À luz da Palavra de Deus, pastores são unânimes em destacar a responsabilidade humana diante das catástrofes e descartam a ideia de um Deus vingativo
Por Patricia Scott
Em Los Angeles, Califórnia (EUA), cerca de 8,5 mil bombeiros estão empenhados no combate ao maior incêndio florestal da história da cidade, contando com o apoio de equipes de outros seis estados, além de contingentes do México e do Canadá. Os esforços para controlar as chamas avançaram, com a área sob controle chegando a 19% em Palisades e 45% em Eaton.
Até o momento, 25 mortes foram confirmadas devido ao incêndio, segundo o escritório do médico legista do condado de Los Angeles. Mais de 12 mil edifícios foram destruídos, e 88 mil pessoas receberam ordens de evacuação. Entre os afetados, estão moradores de todas as classes sociais, incluindo milionários e celebridades que vivem nas proximidades da praia ou nas montanhas a oeste de Hollywood e Beverly Hills.
Nas redes sociais, alguns líderes evangélicos têm comparado esse trágico evento à destruição de Sodoma e Gomorra, conforme descrito nas Escrituras (Gênesis 18-19), associando-o ao juízo divino, à justiça e à ingratidão de artistas que participaram da premiação do Globo de Ouro. Entretanto, o pastor Joarês Mendes de Freitas, emérito da Primeira Igreja Batista em Jardim Camburi, Vitória (ES), ressalta que essa confrontação não é adequada.

Ele explica que, no caso de Sodoma e Gomorra, Deus avisou a Abraão, que era um modelo de fé na época, e afirmou que se houvesse 10 justos, pouparia as cidades. Assim, antes da destruição, o Senhor retirou Ló e sua família, indicando que não se tratou de uma ação indiscriminada. Ele também cita o dilúvio, observando que, embora Gênesis 6 evidencie a corrupção de toda a humanidade, Deus ainda deu uma oportunidade de salvação a partir de Noé.
Para Joarês, os incêndios nos EUA, assim como os recentes eventos na Europa e a trágica enchente no Sul do Brasil, são consequências do pecado humano contra a natureza, fruto do mau uso da criação divina. Ele alerta que aplicar uma teologia judaica do Antigo Testamento para interpretar esses acontecimentos é uma abordagem arriscada.

“As narrativas do Antigo Testamento devem ser vistas à luz do Novo Testamento, especialmente dos ensinamentos de Jesus”, acrescenta. Segundo o pastor, todos os atos divinos na história do povo de Deus, antes de Cristo, devem ser compreendidos dentro de uma revelação progressiva, que alcançou seu ápice na cruz.
Lei da semeadura
Joarês observa ainda que, em termos gerais, a Bíblia ensina sobre a lei da semeadura e colheita (Gálatas 6.7). “Isso se aplica tanto ao aspecto material quanto espiritual da vida.”

Seguindo a mesma linha de pensamento, o pastor Ediudson Fontes afirma que os incêndios em Los Angeles são resultado de uma combinação de fatores naturais e humanos, como fogos de artifício, queda de fios elétricos e condições climáticas extremas. “A narrativa do juízo de Sodoma e Gomorra não se aplica diretamente, pois a punição divina é distinta da calamidade atual, que afeta tanto evangélicos quanto não evangélicos”, destaca o pastor da Assembleia de Deus – Cidade Santa, no Rio de Janeiro (RJ). Ele acrescenta que essa tragédia evidencia a fragilidade da vida e a importância da fé em tempos de adversidade, incentivando uma “reflexão sobre nossas prioridades espirituais.”
Já o pastor Welfany Nolasco prega que o Senhor não utiliza a Sua justiça para ferir as pessoas. Entretanto, existem as consequências dos erros. Especificamente quanto às questões ambientais, ele considera a ação humana e os reflexos climáticos, e não relação com a ira divina. “No Antigo Testamento, o povo tinha essa leitura, mas no tempo da graça, com a nova doutrina, não é assim. São coisas que acontecem, que fazem parte da vida, principalmente por conta da ação do próprio homem”, finaliza o líder da Igreja Metodista Nova Canaã, em Cachoeiro de Itapemirim (ES).

