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sábado, 20 abril 2024

Jovens sem religião: “a igreja precisa se abrir ao diálogo com a modernidade”

Jovens
Foto: Afta Putta Gunawan/Pexels

“Como remediar isso? Criando mais capacidade de ouvir. Escutando mais, a igreja conseguirá dar respostas adequadas, e assim, produzirá menos decepcionados”

Por Marlon Max

O número de jovens que não se identificam com nenhuma religião aumentou no Brasil. É o que aponta uma pesquisa da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS, sobre como o jovem brasileiro vê a família, a religião e quais são suas perspectivas para o futuro.

O pastor, doutor em Ciências da Religião, Kenner Terra apresenta uma leitura positiva e desafiadora da pesquisa. De acordo com ele, “A atitude de um pai cristão que entende a responsabilidade de influenciar seus filhos para a vida adulta, e agindo, não apenas com palavras.”

No estudo, foram entrevistados 1,5 mil jovens de 18 a 34 anos em todas as regiões do Brasil, solteiros e namorando, que responderam a 35 perguntas sobre hábitos de lazer, consumo, sonhos e mídia. Do total de entrevistados, 67,1% estão solteiros e 32,9% namorando.

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Segundo o coordenador do estudo, professor Ilton Teitelbaum, ainda que os modelos apresentados não sejam os mais tradicionais, o apego à família ficou claro na pesquisa: 88,1% dos entrevistados disseram que ela é fundamental ou muito importante, contra apenas 11,9% que afirmaram ser irrelevante ou pouco importante.

Desapego à religiões

Para o professor Teitelbaum, uma das surpresas foram os dados a respeito da religião. “Ateus, agnósticos e os que praticam a fé sem religião somam 32,14%, quase alcançando o número dos que se declararam católicos, que são 34,3%. Isso mostra o aumento do número de jovens sem religião no Brasil, um país predominantemente de católicos” afirma.

Quanto ao crescente número de jovens que não querem se identificar com nenhuma religião, Terra explica que não se trata de uma aversão à Deus ou a sua divindade, mas ao modelo proposto e a forma que se comunica a fé.

“Eu acredito que esse ateísmo não é algo ontológico, isto é, não se trata apenas de não crer em Deus, mas de não crer na importância da instituição religiosa ou da figura desse Deus que a instituição religiosa apresenta”, explica.

Entrevista

Diante deste estudo, Comunhão conversou com o pastor, doutor em Ciências da Religião, Kenner Terra, para entender de que forma esses apontamentos impactam a vida dos jovens, dentro ou fora das igrejas, e quais caminhos líderes e pais podem tomar para remediar erros na formação da identidade destes jovens e leva-los a um caminho de encontro a Deus. Confira!

Comunhão – Segundo a pesquisa da PUCRS, os jovens ainda declaram que a família é o principal fator de influencia na vida deles. Em tempos tão fragmentados, como explicar essa escolha por se ancorar no núcleo familiar?

Kenner Terra – A família é uma instituição milenar. Mas a forma de ser família muda com o tempo. A pesquisa só confirma que esse lugar de construção de identidade, acolhimento e parentesco, é fundamental. A família é o lugar onde se forma sua identidade, mas é óbvio que os modelos familiares na história mudaram. Mas a maneira de amar, de acolher, de formar identidade, torna o conceito de família quase que atemporal.

Qual deve ser a atitude de pais cristãos, levando em conta a responsabilidade de influenciar os filhos para a vida adulta?

A atitude de um pai cristão que entende a responsabilidade de influenciar seus filhos para a vida adulta, e agindo, não apenas com palavras. É dar espaço na agenda, organizar sua vida e demonstrar que o núcleo familiar é importante. Isso exige planejamento, organização e participação. Outra coisa que os pais devem fazer e ser fiel. No trato, na verdade, nas responsabilidades. E, é claro, viver na prática a justiça do Reino. Tudo isso influencia.

Valores como, amor, perdão, generosidade foram atribuídas ao núcleo familiar, mas não necessariamente à igreja. Podemos concluir que há um vão entre a igreja e as famílias?

Valores como amor, perdão e solidariedade… são valores ou princípios que a gente define como família, e por isso gera tanta segurança. O interessante é que a igreja se chama um lugar de família, mas possivelmente a gente se refere à forma, mas estamos nos esquecendo do valor, do que isso significa… da substância. Defender a família, é também defender o espaço eclesiástico que produza generosidade, perdão e amor.

Um fator curioso da pesquisa é o crescimento de jovens que se autodenominaram ateus. A Igreja tem alguma responsabilidade quanto a isso? O que pode ser feito para que esse número diminua?

O ateísmo é um fenômeno moderno. Ele aconteceu a partir do momento que discurso religioso, ou a expressão religiosa não mais explica as ânsias e a demanda dessa modernidade científica e com perspectivas que a fé e o sistema religioso não dá mais conta de responder.

Eu acredito que esse ateísmo não é algo ontológico, isto é, não se trata apenas de não crer em Deus, mas de não crer na importância da instituição religiosa ou da figura desse Deus que a instituição religiosa apresenta.

A igreja quando não consegue dialogar com as demandas de um grupo, ela contribui para que esse grupo desconsidere o valor da mensagem que a igreja tem. A Igreja precisa se abrir ao diálogo com a modernidade. Construir uma ponte entre discurso e prática.

Qual cenário ideal para um jovem crescer amando a Deus, sua palavra e formando famílias saudáveis? De que forma você aconselha aqueles que estão na sua comunidade de fé nesse sentido?

Um lugar onde Deus é amado, produz liberdade, graciosidade e respeito aos limites do outro. Não é um espaço de imposição de valores, mas de testemunhos de valores. Então o cenário ideal para um jovem crescer amando a Deus, é um lugar onde a ética desse Deus aconteça. Eu costumo aconselhar que na comunidade, as famílias entendam as outras, e tenham uma atitude madura e saudável mediante a situação que se tem em cada lar.

Com o apontamento do crescimento do ateísmo entre jovens, e como consequência, a baixa adesão ao Cristianismo, é possível dizer que a forma que entregamos a experiência cristã não é mais satisfatória?

Eu diria que a maneira que lidamos com as questões do mundo, não está dando mais conta. Esse crescimento de gente que não acredita no discurso de fé das igrejas, tem a ver também com a resposta que a igreja dá à dilemas complexos. Como remediar isso? Criando mais capacidade de ouvir. Escutando mais, ela (igreja), conseguirá dar respostas mais adequadas, e assim, produzirá menos decepcionados.

Kenner Terra é Pastor Batista, doutor em Ciências da Religião e professor na Faculdade Unida de Vitória

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