Mais uma da série Arena VOS. Especialista em darwinismo digital prevê o desaparecimento de 40% das 100 maiores empresas do mundo por falta de adaptação à evolução das tecnologias digitais.
Gestão Sustentável. “Nos próximos 10 anos, 40% das empresas listadas entre as 100 maiores pela Forbes vão desaparecer”. Mais do que um prenúncio apocalíptico, a previsão do consultor empresarial Carlos Piazza é um retrato da dificuldade que muitas corporações estão enfrentando para se adaptar ao chamado mundo Vuca (Volátil, Ubíquo, Complexo e Ambíguo). Ou seja, uma realidade em que as transformações digitais ocorrem de forma cada vez mais aceleradas, o que torna necessário e urgente um poder de reação por parte de indivíduos e empreendimentos.
O alerta do especialista em Darwinismo Digital foi dado durante a terceira edição da Arena VOS (Vários Olhares Singulares), evento promovido pela Vale, no Parque Botânico. “Sustentabilidade não é só fazer com que pessoas mudem hábitos e atitudes. As empresas também precisam propor outras formas para que você possa consumir coisas”, afirma Piazza. “Sustentabilidade, nas corporações, tem a ver com a sua capacidade de sobrevivência”.
Pilares da gestão sustentável
O consultor lembra que sustentabilidade envolve os pilares ambiental, social e econômico. “Conseguimos compreender bem a interseção dos pilares socioambiental e socioeconômico, mas não o do econômico com o meio ambiente, chamado de ecoeficiência. Esquecemos de olhar que a inovação está justamente no pilar econômico. É o canal mais sensível de todos, principalmente para as empresas que não conseguem se ressignificar nesse momento de aceleração digital”, observa Piazza.
Para complicar ainda mais, o consultor cita a existência de padrões de comportamento na sociedade que levam a pensar que o lucro é feio e não deveria existir. Esquecem-se que, somente com dinheiro em caixa, uma empresa é capaz de subsidiar inovações.
“Se a empresa está no vermelho, não consegue pensar no verde, no meio ambiente. Uma corporação sem capacidade lucrativa não tem sustentabilidade”, salienta o especialista em darwinismo digital. “Por isso as empresas têm um compromisso inadiável com a sustentabilidade como um modelo de gestão. A perenidade empresarial depende da ecoeficiência. Tudo o que vem de fora para dentro, em termos tecnológicos, pode fazer com que as corporações deixem de existir, daqui um tempo. Daí a necessidade de sempre estar inovando”.
Para ser ecoeficiente, a empresa precisa ter a consciência de que toda produção deve ser acompanhada de uma prestação de serviço socioambiental. Por isso, Piazza orienta, a sustentabilidade empresarial deve ser baseada no tripé programa social, crescimento econômico e gestão ambiental.
“Sem isso, modelos inteiros de negócios vão para o vinagre em curto espaço de tempo”, adverte o consultor. “Muitas empresas estão passando por maus momentos na razão de existirem, porque a tecnologia já tirou muitas delas da zona de conforto”.
Na visão do darwinista digital, a sustentabilidade empresarial, aliada à inovação, torna-se um poderoso antídoto para o esgotamento da visão das empresas ainda marcadas pelos sistemas de gestão pré-internet, onde a competição prevalece, em sistemas fechados, sem trocas com o nível intenso de mudança no meio externo.
Disrupção na gestão sustentável
Logo, o processo da sustentabilidade deve ser repensado para garantir que as pessoas tenham mais protagonismo. “Isso envolve a possibilidade de ouvirmos o que elas têm a dizer. Assim cria-se um processo de inteligência compartilhada em uma sociedade que está mudando o tempo todo”, explica o consultor.
Atento às palavras de Piazza, durante a Arena VOS, Vilmar Teixeira de Abreu, gestor executivo da EDP, citou uma música da Legião Urbana para ilustrar o momento de aceleradas transformações digitais no mundo. “Como cantou Renato Russo, o para sempre sempre acaba. Na palestra de Piazza, ficou claro que as coisas vão mudar. Novas tecnologias estão chegando. A gente tem de absorver essas mudanças e fazer parte delas”, reconheceu Vilmar.
Na EDP, o gestor já percebe os efeitos dessas mudanças. “No setor elétrico, as tecnologias estão mudando. Surgem fonte renováveis, com o cliente gerando a sua própria energia. A gente tem de entender que a mudança é constante. Temos de fazer parte dela para conseguir sobreviver”.
Tudo isso faz parte do conceito de Indústria 4.0, que, de acordo com Piazza, exige uma adaptação ao mindset digital. “Mindset Digital é falar sobre pessoas. É muito diferente da forma analógica de se pensar. É saber quando e como usar tecnologias digitais e quando parar de usá-las. Tecnologia é meio, elas vêm e vão. O foco é na visão dos benefícios que elas trazem às pessoas”, ensina o darwinista digital. “A quarta revolução industrial chama a atenção que não temos precedentes históricos sobre o que veremos acontecer”.
Nessas horas, Robson Melo, presidente da Fundaes (Federação das Fundações e Associações do Espírito Santo) e diretor do Instituto Aplysia de Soluções Ambientais, recorre ao conhecimento de suas netas. “A proposta de pensar em sustentabilidade é de extrema relevância, principalmente levando em consideração as gerações que virão. Como avô que sou, aprendo muito com a geração das minhas três netas. São elas que vão usufruir de todas essas mudanças”, revela Robson.
O que Piazza decreta é que o sucesso das empresas, nesse mundo VUCA, depende fundamentalmente de três fatores: conectividade e uso massivo de dados, uma inteligência focada em ambientes colaborativos e foco inexorável no ser humano. “O futuro está colocado nestes termos hoje”, garante. “Esse caminho é sem volta. Não há chance de retrocedermos ao que era antes”.
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