A igreja que ainda não se deu conta do quanto a “grande rede” mudou a vida das pessoas
A Igreja está perdendo uma grande oportunidade de ampliar sua área de atuação e descobrir como pescar novas vidas para Cristo.
O Brasil é o quinto país em número de usuários da internet. São mais de 66 milhões de pessoas conectadas, segundo pesquisa do Ibope Nielsen Online divulgada em dezembro de 2009. O número refere-se a acesso em todos os ambientes, como residências, empresas, escola, lan-houses, bibliotecas e telecentros. A implantação de programas de inclusão digital para baixa renda e a entrada das classes C e D de vez para o clube dos internautas deve fazer esse número disparar em pouco tempo.
A velocidade no acesso à informação tornou a internet o terceiro veículo de maior alcance no Brasil, atrás apenas de rádio e TV. De uns cinco anos para cá, é visível o quanto ela passou a fazer parte da vida das pessoas. Por meio dela, é possível saber tudo o que acontece no mundo, e de forma imediata. Por meio dos sistemas de buscas, encontramos respostas para perguntas em todas as áreas do conhecimento. As redes sociais explodiram, fazendo um mundo de pessoas trocarem informações, perfis e interesses em comum de forma antes nunca imaginada.
Mas quando o assunto é a relação da igreja com a internet, a notícia para o Brasil não é tão animadora, diferentemente do que acontece em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, agregando conceitos do marketing em diferentes setores da organização, as igrejas, de modo geral, exploram bem a internet.
Resultado de uma visão ampliada, como descreve o engenheiro e profissional de multimídia, Daniel Carlos Souza Ferreira. “Com a popularização da internet, cabe às igrejas investirem de maneira efetiva nessa ferramenta, como maneira de fidelizar seu público participante e ampliar seu campo de evangelização”.
Os benefícios que a internet proporciona são inúmeros como, por exemplo, disseminar as atividades, programas especiais da igreja, evangelização direta, educação, notícias, estudos, aconselhamento…
“Tudo isso pode ser direcionado para grupos específicos: adolescentes, casais, jovens.
Embora a realidade virtual do espaço cibernético não possa substituir a comunidade interpessoal, a internet pode completá-la e ser um atrativo. Comunhão é relacionamento e isso a internet não faz. Mas, por meio dela, é possível unir as pessoas”, disse o Pr. Nelson Junior, da Rede de Mobilizações e Amigos do Noivo.
Exemplos de sucesso
Sites e redes sociais são ferramentas cada vez mais usadas para atrair pessoas e divulgar serviços. O Twitter (microblog) tem sido utilizado por alguns pregadores para propagar o Evangelho. Igrejas americanas já aderiram ao serviço de SMS no celular. Pastores da Igreja da Comunidade de Westwinds, em Michigan (EUA), passaram duas semanas ensinando pessoas da congregação a usar o Twitter e mostrando como funciona o envio de mensagens de até 140 caracteres.
Além de servir como meio de cativar novos fiéis, o Twitter tem sido difundido dentro das comunidades religiosas também para que os integrantes criem perfis e os atualizem com suas mensagens. Até agora, 150 dos 900 integrantes já aderiram ao microblog em Westwinds. A igreja também incentiva os fiéis a fazerem perguntas sobre assuntos relatados no sermão do dia, para que o pregador responda aos questionamentos através do Twitter de forma a que, mais tarde, todos possam ler a resposta e “twittar” suas opiniões sobre o tema.
Nos cultos dominicais, mensagens de fé são “twittadas” pelo menos seis vezes durante os encontros religiosos e podem ser lidas em três grandes telas instaladas no local. Outra igreja, em Charlotte, na Carolina do Norte, vai um pouco além e promove a “Twitterfests”, com um encontro de twitteiros religiosos da comunidade.
Em Nova York, na Igreja Trinity, o uso do Twitter na última Páscoa foi feito para relatar a passagem bíblica da morte e ressurreição de Jesus Cristo pelo microblog. Durante as três horas da exibição da peça que retratava a história da Páscoa, os fiéis puderam receber informações sobre os principais personagens pela rede social.
Na Igreja Mars Hill, em Seattle, a congregação é estimulada a mandar mensagens durante os sermões para o perfil oficial da igreja no Twitter. De acordo com Kyle Firstenberg, o administrador da congregação, a participação dos fiéis e a postagem de comentários “é uma boa maneira de dizer aos seus amigos o que ocorre na igreja e deixá-los a par disso mesmo que eles não frequentem o local”.
Recentemente, o cardeal Sean Brady, líder dos católicos romanos da Irlanda, pediu a utilizadores da rede social que começassem a enviar orações todos os dias por mensagem de texto, Twitter ou e-mail, ampliando ainda mais a utilidade do Twitter, conforme informou o jornal Telegraph.
“Santo” de casa faz milagre, sim
O Brasil está um pouco distantes da realidade de algumas igrejas internacionais, mas a partir do momento em que a liderança da Igreja Evangélica entender que a propagação do Evangelho pode, sim, ser feita pela internet muitas vidas serão impactadas.
“Geralmente há sites e redes sociais de denominações que acabam não alcançando o público de forma ampla. Só acessa aquela rede quem está ligado a ela. Sites específicos e redes sociais têm formas diversificadas de comunicação”, destaca Daniel Carlos.
A Rede de Mobilizações coordenada pelo pastor Nelson Junior é um exemplo de sucesso por meio dessas ferramentas. Em um ano de atuação no Estado, a Rede alcança 40 mil pessoas, que recebem informações sobre os encontros por meio de diferentes canais digitais (blog, site, Twitter, ning, Orkut, facebook).
“O nosso principal instrumento de mobilização é a internet. Em uma hora por dia, atualizo as informações e divulgo para a rede toda. Tudo isso de forma rápida e sem custo. Investir em TV e rádio é caro. Com a internet, crio uma rede de relacionamentos em que pessoas interessadas no ministério participam e ajudam a divulgá-lo”, falou Nelson Jr.
O site da Primeira Igreja Batista de Vitória (PIBV) é uma referência no Estado em termos de informações e variedades para o internauta. Possui rádio online, transmissão do culto ao vivo através da TV Primeira, calendário de eventos, acesso ao twitter da igreja e uma série de informações sobre suas atividades.
A transmissão dos cultos pela web começou em comemoração aos 100 anos da igreja, em 2003. Hoje, são transmitidos os cultos da manhã e da noite aos domingos, e também casamentos, formaturas e outras programações, quando solicitado. DVDs são gravados com as imagens transmitidas pela TV Primeira e vendidos para quem encomendar.
Os acessos à TV Primeira, aos domingos, chegam a 250 por culto. No meio da semana, no site da igreja, são cerca de 200 por dia. Nos cinco dias de apresentação, o musical “Árvore que canta”, tradicional evento realizado pela PIBV, teve 3.900 acessos na última edição – uma média de 780 por dia, feitos por internautas de 14 países. Pessoas em lugares tão diferentes quanto o Egito e a Áustria assistiram.
Evangelização é a palavra-chave da igreja online. Tanto assim que nos últimos três meses está transmitindo os cultos com uma “janela” na tela, onde é exibida a imagem de um intérprete de Libras, a linguagem dos surdos e mudos. É o recurso “Picture in Picture”, só disponibilizado na hora da mensagem.
“Em agosto de 2009 fizemos uma grande reformulação e de lá para cá 72 países já acessaram o site. Ao todo, foram 810 cidades pelo mundo”, informou Cleferson Comarela Barbosa, ministro de Comunicação da PIBV.
Um investimento em site de destaque no meio evangélico nacional é o portal lagoinha.com. Em operação desde junho de 2001, o portal tem, em média, 18 mil acessos por dia e possui um conjunto de serviços para o público.
São 16 pessoas envolvidas no funcionamento do portal, que se tornou uma referência em conteúdo cristão. Segundo o coordenador do site, Luciano Buchacra, o site da igreja mineira é mais acessado por pessoas que buscam informação e aprendizado. Isso porque seu forte é a oferta de conteúdo cristão.
No lagoinha.com, é possível encontrar rádio online, bate-papo e uma infinidade de estudos bíblicos. “Temos ferramentas variadas, mas o nosso internauta gosta de ler e busca crescimento espiritual. É nisso que investimos diariamente. Buscamos temas da atualidade sob a ótica cristã e tem sido um sucesso”.
Atendendo à crescente demanda por redes sociais, a Igreja Universal do Reino de Deus lançou a Comunidade Universal – um espaço aberto que promove o diálogo entre membros e que possui um leque variado de opções para criar esta interação.
Além de fotos, vídeos e fóruns, a rede da Universal permite que cada membro crie seu próprio blog e poste eventos que são exibidos na página principal, além de fomentar a participação em tempo real dos convidados com um chat.
Os idealizadores destacam que a nova rede social é a melhor opção para os que desejam interagir em um ambiente espiritual e moderado, sem perder a agradável maneira de se relacionar na web.
O site de relacionamento Largevia quer virar moda no mundo, a exemplo do Orkut, só que voltado para o público cristão. Com um pouco mais de dois anos de funcionamento, disponibiliza botões de denúncias em todas as páginas e ajuda no controle do uso por parte das crianças com o filtro de palavras indesejadas, entre outros tipos de ferramentas.
A plataforma Largevia ainda possui diferenciais específicos, como opção para criar blogs, postagem de músicas, alternativa de mudanças de layout do perfil e acesso a outras redes (You tube, Facebook e Twitter). No Largevia o usuário pode “twitar” e receber seus “tweets” diretamente no seu perfil. O site também oportuniza promoções e oferece mais de três mil jogos gratuitos, classificados e envio de presentes virtuais, entre outros atrativos.
Como a igreja pode começar
Para a igreja que deseje estar adequadamente conectada com o mundo, é importante começar por um bom planejamento e recorrer a profissionais especializados. Mas o maior desafio para quem quer ter um site é prover seu conteúdo, conforme relata o especialista Cleverson Gouvêa. “Geralmente, as igrejas não querem contratar os serviços de uma empresa especializada. Além de o site não ficar bom, passa a ser uma página inoperante, com informações desatualizadas e nada atraente.”
É comum surgir entre os membros da igreja aquela figura que fez um “cursinho de web” e se voluntaria a criar o site para a instituição. Começa a desenvolver e não termina, ou desenvolve-o totalmente sem funcionalidade. Resultado: o site fica no ar, mas ninguém atualiza, ninguém acessa e a igreja continua fechada em si mesma.
“Se um não crente entrar na página, não vai ter despertado o desejo de ir naquela igreja”, comenta, com bom humor, o técnico Daniel Carlos Ferreira. “Então, se a congregação não pode gastar com um serviço profissional, é preciso ter um membro voluntário que veja na sua atividade um ministério que precisa dar frutos. Seja num site ou rede social, ele precisa colocar-se a serviço do Reino e planejar seu trabalho com ritmo, coragem e compromisso”, ensina.
Cleverson Gouvêa ressalta que antes de a igreja decidir ter um site ou uma ferramenta de rede social é preciso definir seus objetivos. “Responder à pergunta: ‘qual é a necessidade da igreja?’ é essencial. Depois disso, vem a busca por informação, a partir de um profissional especializado. O conteúdo é um compromisso da igreja e deve ser publicado com critério. No caso de um site, a empresa pode gerenciar o conteúdo, mas não tem como ir atrás da informação. Isso deve ser feito por uma pessoa da igreja, que esteja antenada com tudo o que acontece na comunidade”.
É válido lançar mão da internet de maneira criativa, ajudando a igreja a cumprir a sua missão. “A internet tem recursos que atendem às necessidades de todas as igrejas. É uma ferramenta ministerial importante para o serviço de pastores e líderes. Sua capacidade de alcance é incrível. Por meio de um site ou rede social, a verdade de Jesus pode ser anunciada para todas as pessoas e perfis”, finaliza o pastor Nelson Jr.
Dicas para estar no mundo virtual
A igreja precisa constituir uma equipe voltada para a comunicação. Uma equipe que vai traçar as formas de atingir todos os setores da igreja, bem como comprometer-se com a atualização da ferramenta escolhida.
Para publicar um site, é importante procurar um profissional da área. Não se iluda com pessoas que veem a atividade como lazer ou hobby. É preciso profissionalismo para atingir os objetivos.
- Orkut e Facebook: é preciso mantê-los atualizados, propor fóruns, postar fotos de eventos, lembrar dos aniversariantes toda a semana, criar comunidades, provocar interação.
- Twitter: ficar um dia sem inserir informação traz o risco de ser esquecido. O ideal é “twitar” todo dia e chamar para todas as atividades e ferramentas de comunicação que a igreja tenha. É preciso lembrar que a igreja é como uma empresa, que precisa conversar com seu público. E, da mesma forma, tomar cuidado com o que fala e estar pronto para ouvir algo bom ou ruim, pois o Twitter amplia a voz do público.
- Youtube: é possível gravar os cultos de domingo e postar. Mas um culto inteiro fica cansativo. É importante colocar as mensagens em trechos de 10 minutos, uma música especial e vídeos interessantes para o público da igreja. Além do Youtube, existem outros sites do mesmo gênero, mas menos populares, como o brasileiro Videolog e o Vimeo.
- MySpace: muito utilizado por músicos e bandas, pode ser usado para divulgar o trabalho musical da igreja.
- Ning: é possível criar uma rede social da própria igreja.
- Flickr: ferramenta gratuita, mas que oferece a possibilidade de se comprar uma conta e, com isso, obter alguns benefícios extras (mais espaço, por exemplo). É um ótimo lugar para colocar fotos e tem um visual mais bonito que os fotologs tradicionais.
- Blogs: são um grande espaço e permitem utilizar várias ferramentas, desde o “diário da igreja” até um site inteiro, suportado por ferramentas como WordPress e Joomla!. Há o Blogger.com.br<http://blogger.com.br/>, Blogspot.com, WordPress.com, todos gratuitos. Tumblr.com: é uma ferramenta de blogagem bem simples, que permite fotos, vídeos e textos.
- Tags: são palavras-chave. Todas essas ferramentas hoje têm espaço para colocar tags nas fotos, posts etc. Ajuda na busca dentro do próprio site e, quando alguém procurar aquele termo no Google, pode direcionar para o site.
Fonte: Rina Noronha, editora do site iMasters
A MATÉRIA ACIMA É UMA REPUBLICAÇÃO DA REVISTA COMUNHÃO. FATOS, COMENTÁRIOS E OPINIÕES CONTIDOS NO TEXTO SE REFEREM À ÉPOCA EM QUE A MATÉRIA FOI ESCRITA.