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sexta-feira, 19 abril 2024

Impressões de um modesto pastorado

Acerca das muitas exigências que recaem sobre o pastor, sua figura e seu trabalho se destacam como fator preponderante de referência espiritual, educativa e intelectual

Por Ephrain Santos de Oliveira 

Alguém já disse ou escreveu algures que o pastor no Brasil é um misto de gerente de Igreja, conselheiro espiritual, pregador, psicólogo improvisado, teólogo de plantão, administrador de conflitos, engenheiro de obras, musicista arranjado, regente e cantor, e por aí afora. Isso quando não é também o zelador do templo.

Em relação às cidades pequenas, onde muitas vezes as igrejas, também pequenas, sobrevivem à base da total dedicação do seu líder, essa designação é perfeita. De fato, exige-se do pastor, nessas circunstâncias, o máximo de versatilidade e polivalência.

É o que ocorre, exatamente, no interior de Minas, onde pastoreamos há mais de quatro décadas, sempre em cidades de pouca expressão cultural, geográfica e industrial, às voltas com os assuntos, problemas e tarefas de naturezas das mais variadas.

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Entretanto, não é este ainda o grande problema que o pastor enfrenta e que afeta a sua estrutura psico-emocional, com reflexos inclusive na sua própria condição física. O fator realmente grave é o ambiente que o cerca. Ou seja: a indolência gerada pelo meio social, o extremado conservantismo religioso do povo e a idolatria arraigada numa terra em que predomina o culto aos santos.

Nesse contexto, a despeito do seu trabalho incansável, perseverante e contínuo – dividindo o tempo com o estudo exaustivo e a pregação, o planejamento e a visitação intensiva, o aconselhamento e doutrinação, mais o cuidado com a parte administrativa – as conversões se apresentam morosas, o ritmo de crescimento da igreja muito lento, a conquista de espaço bastante dificultosa.

Contudo, mesmo nesse clima e cenário, a influência da Igreja se torna conhecida, sensível e reconhecida na comunidade onde ela está implantada. Prova disso é o fato do pastor ser, invariavelmente, incluído e solicitado nos projetos que visam o aprimoramento nas áreas social, educativa e profissional do município.

A tal ponto que ele deixa de ser, em determinados momentos e ocasiões, tão somente o pastor das quatro paredes e dos lares crentes, vendo-se na obrigação e no constrangimento de estender e ampliar o seu ministério, através de um compromisso maior e mais direto com o meio social, para tornar-se o pastor da própria cidade onde reside.

Nessa emergência, além do peso de representatividade que carrega, como cristão e presbiteriano, depara-se ele com o aspecto mais desafiador de sua vocação: manter-se próximo ao povo sem cair no vulgar, ter vida pública sem permitir envolvimento comprometedor, manter-se independente sem violentar as normas eclesiais.

Enfim, pela característica indicada acima, acerca das muitas exigências que recaem sobre o pastor, no meio em que vivemos no interior, sua figura e seu trabalho se destacam como fator preponderante de referência espiritual, educativa e intelectual, tanto no âmbito interno da igreja como fora dela.

Cumprindo o seu ministério nos estabelecimentos públicos, nas associações, nos educandários, nas ruas e praças e esquinas, nos núcleos diversos da cidade, e na sua rotina normal, além da assistência específica e integral à Igreja, ele realça o significado da comunidade de fé que representa, a qual, embora muitas vezes humilde e modesta em termos numéricos e patrimoniais, revela excelente qualidade pelo testemunho dos seus membros e apreciável nível de maturidade aos olhos de todos!

Rev. Ephrain Santos de Oliveira, pastor jubilado da IPB; pastoreou 24 comunidades, entre Igrejas e Congregações na região sul mineira; também é membro da Academia Itajubense de Letras, da qual é atual presidente 

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