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domingo, 16 DE fevereiro DE 2025

Guerra agrava crise demográfica e enfraquece economia da Rússia

Guerra agrava crise demográfica e enfraquece economia da Rússia - Foto: Sergey Guneev/Kremlin Pool Photo/Sputnik/AP
Guerra agrava crise demográfica e enfraquece economia da Rússia - Foto: Sergey Guneev/Kremlin Pool Photo/Sputnik/AP

Além disso, há relatos de que mais de 19 mil crianças ucranianas foram raptadas e levadas para a Rússia

Entre os objetivos de Vladimir Putin ao invadir a Ucrânia, reduzir o déficit populacional da Rússia parecia um dos principais. O país vive uma crise demográfica desde o fim da União Soviética. Mas, se Putin vislumbrava ganhar mais habitantes com as anexações de territórios, o resultado foi o oposto. Hoje, a economia russa tem uma perspectiva sombria, com fuga da mão de obra qualificada e a morte de jovens que poderiam estar no mercado de trabalho.

Um levantamento da revista The Economist mostra que, com a mortalidade durante a pandemia, as baixas da guerra e a fuga de cérebros durante a mobilização militar, a Rússia perdeu entre 1,9 milhão e 2,8 milhões de pessoas entre 2020 e 2023. Essa projeção não envolve o encolhimento natural da população, resultado de uma taxa de natalidade baixa e de mortalidade alta

No ano passado, Putin anexou por decreto quatro províncias ucranianas: Luhansk, Donetsk, Zaporizhzia e Kherson. Em fevereiro, um deputado russo anunciou que Moscou forneceu 770 mil passaportes para pessoas que vivem na contestada região de Donbas.

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Além disso, há relatos de que mais de 19 mil crianças ucranianas foram raptadas e levadas para a Rússia. A estratégia não é nova. Ao tomar a Crimeia, em 2014, a Rússia incorporou 2,4 milhões à sua contagem nacional, elevando sua população para 147 milhões.

Força de trabalho

“O impacto da baixa fertilidade na economia vem depois, quando o tamanho da força de trabalho não é grande o suficiente para suportar o tamanho da população que está envelhecendo”, alerta Sunnee Billingsley, especialista em demografia da Universidade de Estocolmo.

Putin já vinha tentando nos últimos anos compensar o problema da baixa fertilidade na Rússia com trabalhadores migrantes da Ásia Central. A Rússia colhe hoje o impacto da baixa fertilidade após o colapso da União Soviética. “Desde então, não nasceram crianças suficientes para se juntar à força de trabalho depois de adultas”, explica Billingsley. Mas o plano não foi suficiente e agora os migrantes dos quais muito dependia a economia russa desapareceram por causa da guerra.

No fim de 2022, Putin ordenou a elaboração de medidas para aumentar as taxas de natalidade e a expectativa de vida na Rússia. Nos últimos três anos, a expectativa de um homem russo de 15 anos caiu quase 5 anos, para o mesmo nível do Haiti.

Mas, poucos dias depois da determinação de Putin, veio o anúncio do Ministério da Defesa de que a idade em que os homens russos seriam recrutados para o serviço militar obrigatório passaria de 18 para 20 anos e o limite máximo de idade para recrutamento passaria de 27 para 30 anos.

“Isso significa que jovens seriam convocados após obter seus diplomas universitários e especialistas treinados seriam retirados do mercado de trabalho para ter suas habilidades anuladas pelo serviço militar”, explicou o analista russo Andrei Kolesnikov, em artigo publicado pelo centro de estudos Carnegie Endowment for International Peace.

Segundo o analista, há uma grande discrepância entre esses dois objetivos. “Se os homens vão para a guerra ou emigram em massa, em vez de procriar, de onde virão os filhos?”, questiona em seu artigo. O efeito no mercado de trabalho também será grave. O recrutamento em uma idade tão produtiva suga a força de trabalho de uma economia que já deve perder de 3 a 4 milhões de pessoas de 20 a 40 anos até 2030 (em comparação aos dados demográficos de 2020).

“Seria um erro pensar que isso não afetaria os indicadores qualitativos e quantitativos do PIB russo, da renda familiar e da qualidade do capital humano. Há uma segunda guerra em curso em casa.”

Algumas das razões para os problemas demográficos da Rússia refletem uma dinâmica histórica: o número de mulheres em idade reprodutiva está caindo e a idade média em que as mulheres têm filhos está aumentando continuamente em populações urbanas, bem-educadas e modernizadas, com tendência a ter menos filhos, como explica Kolesnikov.

Guerra

Billingsley, que também é diretora de Estudos de Doutorado do Departamento de Sociologia e da Unidade de Demografia da Universidade de Estocolmo, afirma que a Rússia precisaria que as famílias tivessem dois filhos para compensar minimamente as perdas. “Seria desastroso se o compromisso das mulheres russas em ter o primeiro filho também enfraquecesse como resposta à guerra”, disse. “Mas Putin tem o poder de promulgar políticas e espalhar propaganda que poderiam muito bem aumentar a taxa de natalidade.”

A Rússia tem algumas das taxas mais altas de conclusão da educação entre os maiores de 25 anos, mas o êxodo de jovens com diploma pode anular essa vantagem. Segundo dados do Ministério das Comunicações, 10% dos trabalhadores – na maioria, homens jovens – deixaram a Rússia em 2022.

Nascimentos

Kolesnikov cita o diretor do Instituto de Demografia da Escola Superior de Economia da Rússia, Mikhail Denisenko, que projetou que um ano de serviço militar para os 300 mil homens mobilizados em setembro e outubro de 2022 significará 25 mil nascimentos a menos.

Esse número pode aumentar significativamente como resultado da emigração, do declínio de longo prazo nas taxas de natalidade e novas mobilizações de reservistas. Nesse contexto, sanções impostas pelo Ocidente podem levar o país à recessão e a uma turbulência econômica duradoura, que pode fazer com que as pessoas adiem ou até desistam de ter filhos. “A invasão (da Ucrânia) foi uma catástrofe humana – e não apenas para os ucranianos”, conclui a Economist.

Com informações Agência Estado

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