ano, o Brasil foi escolhido para assumir o comando, por isso, o país recebeu a Cúpula de Líderes do G20.
Desde 2014, o Fórum Inter-religioso vem reunindo atores religiosos que, neste ano, voltaram as suas discussões para ações visando socorrer as comunidades mais vulneráveis que enfrentam desafios, como pobreza, desigualdade e discriminação. O Diretor de Relações Institucionais da Visão Mundial, Wellington Pereira, compareceu ao Fórum para representar a instituição e palestrar a respeito da temática em torno da alimentação, refletindo sobre formas de como as entidades religiosas podem contribuir para ajudar no combate à fome no país.
Confira, a seguir, a entrevista com Wellington Pereira.
COMUNHÃO: Desde 2014, o Fórum Inter-religioso do G20 tem reunido atores religiosos para discussões de agendas sociais importantes. Na sua visão, qual a relevância de incluir as organizações religiosas na análise de diversos desafios globais, como pobreza, desigualdade, discriminação e conflitos armados?
Wellington Pereira: O fórum parte do princípio que as religiões têm um papel fundamental na relação com a comunidade. As religiões estão na comunidade e, ao mesmo tempo, são organizações respeitadas pelas autoridades públicas. Elas acabam, então, fazendo a ponte entre a sociedade civil e o poder público local. Então, o fórum vem trabalhando com essa ideia de mostrar para os governantes a importância que há em dialogar com as religiões, com as lideranças, para que elas sejam instrumentos de levar a paz e de envolver a comunidade em um enfrentamento à fome e a outros problemas sociais.
Qual é a contribuição da Visão Mundial no fórum deste ano?
Este ano, a gente teve três reuniões, uma em Manaus, que a Visão Mundial, inclusive, vai ajudar a organizar; uma outra reunião no Pará, e outra onde a gente reuniu lideranças de várias matrizes religiosas, contando com a participação da juventude. Teve uma menina indígena apoiada pela visão mundial, a Taísa, que participou do evento em Manaus, e foi, então, a partir dessas discussões, formulado um documento que vai ser enviado à presidência do G20 com as recomendações do Fórum Inter-religioso.
O senhor poderia citar exemplos de como as organizações religiosas têm sido importantes na proposição de políticas públicas?
Eu citaria o exemplo de alguns países do mundo, alguns locais onde tem conflitos religiosos, por exemplo, entre o islamismo, o budismo, o cristianismo, e as lideranças religiosas têm sentado a mesa para tentar trabalhar em conjunto, para tentar conhecer as diferenças, então, especialmente no tema da promoção da paz, da promoção da equidade e também no enfrentamento da fome.
As discussões que vêm sendo feitas desde 2014 no Fórum já geraram resultados positivos para o Brasil? Se sim, o senhor poderia citar alguns?
Sim, e não só para o Brasil, mas para o mundo, porque, como esse fórum é global, ele acaba tendo recomendações não apenas para um país, mas para todos os países. A maior contribuição deste fórum é recolocar lideranças que antigamente não se sentavam juntas para discutir políticas públicas e que, agora, têm se reunido para poder discutir em conjunto como melhorar a vida da comunidade.
E como a visão mundial tem se posicionado diante das questões sociais ao longo desses anos?
A Visão Mundial integra a coordenação deste fórum e tem dois representantes em nível global que participam da diretoria deste fórum. Como a Visão Mundial tem como uma das suas prioridades trabalhar com igrejas, com lideranças, não só igreja evangélica, mas com a religião de modo geral, a instituição tem sido uma fonte, tem levado para este fórum o que ela tem discutido na sua base com as igrejas para que este espaço de discussão também tenha essa voz da base. E a Visão Mundial tem tido um papel super importante, que é levar o tema da infância para este fórum. Lembrando que ele não é de infância, mas sim de religiões. Então, a instituição, onde ela está, leva sempre a fala da criança. A importância da criança também e a relevância que as religiões têm na proteção da criança, na garantia do seu direito, para que nenhuma criança sofra nenhum tipo de abuso, nem de violência.
Para finalizar, o senhor falou sobre a igreja. Qual é o papel dela diante da desigualdade social?
A igreja tem um papel fundamental, porque ela reúne pessoas de todas as classes sociais. A igreja talvez seja um dos espaços mais democráticos que existem, aí você tem personagens liberais, gente de classe média, alta, baixa, e está todo mundo ali em nome de Cristo, em nome de uma única fé. Então, a igreja é esse espaço democrático, e sendo esse espaço democrático, ela ajuda a promover também o direito da criança nos seus espaços. A gente não pode esquecer que ela exerce um papel fundamental para estar na comunidade. Para poder ser referência na comunidade, para ser uma luz na comunidade, para que essa comunidade conte com a igreja, para poder ser um aliado importante, não apenas no combate à fome, mas também na garantia dos direitos da criança.