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sexta-feira, 29 março 2024

Igreja Urgente!

O crescimento das igrejas evangélicas é notável e espantoso. É impossível determinar o número exato de templos e quantos serão abertos até o fim do próximo mês. Da mesma forma, é difícil determinar o número de pessoas que a cada domingo levantam suas mãos e fazem um compromisso público de servir a Deus. Mas, tão grande quanto o número de novos adeptos é também o daqueles que se desviam, saem das igrejas e ingressam na criminalidade. Se o Evangelho transforma a sociedade e se a Igreja é o meio pelo qual isso acontece, qual a explicação possível para o fato de, numa mesma comunidade, existirem tantas igrejas e também tanta violência? Por que isso acontece? O que está faltando? De quem é a culpa? E, um pergunta urgente surge: o que o povo de Deus pode fazer para mudar essa situação? No final do ano passado, uma cena transmitida em rede nacional chocou a opinião pública e envergonhou os cristãos brasileiros. Vídeos sobre um esquema de corrupção envolvendo o Governo do Distrito Federal foram divulgados e deputados distritais, assessores e o próprio governador do DF – José Roberto Arruda – foram vistos recebendo e guardando maços de dinheiro em pastas, envelopes, bolsos, cuecas e até meias.

Porém, a cena de maior repercussão e indignação foi, sem dúvida, a que mostrava os políticos denunciados orando e agradecendo a Deus pela propina. O escândalo da ‘Caixa de Pandora’, como ficou conhecida a operação realizada pela Polícia Federal, ainda ecoa na sociedade brasileira e levanta uma questão: como pessoas que conhecem a verdade e a Palavra de Deus podem se envolver em corrupção? Como podem confessar a fé cristã e ainda compactuar com uma vida de criminalidade?

Um estudo realizado entre março de 2003 e dezembro de 2004 sobre o perfil das detentas da Penitenciária Feminina da Capital (São Paulo-SP) mostrou a religiosidade dessas mulheres antes do aprisionamento. Os pesquisadores Paulo Augusto Costivelli e Paulo Dalgalarrondo, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, aplicaram questionários com dados sociodemográficos, culturais, itens sobre saúde mental e perfil criminal e notaram que, das 358 mulheres que participaram da pesquisa, 257 (72%) tinham práticas religiosas antes de serem presas. Destas, 151 (42%) já eram evangélicas e 94 (26%) tinham outras religiões. Um terço delas tinha freqüência assídua a cultos e 49,2% das entrevistadas declararam que suas famílias são evangélicas.

O estudo tinha como objetivo verificar o perfil de saúde mental e a relação entre religião e religiosidade entre as encarceradas, mas também mostrou que muitas detentas foram criadas em lares evangélicos, que freqüentavam igrejas e reuniões, mas que, ainda assim, se envolveram em crimes. “A hipótese, difundida pelo senso comum, de que nos bolsões de miséria da sociedade brasileira a afiliação a igrejas evangélicas protegeria contra o envolvimento criminal parece ser questionada pelos dados do presente trabalho, já que 42% destas mulheres já eram evangélicas antes do aprisionamento”, concluem os dois pesquisadores, no estudo.

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No Espírito Santo, uma estatística sobre a religião dos presidiários está sendo preparada pelo Grupo Interconfessional da Secretaria de Justiça, que é responsável por organizar a política de assistência religiosa aos presos do Estado. Mas, segundo o pastor Celso Godoy, que compõe esse grupo, o número de evangélicos ou ex-evangélicos que entram no sistema prisional não é alto, embora também exista.

“A grande maioria diz que é católica. Mas também são católicos que não freqüentam ou participam da igreja católica. Há muitos filhos de evangélicos também e pessoas que freqüentam igrejas evangélicas, mas é a minoria”, disse o pastor.

No Espírito Santo há 27 presídios e 311 voluntários religiosos cadastrados para dar assistência aos presos. Segundo o pastor, a Igreja Assembléia de Deus conta com o maior número de voluntários, juntamente com a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Batista e Tabernáculo. A Pastoral Carcerária, da Igreja Católica, e a Federação Espírita também prestam assistência religiosa nos presídios.

Para o pastor Celso Godoy há uma diferença em se confessar uma fé e realmente se converter. “Eu questiono a pesquisa feita em São Paulo. Uma coisa é a pessoa freqüentar uma igreja e até mesmo ser membro. Outra é ela se converter. Conversão é mudança de caráter, de conduta, de comportamento”, disse o pastor.

O Evangelho que transforma

Porém, se confessar a fé, passar a freqüentar uma igreja e até se tornar membro dela não tem sido suficiente para mudar o caráter e transformar a conduta de um indivíduo – de acordo com os dados obtidos na pesquisa de São Paulo – de quem é a culpa? Certamente não é da Bíblia, que ensina de forma clara qual deve ser o comportamento dos filhos de Deus.

No livro de Efésios, principalmente nos capítulos de 4 a 6, Paulo discorre sobre procedimentos, condutas, direitos e deveres recomendados à igreja, ou seja, ao povo de Deus. “Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade” (Ef 4:28). É óbvio que a Bíblia não está preocupada apenas com a salvação da alma, mas com a vida do homem por inteiro, em seu meio social. O Evangelho é integral e engloba a área espiritual, física, social, mental, emocional e social do homem (Lc 2:52).

A missionária Marta Passos, da 1ª Igreja Presbiteriana de Vitória, realiza há nove anos um trabalho de evangelização no sistema prisional capixaba. Ela também compõe o Grupo Interconfessional da Secretaria de Justiça.

Ela disse que ouve de muitos jovens que freqüentam igrejas evangélicas que esta não passa, para eles, de um grupo social, como tantos outros já existentes. Isso, de uma forma geral, inibe um total comprometimento com Deus e com seus valores. “Acredito que compromisso com Deus leva à transformação do caráter e consequentemente à transformação social. A igreja ao longo da história foi mudando seu perfil. Na igreja primitiva as pessoas tinham sede de Cristo, hoje as pessoas têm sede do que Cristo pode lhes dar, seja de ordem material ou emocional, não há uma busca por mudança de vida”, disse a missionária.

Dentro dos presídios, a situação ainda é mais complicada. “O que vejo é o entendimento equivocado de doutrinas bíblicas com usos e costumes. Valoriza-se muito mais a aparência do que a essência. Preocupa-se muito com vestimenta, mas a conduta de muitos é deplorável. Não se preocupam com valores como falar a verdade, cumprir com a palavra… Vivemos em uma época onde tudo é relativo, a Cruz de Cristo é apenas objeto de decoração ou um adorno que usamos no pescoço. Há a busca por um Evangelho emocional e não racional. A consequência é que quando acaba a emoção essas pessoas estão vazias, não têm uma base sólida de conhecimento das Escrituras, não sabem onde buscar refúgio. Tornam-se, assim, presas fáceis para o crime”, enfatizou Marta.

Capacitação

A falta de preparo da liderança também contribui, segundo Marta, para a transmissão de ensinos que não levam à mudança da sociedade. Da mesma opinião compartilha Mirian Rocha, coordenadora do Ministério de Justiça e Transformação da agência missionária Jovens com Uma Missão (Jocum). Ela cita Lucas 2:52, que diz que Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e diante dos homens.

“Vejo as práticas da igreja e não vejo que ela consegue enxergar as necessidades do homem de forma integral. Infelizmente, o trabalho da igreja é superficial e manco, não investe no social, no intelectual, porque para a igreja isso é secular, mas para Deus isso é sagrado”, disse Mirian.

Diante dos problemas que a sociedade enfrenta nos dias atuais, buscar a justiça social é, para Mirian, a única solução. “Quem leva a Bíblia a sério obriga-se a levar justiça social a sério também. Os líderes precisam estar engajados a interpretar a Bíblia de forma correta para que as intenções de Deus para os homens sejam conhecidas e cumpridas. A Bíblia nos dá ferramentas para a transformação social, para a transformação do indivíduo. Se a gente mostra um Deus que se preocupa com todas as áreas, eu acho difícil as pessoas saírem do caminho, porque elas passam a entender que Deus se importa com elas por inteiro”, disse Mirian.

E é por ter convicção nisso que ela coordena um seminário de transformação social para os missionários da Jocum e está organizando a 1ª. Conferência Estadual de Justiça e Transformação, para o segundo semestre. “Queremos despertar as pessoas, oferecendo ferramentas para facilitar a transformação de comunidades carentes e trazer o reino de Deus em toda sua plenitude”, completou a missionária.

O ensino transmitido nos púlpitos também preocupa o pastor Celso Godoy. “Se a gente pudesse comparar a igreja a um grande hospital, diríamos que ela tem muitos obstetras, mas poucos pediatras. É preciso ensinar princípios e aplica-los no dia a dia das pessoas, ensinar valores. Infelizmente, vemos muito charlatanismo, pessoas que se autointitulam pastores e distorcem a verdade, saem do foco e trazem vergonha para o Reino de Deus”, lamentou.

Ele concorda que a igreja precisa estar engajada com a sociedade para que os atuais índices sociais sejam transformados. “Não podemos separar o social do espiritual. Para Deus, tudo é espiritual, não há como dividir. Em nossa igreja temos atendimento odontológico, psicológico, assistência social e muitas outras coisas, porque a visão de Deus é essa: nosso dia a dia, nosso trabalho, nossa cultura, tudo é espiritual”, disse o pastor.

Em seu livro ‘Se Jesus fosse prefeito’, Bob Moffitt faz o leitor refletir sobre a atual situação da comunidade em que o mesmo vive e de como ela seria se Jesus fosse prefeito, ou seja, se os valores, princípios, leis e diretrizes do Reino de Deus fossem inseridos na comunidade.

“Nós não queremos apenas uma visão – mas a visão de Deus para o povo e o mundo que Ele criou e que ama… Jesus não estaria voltando literalmente em carne como líder comunitário. Ao invés disso, estamos imaginando o que aconteceria se o caráter, valores, leis e ensinos de Jesus fossem a base de governo para nossas comunidades… Jesus não estabeleceria uma teocracia ou um governo liderado pela igreja. Os indivíduos teriam livre escolha”, é o que diz um trecho do livro.

Não distante, o profeta Amós sugere a mesma coisa. Em seu livro ele expressa o desejo e o peso do coração de Deus. “Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!” (5:23-24). Isaías 58 também é um clamor para que isso aconteça. “O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo?” (v. 6).

Mais do que apenas pregar a Palavra, a missão da igreja e daqueles que a compõem é de levar o Evangelho por inteiro, transformar a sociedade, mudar os índices sociais e cumprir, em toda sua integralidade, a oração de Jesus: “Venha a nós o Teu Reino”.

O que Jesus faria se Ele fosse prefeito?

  • O que Ele faria pelos desabrigados e a as crianças de rua?
  • O que Ele faria a respeito do alcoolismo, abuso de drogas e outros vícios?
  • Como Ele fortaleceria as famílias?
  • Como Ele promoveria água potável, habitação adequada e alimento, serviços de saúde, sistemas de esgoto e coleta de lixo, e estradas apropriadas?
  • O que Ele faria quanto as crianças indesejadas e o cuidado com o enfermo e o idoso?
  • O que Ele faria para criar beleza – ruas limpas, árvores, flores e parques públicos?
  • Que mudanças Ele faria na educação?
  • Que novas decisões Ele tomaria sobre as políticas públicas?
  • Os ensinos dEle seriam televisionados? Ele faria “reuniões municipais” onde a sua agenda e os princípios do seu Reino seriam estabelecidos?
  • O que Ele faria sobre os crimes e conflitos civis? Que orientações Ele daria para à polícia e as relações comunitárias?
  • Que mudanças Ele faria nos tribunais? E nos sistemas penitenciários?
  • O que Ele faria sobre a desigualdade entre o rico e o pobre?
  • O que Ele falaria sobre as outras religiões?

Alguns questionamentos do livro ‘Se Jesus fosse Prefeito’

[important color=blue title=Dica de Leitura]

O Reino entre nós
Maurício Cunha
Ultimato

Cosmovisão Cristã e Transformação
Cláudio Antonio Cardoso Leite
Ultimato

Se Jesús Fuese Alcalde (Se Jesus Fosse Prefeito)
Bob Moffitt
Editorial Peniel[/important]

 

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